Capítulo 18 - Lembranças

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[Lucca Zarmora]

—Você contou para a sua mãe?

Perguntei lutando para me equilibrar em cima da bola em que eu estava sentado, enquanto ele tinha outra bola em seus pés e comandava ela habilidosamente de um lado para o outro.

—Não. Estou esperando essa folga do final de semana para contar, você já contou para a sua?

—Contei mais ou menos por telefone. – Confessei e vi ele parar com as embaixadinhas e me olhar surpreso.

—Então provavelmente minha mãe já sabe.

—Na verdade... acho que elas sempre souberam.

Constatei porque além de serem muito amigas - e vizinhas - elas nos conheciam como ninguém, era impressionante que mesmo ficando longe da gente por algumas semanas por conta da escola e o alojamento, elas sempre sabiam o que estava acontecendo só pelo nosso tom de voz nas ligações. Não seria diferente naquela ocasião, a felicidade que eu estava quando falei com ela entregou tudo, eu nem precisei falar muito ao telefone.

—Mas você ainda vem comigo, não vem?

—Vou.

Concordei rapidamente, porque eu concordaria com tudo que ele pedisse, mesmo que por dentro eu estivesse tremendo. Eu não achava que contar oficialmente para elas fosse gerar um grande problema, visto que a minha mãe soltou uma sonora gargalhada quando eu disse que estava com alguém e a mãe do Murilo até dava forças para ele tomar coragem e dizer o que sentia, ele confessou depois que nos beijamos pela primeira vez, há uma semana atrás.

Uma semana que estávamos juntos. Uma semana que eu podia beijar sua boca depois de passar minutos olhando seus olhos admirado sem precisar disfarçar ou fingir que não estava apaixonado. Um semana que a gente perdia horas e horas a noite, deitados na mesma cama, trocando beijos embolados no mesmo edredom, conversando sobre coisas e tendo a certeza de que nada seria tão bom quanto poder fazer isso.

Uma semana que fazia com que a gente se perguntasse porque não tomamos a iniciativa antes. E era a melhor sensação do mundo.

—Bom, eu vou tomar banho... Você não vem?

Questionei quando vi que ele não me seguia. Era sexta e o treino tinha acabado há algum tempo, como sempre, ficamos por último e decidimos treinar mais um pouco na beira do campo para aproveitar os últimos raios de sol, mas tudo que eu queria agora era um banho quente.

—Eu vou treinar mais algumas cobranças de falta, depois vou.

—Mu.. – Disse sorrindo. – Você já é o melhor batedor de falta da cidade.

—Quero ser do mundo. – Sorri mais ainda com a resposta, mas não duvidei nem por um segundo que ele conseguiria, seu futebol era mil vezes melhor do que qualquer um dali. Ainda me divertindo com a situação, me levantei e me aproximei dele que agora tinha recomeçado as embaixadinhas e envolvi meus braços na sua cintura. – Lucca, aqui não.

Repreendeu, mas não fez nada para me parar, deixando a bola de lado e permanecendo dentro do meu abraço.

—Que bom poder fazer isso sem achar que você vai achar estranho.

Brinquei e ele sorriu me dando um selinho rápido, e mais um e mais um antes de se afastar.

—E que bom poder fazer isso sem achar que você vai me bater.

—Ei... eu nunca te bati. – Bati nele para comprovar minha teoria, mas o beijei logo seguida porque a carinha que ele fez ao alisar o braço começou a me dar dó. – Eu vou indo tá, vê se não demora, a gente viaja cedo amanhã.

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