Capítulo 8

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[Lucca Zarmora]

Voltamos a programação normal duas semanas depois do ano novo e o clima da equipe era de renovação, muitos voltaram para casa, alguns puderam ficar mais com suas esposas e filhos e outros foram curtir a família como há muito tempo não faziam, e dava para sentir que essas semanas foram fundamentais para todos. Mas, agora era hora voltar ao foco total, o campeonato ainda estava na metade, e se quiséssemos nos manter na liderança, precisávamos continuar rendendo como antes.

Talvez até duas vezes mais, porque, agora as outras equipes viriam pra cima, era tudo ou nada e com certeza elas iriam arriscar. Tivemos a confirmação disso pelas entrevistas e pela rotina de preparação que a mídia mostrava, o Murilo mesmo se apresentou uma semana antes de mim e estava se preparando arduamente para o clássico.

Enfim a data do tão esperado clássico entre Barcelona e Real Madrid havia chegado em nossas vidas, seria o primeiro jogo da agenda depois do recesso do final de ano e os ânimos de todos estavam ainda mais à flor da pele por isso. Enfrentar seu principal adversário, cujo qual vem disputando a liderança contigo desde o começo dos jogos, recuperando o condicionamento físico depois de uma mini férias, era de deixar qualquer um apreensivo.

O jogo, diferentemente da outra vez, seria a mando do time do Barcelona, portanto na cidade de Barcelona, então dois dias antes, estávamos no ônibus pegando estrada prestes para nos concentrarmos em um hotel próximo ao estádio - e pertinho da minha outra casa - como muitas vezes fazíamos.

—... saudade que eu estava da praia, mano, do sol, do calor. – Isaac me contava como foram suas férias no Brasil há pelo menos meia hora e eu o ouvia apenas com uma orelha, porque a outra estava com o fone. – Você ficou por aqui mesmo? Se eu soubesse teria te chamado pra ficar lá com a gente.

—Tá de boa, mano. Minha mãe mora aqui e nós decidimos não viajar, mas foi legal, ela cozinhou, assistimos os especiais e eu me empanturrei de comida. – Bocejei e pisquei os olhos vagarosamente, o que eu podia fazer se o movimento do ônibus me dava sono? – Tô até me sentindo pesado ainda.

—Pois trate de ficar leve rápido. – Comentou rindo. – Mas sério, precisamos ganhar dessa vez.

Completou mais sério com o espírito competitivo tomando conta da sua expressão e a voz transbordando revanche. Lembrei que além do espírito de revanche que toda a equipe deveria ter, eu também tinha uma aposta prestes a se cumprir para um dos lados, eu não estava nem um pouco a fim de que fosse o meu.

—É, vamos com tudo!

[...]

Geralmente o hotel encarregado de nos hospedar reservava uma ala inteira para toda a equipe, desde jogadores, até técnico e diretoria se precisasse, como era no caso de um jogo tão importante como aquele. Era silencioso, poucos funcionários subiam - apesar da gente ter toda a mordomia que nos era permitido - e os quartos não abrigavam mais que dois jogadores para garantir o nosso conforto. O luxo exclusivo fazia com que nós nos sentíssemos importantes e mais motivados - porque não? - para o jogo e dava a sensação de que valia a pena todo o dinheiro que nós fazíamos eles lucrarem. Era bom.

—Os caras estão organizando um after atrás da quadra de tênis do hotel depois do horário de recolher. Bora?

Isaac perguntou assim que nos acomodamos em nosso quarto, ele largou os pertences na cama da esquerda como sempre gostava e checou o celular em busca de mais informações. Não era ele que estava focado?

—After? Tô fora.

O jogo era daqui há dois dias e era melhor não arriscar, eu desobedecia as regras sim, mas com sabedoria.

Jogo PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora