[Lucca Zarmora]
O meio futebolístico é machista, muitas vezes racista e frequentemente homofóbico. Anualmente são feitas diversas campanhas sobre conscientização com uma mensagem forte e bem montada para atrair os olhares da mídia, mas aquilo tudo é uma grande mentira inventada pelos grandes empresários para dizer que eles se importam. Mas eles não se importam. Essa é a grande verdade.
Carreiras são destruídas dia após dia por racismo, discriminação e intolerância sem que alguém mova um dedo para fazer nada além de uma nota de repúdio no rodapé do jornal. Jogadores são postos dentro de seus armários com frequência e impedidos de ser quem eles são, de amar quem eles amam publicamente, apenas porque não é benéfico para ninguém ter a diversidade estampadas nas cores do clube.
A torcida que te aplaude e te enaltece na glória, é a mesma que te sacrifica e te bota na lama quando algo destoa do que eles estavam esperando. Você não passa de uma imagem, de um produto, e os dirigentes podem até dizer que não, mas tem veem apenas como uma mercadoria descartável feita exclusivamente para lucrar, independentemente do quão bom seja o seu futebol.
Afinal, só não importa com quem você dorme no final da noite se você for discreto e não trazer dor de cabeça para aqueles que se acham donos da sua vida, do contrário, você terá problemas e eles vão tentar tirar o único poder que é exclusivamente seu.
O poder de ser você.
Naquele dia depois que saí daquela sala, frustrado e bastante revoltado, eu caminhei pelos corredores entre os escritórios sem saber realmente como sair dali e completamente desacreditado que aquela conversa realmente tinha acontecido. Eu queria poder xingar com todos os meus pulmões, gritar aos quatro cantos da cidade e a Deus e ao mundo a minha revolta, mas sabia que não poderia dar aquele gostinho a eles de me ver tão descontrolado.
Eu cheguei a duvidar que aquilo realmente tinha acontecido e que aquela proposta ainda pairava no ar de tão de absurda que foi, mas eu sabia que minha mente não era tão fértil assim, então tudo tinha que ser real.
O Murilo não demorou a vir rapidamente atrás de mim e chamar pelo meu nome quando eu finalmente havia encontrado o que parecia ser o caminho para a saída:
—Lucca, espera.
Me virei na direção em que ele vinha e parei para esperá-lo, mesmo que meu desejo mandasse eu dar continuidade no trajeto até o Roberto e pedisse para que ele me levasse para o lugar mais longe dali.
—Por favor, me diz que não concorda com aquela merda.
Pedi desesperado porque naquele ponto eu já não tinha fé em mais ninguém e em mais nada. Tudo estava confuso e fora do lugar, eu sentia raiva, muita raiva e mais raiva ainda por eles me fazerem sentir aquela raiva toda. Tudo era tão confuso, mas fazia sentido pra mim.
—Não, claro que não – Garantiu vindo em minha direção e me pegando para um abraço.
—Isso é tão ridículo. – Murmurei no seu ombro, sentindo seu cheiro que trazia certa tranquilidade e calmaria para aquele turbilhão de novas informações. – Eu não quero fazer isso, Mu.
—Vamos dar um jeito.
Depois daquele dia, se a gente ousou achar que tudo se estabilizaria sozinho, estávamos completamente enganados, pois querer ignorar a situação somente fez com que ela se tornasse o grande elefante branco no meio da sala. Chegamos a ter uma pequena conversa com a Gina – que não ajudou em nada, devo acrescentar – onde ela nos explicou o que ocorria e garantiu que o que eles estavam oferecendo não era nada ilegal ou absurdo, visto pelos meios jurídicos, uma vez que existia uma cláusula importante no nosso contrato pra isso.
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Jogo Perigoso
RomanceO meio futebolístico é machista, muitas vezes racista e frequentemente homofóbico. Anualmente são feitas diversas campanhas sobre conscientização com uma mensagem forte e bem montada pra atrair os olhares da mídia, mas aquilo tudo é uma grande menti...