Capítulo 13

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[Lucca Zarmora]

Voltar para a realidade nunca me pareceu ser algo tão cruel como estava sendo agora, juro, acho que nem os especialistas em tortura seriam capazes de pensar em algo que causasse tanta dor e sofrimento quanto ter que sair do seu mundinho perfeito com o amor da sua vida para voltar ao mundo de obrigações, dietas e exercícios. Eu ainda podia sentir nos meus ossos – e na minha bunda – o peso do final de semana me corroendo e me colocando pra baixo, me deixando sem vontade até de respirar tamanha preguiça.

Cheguei ao clube cedo – mais cedo do que eu realmente queria – depois de ter uma despedida rápida com o Murilo que também precisou se apressar, mas não sem antes garantir que ele havia me dado o final de semana perfeito e que eu o amava muito, para mais um dia de treino. A semana começaria com preparação intensiva, com treinos funcionais e restrições a fim de voltarmos a rotina, depois da folga sem jogos que tivemos. Era algo que sempre colocava toda a equipe em alerta, e como sempre em ocasiões como essas, o nosso capitão estava lá para nos auxiliar.

—Ei Issaco!

Me aproximei dele assim que o avistei, logo após deixar o carro no estacionamento e ir em direção a área de treinos.

—Ei Lucco.

Cumprimentou de volta, com seu nível de animação costumeiro e impressionantemente me fazendo melhorar o humor imediatamente. Ele estava parado na porta que dava entrada para a academia e distribuía coletes aos jogadores que chegavam, indicando-os para onde ir, mas estava faltando pelo menos metade da equipe ali.

—Porque o grupo tá reduzido?

—O treinador dividiu a equipe em dois grupos, o primeiro vai fazer um treino leve em campo e depois eles vão vir pra cá, enquanto os que ficaram aqui vão pra lá com ele.

—E eu fico onde? – Perguntei meio lerdo.

—Você fica comigo.

—Vantagens de ser amigo do capitão.

Murmurei pegando o colete que ele me ofereceu e vestindo rapidamente. Esperei pelo resto dos caras chegarem para serem divididos igualmente entre os grupos e depois entrei junto com o Isaac para academia para começar nosso treino.

—Eai... o que você fez esse final de semana? Tá com uma cara boa.

Perguntei enquanto escolhia uma esteira do lado da dele para mantermos uma conversa.

—Relaxei. Muito.

—Ah... tá explicado. – Ri porque sabia muito bem o que significava um dia relaxante dele. – Deve ter sido muito bom mesmo.

—E você fez o que? Tá queimado de sol.

Hum. Não tinha pensado sobre qual desculpa ou história inventar, então decidi optar pela verdade, ou pelo menos metade dela.

—Digamos que eu relaxei também, só que na praia.

—Conheceu alguém?

—Hum... sim, acho que sim.

—Desistiu de falar que é casado com o futebol? – Me zoou, porque sim, eu já havia falado isso mil vezes em entrevistas ou conversas quando tentavam saber se eu estava com alguém.

—Eu posso ter amantes.

Deixei vagamente a resposta no ar, para evitar entrarmos ainda mais naquele assunto e ter que acabar inventando algo por impulso.

Nosso treino teve mais ou menos uma hora de duração na academia, depois de passar por vários aparelhos e trocar a intensidade deles, o auxiliar do treinador finalmente apareceu e, depois de uma conversa com o Isaac, se deu por satisfeito e encerrou os exercícios. Limpei o suor da minha testa – efeito de todo bolo e doce que eu havia comido no final de semana – e abandonei a bicicleta ergométrica onde estava, agradecido por ter acabado.

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