Capítulo 24

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Depois de vinte dias, Samuel continuava desacordado e não  respondia aos estímulos médicos, ele já havia saído da UTI e ido para o quarto. Estávamos todos aflitos com sua situação, nos revezávamos todos os dias para sempre ter alguém por perto caso o seu quadro sofresse alguma alteração.

Se alguém me perguntasse os piores dias da minha vida, eu diria que seriam esses em que vivi a angústia da espera e o medo de perdê-lo de uma vez. Mas a vida é cheia de ironias e mais a frente ela me provaria que talvez tudo pudesse piorar... ou talvez não.

Cheguei ao hospital pela manhã, como todos os últimos vinte longos dias, Leo estava com Sam quando entrei no quarto.

— Alguma mudança, Leo? — perguntei me aproximando dos dois com aquela pontinha de esperança em meu peito, mas infelizmente a resposta era a mesma de sempre.

— Nada! Acho que ele realmente está desistindo desse mundo... dizer que Leo estava arrasado era pouco. Ele havia emagrecido muito nos últimos dias e sustentava olheiras profundas sob seus olhos.

— Você já comeu hoje? ele apenas negou, sem tirar os olhos de Samuel — Trouxe seu bolo de banana favorito! falei levantando o lanche que tia Anne e eu havíamos preparado para ele.

— Não estou com fome, Carol — respondeu.

— Mas você precisa se alimentar, Leo. Por favor, não me deixe te perder também... — falei quase em um sussurro. Vinha tentando ao máximo cuidar um pouco de Leo também, apesar dele lutar diariamente com a vontade de desistir, eu tinha medo que talvez ele sucumbisse outra vez.

Leo virou-se e me encarou, deu um meio sorriso sem mostrar os dentes e concordou dando-se por vencido.

— Tudo bem...

— Eu fico com ele, descanse um pouco. Eu te aviso se algo mudar. — estendi a pequena sacola em minhas mãos, Leo assentiu, a pegou e saiu.

— Oi Sam, como estamos hoje? Esperava te ver acordado... — sentei-me ao seu lado afagando seus cabelos que já haviam perdido seu brilho Leo estava aqui com você, obriguei-o a sair para comer, ele tem sentido muito a sua falta, sabia? — eu já não chorava mais em vê-lo assim, pelo menos não ao lado dele. Eu me segurava ao máximo para não desabar, pois a falta dele e o medo de perdê-lo era constante e doloroso.

— Eu estou sentindo tanto, mais tanto a sua falta, Samuel. Você não faz ideia do quanto quero te ver saindo daqui. Quero me sentar novamente com você no balanço e ficar observando o campo de rosas, quero poder nadar na cachoeira com você outra vez, quero rir assistindo filmes de terror com você... eu quero você de volta Sam! — mesmo me esforçando ao extremo para não deixar as lágrimas vencerem, deixei escapar algumas. Eu acariciava seu rosto pálido, magro e sem vida.

— Assim que você acordar, quero te levar em um lugar muito especial para mim, Sam... um lugar que tenho visitado muito durante esses dias em que você está descansando desse mundo continuei, porém agora eu apenas segurava sua mão — Um dia, você me perguntou se eu acreditava em Deus e eu apenas disse que sim, se lembra? Hoje eu posso dizer que acredito ainda mais... senti um nó se formar em minha garganta, ao lembrar do que vi antes de tirar Samuel da piscina.

— No dia em que te salvei Samuel, antes de te alcançar, eu vi o Daniel ao seu lado e não somente o vi como ouvi quando ele me pediu para te salvar, Sam. No momento não pensei muito sobre isso, mas dias depois enquanto orava por você, juro que o senti próximo a mim. No dia do acidente, ele me pareceu muito triste Sam — não consegui segurar o choro que me atingiu ao recordar do fato. Assim como todos nós, ele não quer te ver desistir, Samuel. Então, por favor, volta pra gente logo.

Agora eu quero partirOnde histórias criam vida. Descubra agora