Capítulo 23

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Ao terminar de ler a mensagem, eu mal conseguia segurar o celular, minhas mãos tremiam freneticamente e eu já sentia um pico de ansiedade me atingir, comecei a suar frio e o ar entrava com certa dificuldade. Mas a adrenalina percorreu o meu corpo e eu apenas obedeci as descargas. Peguei a bicicleta e pedalei o mais rápido que pude, sentia como se o mundo desabasse sob os meus pés cada vez que me lembrava das palavras de Samuel "por hoje, eu não quero mais tentar...". O caminho não passava de um borrão, pois lágrimas enchiam e embaçavam meus olhos, meu peito doía e eu só pensava nele. Ele não poderia fazer isso, ele não poderia me deixar agora... eu tinha que correr.

Enquanto descia a trilha para a cachoeira, liguei para a emergência:

— Preciso de uma ambulância na Alameda Ortis 546, rápido! eu estava em pânico e isso foi o suficiente para a atendente apenas concordar.

Cheguei a cachoeira e me senti aliviada por alguns segundos, pois ele não estava ali, então corri para a trilha que levava a sua casa e praticamente arrombei o portão quando o atingi. Eu não tinha controle do meu corpo, meu coração batia muito rápido, minha cabeça doía e eu hiperventilava. Eu precisava salvá-lo, mesmo que eu me arrebentasse por dentro, se eu tivesse uma chance de salvar a vida dele, já valeria a pena. Eu não iria perdê-lo, não hoje!

Antes de alcançar a escada que levaria a casa, uma força sobre humana me atingiu, eu simplesmente senti que não o encontraria lá dentro e algo me impulsionava para uma área à direita em que eu não conhecia. Havia respingos de sangue por todo o caminho e ao notar as manchas fui o mais rápido que pude. Eu não tinha controle nenhum sobre minhas ações, meus músculos se moviam sozinhos. E então eu o vi e a partir desse momento, a Carolina não estava mais no controle, mas sim o desespero em salvá-lo.

NÃÃÃO! gritei ao vê-lo sentado na parte mais rasa da piscina.

A água estava em um tom avermelhado e ao me ouvir Samuel abriu os olhos e esboçou um sorriso já sem forças, os pulsos pendiam estendidos sobre a água com dois grandes cortes verticais.

Os segundos seguintes passaram-se em câmera lenta. Enquanto eu corria desesperadamente em direção a piscina, pequenos flashes de nossos momentos passaram a minha frente.

Nossa primeira tarde juntos na cachoeira...

Tumtum

Seu primeiro sorriso para mim...

Tumtum

Nosso primeiro filme juntos...

Tum tum

Seus presentes...

Tum

Nosso primeiro beijo...

...

Seus olhos se fecharam lentamente, seu corpo deslizou mais ao fundo e o sorriso fraco desapareceu de seu rosto. Foi nesse momento que o vi ao seu lado, era como se fosse uma duplicata ou um anjo da guarda. Seu semblante era preocupado e demonstrava pesar. Eu o alcancei e a imagem soprou ao meu ouvido enquanto desaparecia:

Salve-o!

Eu sei que não teria forças suficientes para o tirar da água, mas naquele momento eu poderia arrastar uma tonelada sem nenhuma dificuldade. Eu o puxei e deitei-o ao chão, seu corpo estava extremamente frio, seu pulso estava ausente e ele não respirava...

— Você não pode me deixar agora... acorda — chorava desesperada enquanto fazia as manobras de ressuscitação cardiopulmonar.
— Samuel, por favor...

E de repente, o socorro chegou, correram em nossa direção e me afastaram, tomando meu lugar nas manobras ininterruptas. Eu apenas me debatia descontrolada, nos braços de um dos socorristas.

Agora eu quero partirOnde histórias criam vida. Descubra agora