Capítulo 27

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[Lucca Zarmora]

Todos os dias eram a mesma merda, às vezes, com alguma merda diferente. Era essa frase que eu decidi levar comigo há alguns dias e nada parecia fazer mais sentido do que ela nesse momento. As merdas que vieram antes só me deixaram mais calejado para as merdas que vieram depois, essa é a grande verdade, mas não me afetavam mais, não do jeito que me afetavam antes. Podia dizer que estava imune.

Estava a caminho do que seria o último jogo das eliminatórias pra copa e, ao que parece, ter esses pensamentos me deixaram ainda mais conformado com o vinha pela frente. O que tivesse de acontecer, aconteceria com ou sem a minha participação, ajuda ou pensamentos positivos. Aprendi que era a vida.

Talvez eu estivesse no caminho para ficar depressivo.

Chegando ao hotel onde ficaríamos hospedados eu me identifiquei e subi para o meu quarto, sem paciência para amabilidades e confraternização. O Isaac já estava lá e, ao me ver, já pressentiu meu estado de espírito.

—Murilo ou futebol?

—Ambos.

Sim, era uma mistura desses dois fatores que me deixaram sem fé que dias melhores viriam. Larguei minhas coisas no chão e me joguei na cama, soltando um suspiro forte de consternação, que foi copiado pelo Isaac.

—Problemas e problemas, né? Ah, o amor...

Não entendi seu devaneio e levantei um pouco a cabeça para olha-lo de onde estava na cama, ele parecia estar longe, um fato que não percebi quando entrei, e eu estranhei ainda mais.

—Desde quando você reflete sobre o amor?

Franzi as sobrancelhas quando ele soltou outro longo suspiro. Algo estava acontecendo.

—Só acho engraçado que vocês dois se conhecem a vida toda, mas estão agindo como se tivessem se conhecido esses dias, em uma balada e tudo tivesse dado errado para que vocês ficassem juntos.

Ele acabou divagando e eu achei que isso tinha sido específico demais.

—Tá tudo bem, Isaac?

Levou alguns minutos para que ele voltasse ao momento e reunisse tudo que estava remoendo há sei lá quanto tempo. Quando voltou a falar, parou mais uma, duas, três vezes para suspirar em sinal de derrota, certamente percebendo que não daria mais para continuar falando da sua própria situação disfarçadamente, como exemplo na situação de outra pessoa.

—Conheci uma garota.

Aquilo me surpreendeu. Isaac vivia conhecendo garotas, várias delas em uma noite pra falar a verdade, várias delas se esforçavam para serem conhecidas por ele, então não entendi o que ele quis dizer a princípio. Meu rosto deve ter transparecido isso, já que ele voltou para se explicar:

—E eu meio que, sei lá, não paro de pensar nela.

Arregalei meus olhos em total estado de choque. Isso era possível?

—O que? Como assim? Quem é ela?

Animado pela continuação dessa história inusitada me levantei da minha cama e me joguei na cama dele, seu rosto se contorceu um pouco pela invasão do seu espaço pessoal, mas ele me ignorou pois parecia estar mais ocupado com outra questão.

—Bom, ela é linda... e ela me odeia.

—Como assim? – Foi difícil segurar a gargalhada que borbulhou na minha garganta, mas eu disfarcei com uma tosse. – Como assim ela te odeia Isaac? Achei que isso fosse impossível.

—Mas aparentemente não é.

Respondeu amargurado, soltando resmungos ocasionais e brincando desanimadamente com os fios soltos da sua bermuda desfiada. Ainda segurando o riso, eu sentei e encostei minhas costas na cabeceira de sua cama, tentando entender melhor o que estava acontecendo.

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