Agora eu quero partir

Capítulo 25

O dia mal amanheceu e eu já havia me aprontado, tomado o café da manhã e aguardava ansiosa por Leo. Nós iríamos juntos ao hospital dessa vez. Estávamos muitos esperançosos de que as recordações pudessem ancorar Samuel de volta para nós.

7:30 e Leo buzinou, tia Anne já havia saído para o trabalho e me fez prometer que contaria caso Samuel reagisse outra vez. Seguimos em silêncio para o hospital e quando chegamos no quarto para trocarmos de lugar com Alice e Henrique, recebemos a notícia que ele havia mexido os olhos durante a noite. Ficamos todos em êxtase, Samuel realmente estava dando sinais, se isso se consolidasse poderia sim ser uma prévia de que em breve ele pudesse despertar.

Depois que os pais finalmente foram para a casa e nós prometemos que avisaríamos se ele apresentasse outra reação, Leo e eu nos aproximamos.

— Oi Sam, sou eu, a Car! Como você está hoje? — depositei um leve beijo em sua testa e segurei sua mão. — Leo também está aqui, trouxemos algumas coisas para você essa manhã — relatei, Leo tomou meu lugar e colocou a mão sobre sua testa.

— Hey, cara. Tudo bem? Papai disse que você tem mexido os olhos... você não sabe o quanto fico feliz com isso. Seja forte e corajoso, irmão. Aguente firme e saia logo dessa — continuou. — Trouxemos alguns vídeos pra você hoje, vamos ouvi-los?

Colocamos os vídeos em um tablet e Leo o segurou ao lado de Sam, fiquei do outro lado da maca, segurando sua mão. O primeiro vídeo começou a rodar, era o que eles pregavam um susto em Sam. Não houve nenhuma alteração. O segundo foi o dos três tocando juntos e ao final deste, Sam mexeu os olhos mais uma vez, o que nos deixou eufóricos. Sim, estava funcionando!

Colocamos mais dois vídeos e Sam mexia os olhos em alguns momentos e Leo e eu, nos seguramos para não chorar de alegria. O último vídeo, foi o da competição de nado do Daniel, vídeo em que pensei que não surtiria efeito algum, no entanto foi o que mais mexeu com Sam. Imediatamente ao ouvir a voz de Daniel, Samuel chorou mais uma vez, derrubou lágrimas depois de lágrimas. Ele novamente reagiu ao Dani. Leo e eu decidimos então, trazer mais coisas relacionadas a ele no dia seguinte.

Passamos quase a manhã toda com Sam e durante todo o tempo, ele reagia aos nossos toques e conversas, ás vezes mexendo os olhos, outras vezes soltando uma lágrima delgada.

Mais tarde, após o jantar, pedi novamente para que tia Anne me levasse até a casa de Leo, havíamos combinado de procurar mais coisas para levar ao Sam no dia seguinte.

Novamente fomos ao quarto de Samuel e ficamos sentados procurando mais alguns vídeos nos pendrives que pudessem ser interessantes. Enquanto Leo analisava as imagens, voltei outra vez à escrivaninha e mexendo nas gavetas novamente, encontrei um pequeno caderno de anotações e ao folheá-lo notei que era um caderno de músicas, autorais e não autorais. Ao lado de cada título havia uma breve dedicatória.

- Tears in Heaven - Eric Clapton (Ao meu irmão que partiu cedo demais)

- You are the reason - Calum Scott ( Ao meu gêmeo que levou consigo metade da minha vida)

- Somos feitos de lágrimas - Minha autoria (A minha família que se tornou poeira e sofrimento nesse mundo)

- Salve-me - Minha autoria (Ao anjo que me resgatou do fundo do poço)

- Be brave - Minha autoria (Ao meu irmão que sempre foi as cordas que me guiaram ao mundo)

- Certain Things - James Arthur ( A dona do meu coração a partir de hoje)

— Acho que encontrei algo, Leo. Veja! — disse entregando o caderno em suas mãos.

Leo simplesmente começou a chorar ao ler, algo que eu estava segurando muito pra não fazer também. As letras eram fortes e significativas e ao imaginá-las na voz de Sam, um nó se fez em minha garganta.