Seis e meia da manhã, hora de levantar e descer pro café. Minha tia, saía para o trabalho às sete, portanto a mesa do café sempre estava posta. Fazia quatro meses que eu estava morando com tia Anne, uma mulher firme e bem resolvida, tinha seus trinta e cinco anos mas com o corpo e rosto de vinte, era dona de uma floricultura muito conhecida, da qual eu lhe ajudava a cuidar durante a manhã quando era necessário, o que raramente acontecia. Como eu estudava à tarde a parte da manhã era toda minha.
Tomei meu café da manhã sossegadamente, como pontualmente às sete tia Anne saiu, lavei toda a louça, arrumei meu quarto e corri para apanhar minha bicicleta, já que era hora do meu passeio matinal.
Todos os dias, saía de bicicleta e percorria a estrada que havia atrás da casa de tia Anne, antes eu pedalava até as casas que ficavam no fim da longa rua, no entanto desde que descobri que abaixo da estrada, bem escondida pelas árvores havia uma trilha que levava a uma cachoeira, nunca mais cheguei nas casas.
Descobri-a por acaso, quando em um domingo em que estava chateada, perdi o controle da bicicleta e acabei caindo no mato; bem ao longe ouvi um barulho de água e ao ver uma trilha que descia uma ribanceira atrás de umas árvores, resolvi seguir e ver onde ela me levaria. E assim, encontrei meu destino de toda manhã.
×××
Era uma fresca sexta-feira, não havia previsão de chuva por pelo menos 3 dias, portanto resolvi levar roupa de banho para dar um mergulho.
Cheguei no local onde havia caído no dia em que descobri a trilha, desci um pouco o estreito caminho empurrando a bicicleta, escondi-a atrás de umas árvores e continuei o percurso. O mato estava alto, portanto tive que tomar um bocado de cuidado para não pisar em nada suspeito.
Conforme avançava, o barulho da queda d'água ficava mais forte e minha ansiedade por um mergulho também aumentava. Porém ao me aproximar do local em que costumava ficar, percebi que não era a única a visitar a cachoeira naquela sexta-feira. Imediatamente um misto de medo e decepção me atingiu, minha primeira reação foi voltar um pouco para o mato que me cobriria caso o intruso resolvesse olhar para o lado. Sabia que deveria ir embora, mas minha curiosidade me impulsionou a espionar o indivíduo.
Era um garoto de mais ou menos 16 anos, tinha os cabelos escuros e a pele clara, estava usando um jeans e uma camiseta azul escura, notei que segurava uma foto e a olhava fixamente. Fiquei intrigada com a cena e queria saber quem ele era e por que estava ali, mas estava com medo até de respirar.
De repente, ele olhou para minha direção mas olhava para uma área em que eu não estava visível para ele; um pássaro pousou em uma pedra e isso foi o que chamou sua atenção. Fiquei imóvel e quase não respirava, mesmo sabendo que ele não me veria. Pude observá-lo melhor, apenas por um instante. Ele era bonito, tinha os olhos escuros e um semblante triste, notei que esteve chorando, pois seus olhos estavam inchados e seu nariz vermelho. Nesse momento, minha curiosidade chegou a um novo patamar.
Para minha surpresa, o garoto se levantou, limpou a calça, guardou a foto no bolso e saiu em direção as árvores à esquerda. Continuei onde estava, imóvel e em silêncio. Vi o estranho sumir entre as árvores, e esperei por um tempo que me pareceu longo o suficiente para ter certeza de que o garoto havia ido embora.
Saí de meu esconderijo com muito cuidado, sentei-me no mesmo lugar onde ele esteve minutos atrás e fiquei olhando a água, estava muito intrigada a respeito do menino e várias interrogações surgiram na minha cabeça.
Por fim, resolvi voltar para casa, fiquei apreensiva com o garoto, medo de que ele talvez pudesse voltar e me ver ali nadando, além do mais, estava curiosa demais para pensar em entrar na água. Subi a trilha de volta, peguei minha bicicleta em meu esconderijo e voltei para casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Agora eu quero partir
Romansa"E foi com lágrimas nos olhos que eu os deixei partir..." Carolina, uma típica adolescente em seu último ano escolar e Samuel, um jovem misterioso que guarda um segredo muito doloroso sobre seu passado, capaz de fazê-lo tentar contra a própria vida...