EPÍLOGO

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[Murilo Lacerda Zarmora]

Todo relacionamento tem seus altos e baixos. Todo relacionamento tem seus dias ruins. E todo relacionamento tem seus momentos de desentendimento. Aprendi isso com tudo que passamos e, ao final do processo, percebi que precisávamos disso para nos firmar definitivamente. Começamos nossa relação muito cedo, tudo era muito perfeito e inquebrável – e realmente era – mas, até o mais precioso dos diamantes precisa ser moldado, polido e lapidado para chegar a perfeição.

Nós éramos diamantes, mas tivemos que ser manuseado pelas circunstâncias da vida para mostrar toda nossa beleza definitiva.

—Meu Deus, Meu Deus, eu estou muito fora de mim. Eu acordei solteiro e vou dormir casado. - Lucca atropelava suas palavras na ânsia de demonstrar o quanto estava animado com tudo aquilo.

Só tivemos tempo de participar da cerimônia de entrega de medalha e taça – na qual o Isaac a ergueu lindamente – tomar um bom banho no chuveiro do estádio e esperar pela van que eu tinha contratado chegar para pegarmos viagem. Agora ele estava trocando seu uniforme pelo terno claro de duas peças que fazia parte da vestimenta, enquanto penteava seus cabelos molhados com a escova que eu coloquei na sua mochila de emergência matrimonial.

—Eu espero que você não durma, mas tudo bem...

Peguei o celular do meu bolso – eu também tinha me trocado na van, penteado meus cabelos e vestido meu terno – e disquei o número da Micaela, que não demorou a atender:

—Mika...

­—Deixa eu adivinhar... ele disse sim. Supreendentemente ele também tirou um anel do bolso e te pediu em casamento. Ou foi ao contrário? Desculpa, eu não consegui ficar para ver a ordem que ia acontecer.

—Você sabia... – Percebi tarde demais, toda aquela história do Lucca precisar conversar com ela antes da partida... – Você também guardou as alianças dele?

—Obvio. A quem mais os dois iriam recorrer? Euzinha.

—Porque você não contou, Micaela? – Tentei parecer bravo, mas o sorriso na minha voz estragava tudo. Nada poderia me tirar do estado de paz e calmaria que eu estava.

—E estragar minha diversão? Vocês foram minhas marionetes, meus experimentos bem sucedidos... Além do mais, ganhei pix pelo segredo dos dois.

—Tá bom então espertinha, você tem duas horas, no máximo, para cumprir com o resto da sua missão.

—Saí um pouco antes da entrega da taça... Tá tudo sob controle.

Respondeu sem se abalar.

—Nossas mães?

—Estão nervosas porque querem voltar para casa, mas ansiosas para saber o que vai acontecer. Eu não contei só de pirraça.

—Ok Mika, obrigado por isso.

Desliguei minha ligação com a Mika mais tranquilo em saber que ela estava cumprindo com sua parte no planejamento e, quando voltei minha atenção ao Lucca, percebi que ele estava com a janela aberta, com metade da cabeça para fora, gritando para todos os carros que passavam:

—Eu vou casar! Eu vou casar!

—Lucca... pelo amor de Deus.

Alguns carros buzinavam, outros os motoristas o xingavam de maluco – com razão – mas a maioria ria e lhe lançava um sinal de jóia com o polegar.

—Mu... tenta isso, é libertador. Vem.

A animação no seu rosto era tão contagiante que me fez rir e querer tentar também, por isso me levantei de onde estava, tomando cuidado ao andar com a van em movimento e me juntei a ele.

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