[Lucca Zarmora]
—Mu...
Chamei levantando a cabeça do travesseiro e olhando em direção a sua cama, embora estivesse muito escuro para ver algo.
—Oi. – Ele respondeu de prontidão, controlando a voz para que não nos pegassem acordados depois do horário de recolher e, pelo barulho do colchão, repetindo o mesmo processo que o meu de se erguer na cama.
—Tá acordado?
—Tô. – Riu da pergunta idiota, mas ascendeu o abajur que ficava ao lado da sua cama e me olhou com os olhos meio fechados, embora seu sorriso estivesse evidente por saber o que eu queria. – Vem.
Mais que depressa eu desembolei o lençol das minhas pernas e me levantei pra pular na sua cama logo em seguida, sendo recebido com um pequeno espaço de colchão e lençóis que logo me cobriram.
Me acomodei ao lado do seu corpo quente e passei um braço por cima do seu ombro, com um sorriso idiota que não saía dos meus lábios. Não era a primeira e não seria a ultima vez que em noites como aquelas, com pensamentos demais, eu invadia seu colchão. Ele sempre muito receptivo nunca me negava e sempre estava pronto pra me abraçar e começar um carinho nos meus cabelos como estava fazendo agora, o que me fazia querer acreditar que, sim, existia algo a mais ali.
E seria tão menos doloroso acabar com a dúvida e perguntar se ele sentia o mesmo e seguir com a vida dependendo da sua resposta, mas eu tinha medo de perder sua amizade, o que construímos até aqui, então eu apenas guardava todo o sentimento pra mim mesmo e fingia que estava tudo bem.
—Não consegue dormir? – Sussurrou me tirando dos pensamentos e me apertando um pouco mais para que eu não caísse.
—Tô preocupado. Você acha que a gente vai conseguir?
A madrugada era o momento perfeito para se ter esses questionamentos e perder o sono, já tinha se tornado um verdadeiro hábito nos últimos dias e eu não via como me livrar disso.
—Eu não sei. – Respondeu sincero, dando pra sentir a mesma preocupação que a minha em seu tom de voz, mesmo ele tentando disfarçar.
—O Daniel não conseguiu.
Daniel era o terceiro garoto que dividia o quarto com a gente, na semana passada, depois da primeira peneira, ele havia sido dispensado por não se enquadrar no que eles estavam precisando no momento, traduzindo: não era bom o suficiente, e isso acabou criando uma grande onda de preocupação em todos os outros. Não foi diferente comigo.
A fase de seleção final estava prestes a acontecer e era agora ou nunca, ou os clubes de diversos locais nos contratariam através dos olheiros, ou seriamos mandados de volta pra casa como acontecia com vários. E aos 17 anos, ter que começar tudo de novo em outro lugar depois de já ter sido dispensado, não era uma opção muito favorável. O nosso tempo estava passando e esse era o nosso momento.
—Olha, nós vamos tentar, tá? – Sua voz agora parecia tão mais convicta e disposta a querer me fazer acreditar, e se convencer no processo, que eu comecei a relaxar sob o toque dos seus dedos que agora faziam carinho nos meus braços. – Vamos dar nosso máximo, e se a gente não conseguir agora, vamos prometer que não vamos desistir, tudo bem? Além do mais, nós jogamos muito melhor que o Daniel.
Finalizou dando uma risadinha que sinceramente era meu inferno na terra, porque, como alguém conseguiria sobreviver àquilo estando terrivelmente apaixonado e bobo? Eu apenas confirmei, incapaz de ter outra reação que não fosse aquela diante do poder que ele tinha sobre mim, e me levantei para olhá-lo melhor.
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Jogo Perigoso
عاطفيةO meio futebolístico é machista, muitas vezes racista e frequentemente homofóbico. Anualmente são feitas diversas campanhas sobre conscientização com uma mensagem forte e bem montada pra atrair os olhares da mídia, mas aquilo tudo é uma grande menti...