Capítulo 25

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[Lucca Zarmora]

Infelizmente as novas perspectivas não duraram muito. Devo admitir que nem eu esperava que durassem, mas falhar em pouco mais de dois dias inteiros, fazia parte do meu novo fracasso pessoal.

Acordei tentado a pegar o carro e ir para Barcelona no mínimo de minutos que eu conseguiria fazer em uma viagem e acho que deve ser assim que um viciado se sente prestes a ter uma recaída, só que a minha recaída propriamente não me fazia mal, pelo contrário. Só feria meu orgulho.

Caí da cama cedo e disse a todos que precisava correr como parte do meu novo cronograma de treinamento, mas na verdade, eu só queria correr, correr muito, até que pudesse eliminar todos aqueles pensamentos de mim junto com o suor. Escolhi os arredores do condomínio para fazer a minha corrida e, em poucos segundos, meus pés estavam voando pelo asfalto em uma velocidade que eu só usava para atravessar os campos nos jogos em busca de um ataque perfeito.

Pelas próximas duas horas é tudo o que eu me deixo fazer, correr, inspirar e expirar e deixar que meu condicionamento físico fale por mim. Quando finalmente tiro meus fones de ouvido e paro, estou coberto de suor e ofegante, a música alta ainda continua tocando e eu levo as mãos nos joelhos para respirar melhor.

Foi uma boa corrida, mas estava pronto para voltar para casa, pois os pensamentos já estavam começando a invadir toda a camada de endorfina liberada pelo corpo e criando seus próprios caminhos. Em quanto tempo uma pessoa consegue chegar em Barcelona correndo? E em quanto tempo ela consegue inventar uma boa desculpa para se humilhar e pedir desesperadamente para voltar?

No entanto eu sabia que não faria isso, não enquanto meu juízo continuasse devidamente no lugar e eu me lembrasse de todos os motivos que me fizeram tomar aquela decisão inicialmente, então, fui pra casa.

[...]

Percebi que provavelmente perdi o café da manhã, quando cheguei, não encontrei a mesa posta e não vi mais ninguém por perto, então começo a subir as escadas para o meu quarto, mas sou parado de repente.

—Lucca. – Era o Roberto. – Me chamou?

—Oh sim.

Eu não havia ignorado totalmente o – quase – relacionamento dele com minha mãe. E ontem, depois de pegar minha mãe suspirando alegremente pelos cantos mais de uma vez, pedi para que a chefe do funcionários lhe passasse o recado de que eu queria falar com ele o mais rápido possível.

—Sim. Sim. Vamos até o escritório, Roberto.

Passei por ele e fiz o caminho inverso ao do quarto com destino ao escritório, que só existia mesmo por uma mera formalidade. Roberto me seguiu e se sentou na cadeira de frente a que eu ia me sentar do outro lado da mesa e me encarou, esperando que eu começasse.

Abri a boca algumas vezes, mas não saiu nada. Como começar a conversar com o novo – quase – namorado da sua mãe? É bastante comum que a situação aconteça justamente ao contrário, como por exemplo, a conversa que minha mãe jura que não teve com o Murilo, que também jura que não aconteceu.

Pensar no Murilo me fez desencadear vários outros pensamentos que eu vinha lutando para não ter. Queria que ele estivesse aqui. Queria poder dividir essa situação tão inusitada com ele e...

—Vou ser demitido, não vou? – Roberto interrompeu meus pensamentos e me assustou com a conclusão tão equivocada que tomou com o meu silêncio.

—O que? Porque você acha isso?

—Por causa da sua mãe.

Então eles já tinham conversado sobre isso e minha mãe o alertou que eu estava sabendo. Bom.

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