Capítulo 29

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[Lucca Zarmora]

Eu costumava pensar que o futebol era tudo, sempre levei como a grande realização da minha vida, algo que eu não poderia viver sem. Algo que eu precisava para provar alguma coisa a alguém, algo que nasceu comigo e, portanto, eu precisaria honrar o presente que ganhei me dedicando inteiramente.

Estava enganado.

O futebol é apenas importante. O Murilo é tudo.

A minha relação com ele era algo do qual eu não abriria mão por nada, fui idiota suficiente para fazer isso uma vez e nunca mais seria. E, se eu tivesse que largar o futebol para isso, então tudo bem. A minha escolha já estava feita, sem pensar duas vezes.

A realidade é que eu já não vinha contente há algum tempo, coincidentemente ou não, desde que as obrigações profissionais começaram a ultrapassar os limites da minha vida pessoal, um ambiente em que sempre fui muito reservado e zeloso. Fazia sentido pra mim.
Fazia tanto sentido que quando a Gina chegou eu estava mais certo disso do que estive ontem, e amanhã, estaria mais certo do que estive hoje.

—Vocês têm certeza disso?

—Sim. – Eu o Murilo respondemos juntos depois dela passar uns bons cinco minutos parada nos encarando como se tivéssemos acabado de explicar uma equação muito difícil para ela.

—Os dirigentes podem interferir negativamente se não concordarem... Vocês pagarão uma multa rescisória milionária por isso.

Se um dia foi isso que nos manteve presos, hoje não mais. Temos dinheiro, dinheiro suficiente para pagar a multa e ainda levar um vida razoavelmente confortável sem esbanjar.

—Não nos importamos mais, Gina, só queremos sair dessa situação que nos colocaram.

Murilo disse e eu concordei. Desde que nos sentamos ali na sala um ao lado do outro para esperar que a Gina chegasse, nós visamos e revisamos o que queríamos e o que deveríamos fazer para ver se estávamos em sintonia. Acontece que só tínhamos um objetivo principal em mente. Podermos ficar juntos.

—Garotos, eu não posso garantir que as coisas ficarão bem depois disso que vocês estão me pedindo.

—Você não está entendendo, não queremos que nada fique bem se isso significa termos que nos sacrificar. Não mais.

Afirmei e, pela primeira vez depois de muito tempo, me senti no controle da situação.

[...]

—Vocês têm certeza disso?

Essa pergunta já estava ficando chata. Ter que ficar respondendo ela, ainda mais chato.

—Sim, Mika. – Por isso fui o mais breve possível.

—Ok, então.

Ela sai do quarto pisando duro e quase parece que é definitivo, mas então me lembro que estamos no quarto dela e que uma hora ou outra ela vai ter que voltar.

—Espero não parecer muito pálido.

Desde nossa aventura na praia, aquela em que deu tudo errado, eu não tomo um sol adequado. Correr pra baixo e pra cima em um campo, atrás de uma bola, e de roupas, não é propriamente vitamina D.

—Você tá ótimo. – Murilo, que até então estava com um dos ombros apoiados no batente da porta me olhando, veio até a mim e se inclinou em minha direção. – Bonito. Gostoso.

Sorri e ergui o queixo para aceitar seus beijos.

—Espero não gaguejar muito.

Disse, mas logo me arrependi, porque, ele usou o nervosismo que percebeu na minha voz para questionar minhas decisões.

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