Capítulo 15

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[Lucca Zarmora]

Se eu falasse que consegui dormir muito naquela noite, eu estaria mentindo. Antes mesmo das três da manhã eu já estava totalmente acordado, perambulando pelo quarto de um lado para o outro bastante inquieto, até me dar conta que eu poderia acabar acordando o Murilo com isso e parar. Decidi então atravessar a suíte novamente e ir até a sacada, onde tinha um pequena varanda com vista para o jardim. O céu estava azul e a noite estava estrelada, com poucas nuvens e uma brisa fresca que realmente pareceu ajudar um pouco assim que sai pra fora, mas eu sabia que o nó que eu sentia na garganta nada tinha a ver falta de ar.

A esperança e o otimismo não duraram muito tempo, diria até que sumiram juntamente com meu sono e o cair na realidade de que as coisas não terminariam bem, porque, quem eu queria enganar, nunca terminavam. A partir daí eu só fui me afundando ainda mais em pensamentos e aflição, ao mesmo tempo em que não sabia o que pensar concretamente e torcia para que chegasse logo a hora da reunião.

Murilo não precisou fazer barulho para eu saber que ele estava ali, eu simplesmente sabia, e em meio ao silêncio da noite e o barulho que ensurdecia a minha cabeça, eu o senti se aproximar.

—Qual delas será que é a minha? – Perguntei olhando para o alto, para as estrelas, como sempre gostei de fazer, só que agora sabendo que tinha uma dada exclusivamente a mim no dia do meu aniversário, num gesto do mais puro romantismo que já existiu. Parecia que fazia uma eternidade agora.

—Todas elas são. – Passou os braços pela minha cintura e se posicionou atrás de mim, me abraçando fortemente. – Não consegue dormir?

—Não e você?

—Acordei quando senti sua falta na cama. Preocupado?

—Você não? – Rebati a pergunta com outra pergunta porque eu era incapaz de negar.

—Um pouco.

Confessou depois de um tempo em que o silêncio entre a gente se tornou quase confortável.

—Que bom que você só está um pouco, eu estou prestes a explodir em preocupação. – Soltei um riso pouco convincente e nada verdadeiro.

—Vai dar tudo certo.

—Como você pode saber? E se... e se não quiserem mais a gente nos clubes, encerrarem nossos contratos e nos despedirem?

—Há sempre outros clubes interessados. Garanto que nenhum clube em atividade recusaria a oportunidade de contratar os melhores jogadores da atualidade, dentro e fora da Espanha.

Afirmou com convicção e no fundo, eu sabia que era verdade, eles não dispensariam dois jogadores como a gente por um escândalo, ao menos um escândalo que eles pudessem controlar, o que me fez levantar outra questão:

—E se eles não deixarem a gente ficar junto?

—Acho que eles não podem mandar nisso... não dessa forma Lucca.

—Tá, tudo bem. Mas precisamos encarar todas as possibilidades, não?

Me virei de modo que agora pudéssemos ficar frente a frente, olhando nos olhos um do outro. Ele ficou quieto por alguns segundos e eu percebi que tinha chegado a um ponto delicado e que provavelmente ele também já tinha pensando na mesma coisa.

—Não vamos nos separar por nada nesse mundo.

Eu vi a força nas suas palavras, mas também senti o medo e a incerteza do desconhecido nos seus olhos, porque eu o conhecia muito bem e porque eu também me sentia assim, como se pudesse enfrentar o mundo, mas que a qualquer momento fosse desmoronar.

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