"Então vem.
Descansa em mim o peso dos teus medos,
da tua solidão, dos teus amores frustrados
e pré-ocupe-se de mim.
Faça morada no meu colo que te acolhe, nos meus lábios
que te domam,nos meus braços que te esperam (...)"
Marcelle MeloQuando Vicente a deixou em casa naquela manhã, havia encontrado a casa vazia, exceto pela mãe, que estava caída na sala, emporcalhada com seu próprio vômito.
A ajudou a se levantar, como sempre fazia, e a deixou em sua cama, depois, com um pano úmido, limpou o que conseguiu em seu corpo e saiu para avisar Vicente que ficaria bem. Não quis alarmá-lo e dizer que os irmãos e o pai não estavam em casa, pois realmente acreditava que sua aventura com o espanhol não teria sido notada.
Claro que no fundo estava tentando enganar a si mesma.
Os pais poderiam nem ter se dado conta de sua ausência, mas se Bruno e Giovani ainda estivessem por ali, as coisas poderiam se complicar.
Viu o táxi se afastando e voltou para dentro de casa, a fim de limpar a sujeira deixada por sua mãe.
Apesar de acostumada àquela rotina, estava farta de viver daquela forma. Nunca havia recebido afeto de sua família, apenas obrigações e responsabilidades que foram jogadas em suas costas mesmo quando não tinha idade o bastante para lidar com tudo aquilo. Era comum ver os pais caindo de bêbados. Era automático limpar vômitos e recolher objetos quebrados pelo chão — causados por acidentes ou simplesmente pela fúria do pai, que tinha um péssimo temperamento e jogava tudo o que encontrava em seu caminho. Estava acostumada a ter os irmãos em casa de tempos em tempos e viver sob constante tensão, com medo até de respirar, mas estava esgotada. Era errado demais desejar fugir de tudo? Era errado demais querer uma vida normal?
Enxugou uma lágrima que desceu de forma inoportuna e terminou a limpeza, então foi para seu quarto, onde ficou pelo resto do dia.
Respondeu algumas mensagens que Vicente mandou, garantindo que estava tudo certo, mas sem estender demais a conversa pois sabia que ele estava com as irmãs e os sobrinhos.
Ficou encarando o teto de seu quarto, contando quantos furos encontrava nas telhas e acabou pegando no sono. Não havia descansado o bastante nas noites anteriores, também não havia notado o quão cansada estava, primeiro, porque estava eufórica com a companhia de Vicente, aproveitando de todas as formas o que o espanhol queria lhe oferecer; depois, esteve tão tensa, com medo do que encontraria ao chegar em casa, que tudo o mais não importava. Mas, ao passo que as horas iam passando e não tinha nenhum sinal dos irmãos e do pai, o corpo foi relaxando, e ela finalmente cedeu ao cansaço.
Acordou desnorteada, mas assustada com o rompante do pai, que invadiu seu quarto completamente bêbado e gritando impropérios.
— Vagabunda! Eu não criei filha para ser puta de ninguém! — Só teve o impulso de proteger o rosto, prevendo que o homem desferiria tapas e socos, mas nada aconteceu. Levantou o olhar para ver Bruno segurando o pai, que ainda gritava a plenos pulmões. — Está te faltando alguma coisa pra virar puta, garota? Achou que ia manter sua safadeza escondida? Viram você entrando em um táxi com aquele bacana, irmão da sua patroa, e hoje ele te deixou aqui na porta. Se queria fazer coisa errada, ao menos se escondesse melhor para poupar sua família dessa vergonha! — O velho estava fora de si, gritando e se debatendo enquanto era contido pelo filho, mas, como um vulto, Giovani atravessou a porta e avançou sobre ela.
Bruno só teve tempo de jogar o pai para longe e correu para tirar o outro de cima dela, então iniciaram uma briga corporal, rolando pelo chão do quarto que pareceu ainda menor com os dois homens se socando, enquanto Bianca só olhava tudo petrificada, enconlida perto da cama, com lágrimas grossas caindo por seu rosto.
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Vivendo Um Sonho [Desejos Ardentes - Livro Três] - CONCLUÍDA
RomanceBianca cresceu em uma família desestruturada. Com pais alcoólatras e irmãos dependentes, a garota negligenciada optou por ter uma vida diferente, encontrando em Mariana e Tessália, o apoio que desejava. Vicente nasceu em berço de ouro, entretanto, o...