Capítulo 20

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[Murilo Lacerda]

—Lucca... por favor.

Implorei quando seu silencio se tornou cada vez mais difícil e ele já estava há uns bons quinze minutos sem falar nada. Um coisa que você precisa aprender sobre o Lucca é que, se ele estiver falando, xingando aos quatro ventos e batendo porta tudo bem, mas se ele se mantiver em silencio é caso para se preocupar.

Nada.

Ele só me encarou por alguns segundos, sua expressão não deixando transparecer nada além de tedio e desgosto, e me deu as costas logo em seguida, caminhando na direção oposta. Suspirei, o seguindo de cômodo em cômodo até vê-lo dar meia volta pelos fundos da mansão, ignorando o campo de futebol – que eu pensei ser sua primeira opção – para entrar no jardim de inverno que sua mãe mantinha.

—Não vamos tornar as coisas mais difíceis.

Voltei a falar, porque: um; o silencio realmente me incomodava, especialmente vindo dele e dois; queria que ele falasse para que eu pudesse ter um caminho por onde seguir.

—Mais difíceis...? Mais difíceis?

Bufou audivelmente, o que me fez confirmar que as palavras saíram de sua boca sem a sua permissão.

­—Difíceis o suficientes.

—Foi você que aceitou aquela merda Murilo. Você.

—Não fale como se você não tivesse pensado em aceitar também. Por nós, pelo futebol... e porque não tinha outra opção. – Argumentei.

—E agora você tem uma namorada! Parabéns.

Eu sentia como se estivesse dialogando sozinho, pois nada que eu falava era respondido com continuidade, ele só estava ali para desabafar e jogar – não em mim, mas ao vento – suas frustrações e revolta.

—Amor... – Suspirei sem saber o que fazer. – Você sabe que nada disso vai ser real.

Lembrei da forma mais calma e tranquilizadora que eu conseguia fingir, fingir sim, pois eu não gostava daquilo tanto quanto ele, mas se alguém teria que passar por isso, que fosse eu, o responsável pelo começo dessa história.

—Vai ser real o suficiente para estar em redes sociais, em notas de fofoca e programas esportivos, Murilo, você sabe disso. E é nisso que eles estão trabalhado.

Não pude ver seus olhos, porque ele me deu as costas e sua atenção se fixou em uma das orquídeas de cor amarela, mas eu soube, apenas por sua voz, que o sentimento dele era de insegurança, algo que eu sabia que ele nunca deixaria transparecer se pudesse.

—Amor... vem aqui. – Não esperei que ele viesse até a mim e, ao invés disso, dei os passos necessários para chegar até ele, para o envolver em meus braços. Ele soltou um suspiro e eu sabia que era uma mistura de tudo que vinha sentindo nos últimos quinze dias. – O que essas coisas significaram pra gente até agora? Nada.

Há um tempo deixamos de nos importar com o que falavam da gente, seja na internet ou pelas costas, pois ser famoso significava ter que lidar com isso, então, a menos que essas noticiais pudessem afetar nossa carreira – como estava acontecendo agora – nós sempre as ignoramos muito bem.

—Então você não tem medo? – Demorei para responder e pude sentir quando ele viu minha hesitação. – Pois é...

—Sempre tive a impressão de que éramos mais fortes que isso, não?

—E eu tenho a impressão de que ultimamente a gente só vem tentando se reafirmar, e dizer que vai ficar bem, quando obviamente não sabemos. – Abaixou a cabeça e se balançou em meus braços. – Às vezes eu acho que... que...

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