Capítulo 28

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[Lucca Zarmora]

Um vaso.

Um vaso pelo amor de Deus!!

Eu sentia vontade de me jogar em um poço toda vez que me lembrava – e eu vinha me lembrando com frequência – tamanha vergonha que sentia por ter sido tão besta como fui. E deve se por isso que, naquele mesmo dia, quando minha mãe passou pela sala e me perguntou:

—Lucca, esse vaso não estava na outra casa? Eu me lembro de ter deixado lá com a Aparecida.

Eu tive vontade de quebra-lo na minha testa. Onde eu estava com a cabeça? Certamente não no lugar certo.

Dois dias se passaram e a sensação não havia desaparecido completamente, vez ou outra, quando vinha a lembrança do beijo que ele me deu, eu sorria e me afundava nos lençóis, cobrindo a cabeça e dando gritos histéricos que mais pareciam de uma garota de 13 anos quando ouve a música do ídolo. O que eu deveria fazer agora? Eu nunca estive inseguro em uma relação amorosa, Murilo foi meu primeiro tudo – primeiro amor, primeiro beijo, primeiro sexo – tudo veio muito fácil no quesito relacionamento pra mim e agora eu não sabia como agir.
Pensei em ligar, mas desisti porque não queria parecer desespero. Aí pensei em mandar uma mensagem, algo mais casual e que não forçaria a barra por assunto, mas desisti também por não encontrar as palavras.
Ele não estava dormindo com ela. Isso significava que ele me queria?

Estava apaixonado por mim ainda? Ainda me amava?

Pensar em tudo isso estava fazendo meus cabelos ficarem em pé, minha cabeça doer e meu estômago ficar constantemente embrulhado, então opto por tomar a atitude mais confortável pra mim na posição que me encontrava, que é não fazer nada. Nada por enquanto.
Decido concentrar toda a minha energia e atenção na retomada das atividades no clube. Saio de casa bem cedinho para o treino que teria pela manhã e me dou um tapinha de incentivo por ter levantado imediatamente e não ter protelado o máximo possível na cama.

Talvez eu tivesse jeito, afinal.

[...]

Engraçado como o tempo parece passar infinitamente mais devagar quando eu preciso que ele passe depressa. Tipo agora quando estou com um peso de sete quilos em cada perna, prestes a falecer e ainda preciso pular por obstáculos.

—Chega! Não aguento mais.

Reclamei com Isaac que estava ao meu lado com os mesmos pesos, mas parecendo muito pleno, mesmo já estando nisso há pelo menos meia hora.

—Já era pra você ter se acostumado com essa vida, Lucca.

—Meu corpo quer se acostumar, mas meu cérebro é tóxico e luta contra isso.

Me largo de qualquer jeito no gramado e puxo o ar com força tentando levar mais ar aos meus pulmões e acalmar a respiração arfante. Suor escorre do meu rosto e eu pisco antes que caia dentro dos meu olhos, suor nos olhos arde como o inferno.

—Você já foi mais ativo.

Isaac comenta se sentando ao meu lado depois de terminar seu ciclo, eu nem ao menos tentei finalizar o meu. Paro por alguns segundos e penso em algo que já vinha sendo plantado em mim há algumas semanas e que, com tudo o que aconteceu, a sementinha só cresceu e deu frutos.

—Estou pensando em me aposentar. – Digo calmo e tranquilamente, mas pelo olhar que recebi, percebo falei algo absurdo pra ele.

—Que besteira é essa?

—Estou falando sério. Por que não? Já tenho algumas conquistas significativas, meu nome vai ser lembrado não para sempre, mas por tempo suficiente para eu me sentir importante e dinheiro eu tenho aos montes...

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