Capítulo 23

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[Lucca Zarmora]

Eu descobri que o conceito de importante é relativo, na verdade, eu não achava mais que a palavra fizesse qualquer sentido, me parecia muito mais força da expressão misturada com vaidade, pois, o que é importante, só é importante dependendo dos seus respectivos pontos de vista. Descobri também que coisas ditas importantes não são deixadas de lado mesmo que você esteja em um dia ruim, bom, ao menos as coisas consideradas importantes para outras pessoas. Isto é, dane-se seu dia ruim ou sua total incapacidade de querer socializar, se eu tenho poder sobre você, faça o que eu quero.

A ACP Sports estava oferecendo um coquetel em comemoração ao 13° aniversário da revista, onde eles celebravam a última e bem sucedida edição que evidenciava corpos de atletas profissionais de todo seguimento. A festa contava com tapete vermelho, muita mídia, pompa e eu, claro, fui fortemente convencido a comparecer. Quer dizer, eu não tive escolha a não ser comparecer.

Comecei a noite, depois de passar uma longa tarde tediosa, levando o máximo de tempo para me arrumar, enrolando até não poder mais e com certeza incomodando todos ao meu redor com o quanto eu estava infeliz por ter que ir a mais esse evento.

—Você parece um pastor jovem prestes a ir condenar os pecados e desvios do mundo.

Micaela falou olhando para mim por trás do espelho quando eu finalmente eu fiquei pronto. O terno era preto, sem detalhes e com um corte clássico que me deixava com um ar sério. Tão mais sério do que normalmente eu gostava de parecer. Dei meia volta e a encarei com olhar monótono.

—Me sinto mais como um condenado.

Digo e a vejo revirar os olhos em total descaso. Ela havia passado o dia todo comigo, entre conversas, provocações e companhia. Fizemos um brownie que vimos na internet e rimos por vinte minutos seguidos depois que tiramos do forno e ele havia ficado mais duro que concreto. Assistimos um filme na nossa sala de cinema e dormimos na metade, o que acabou se tornando um pesadelo pois acordamos assustados com barulhos de tiros saindo pelo alto-falante, pelo amor de Deus, era um filme de comédia.

E agora eu não estava pronto para me separar dela, por isso fiz o convite no ímpeto:

—Vamos comigo? Como minha acompanhante?

Olhei em seu olhos da mesma cor da do irmão e imediatamente senti uma ponta de ternura pela menina que vi crescer, por mais que ela fosse meu pequeno pedaço de inferno na terra. Estiquei a mão e ela a pegou, me puxando bruscamente para um abraço. Me abaixei um pouco de modo que minha cabeça ficasse entre seus peitos. Parecia duas almofadinhas perfeitamente projetadas para dormir em cima. Me perguntei se os homens héteros já tinham descobertos isso.

—Você tá querendo que eu vá com você porque gosta muito de mim ou porque o Murilo também vai aparecer com uma acompanhante?

Nem um tiro a queima roupa seria tão certeiro assim como ela foi, algo que eu tentava esconder de mim mesmo, na verdade eu estava tentando evitar pensar.

O Murilo também foi convidado – diga-se forçado – a comparecer ao evento, claro, ele era o atual artilheiro do campeonato e estava muito em foco. Mas... como vinha acontecendo nos últimos tempos, a agência informou que ele teria companhia, no caso, a namorada dele.

—Não tem nada a ver com eles. – Respondi me esquivando enquanto me afastava dela para evitar que minha reação revelasse mais do que eu gostaria.

—Desde quando ele e ela... – Mika revirou os olhos, ela não gostava da piranha tanto quanto eu, e isso me fazia amá-la ainda mais. – Desde quando o Murilo e ela virou um "eles" pra você?

—Desde que eu comecei a ver notícias deles a todo momento e sei mais deles do que de mim.

Eles haviam se tornando o casal sensação, o mais shippavel do momento, mas tudo coberto até o pescoço de manipulação e mentiras. Como da vez que ela postou uma foto insinuando um passeio romântico e o marcou, quando na verdade, ele estava em casa dormindo. Ou da vez que ele escreveu no twitter que estava indo para uma churrascaria brasileira que os dois amavam, sendo que o Murilo nunca foi muito fã de comer carne.

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