14 - Nua

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Chegando perto da localização da caverna ao leste da Republica do Norte, a forte e densa nevasca começava a dificultar a viagem. O helicóptero chacoalhava algumas vezes fazendo com que meu coração quase saísse pela boca, não só meu coração, mas o lanche que eu havia comido mais cedo também. Estávamos todos sentados com cintos de segurança, olhares preocupados e rostos fechados. Aser e Mia estavam na cabine do piloto monitorando a viagem.

– Depois de sobreviver a semanas de torturas no palácio, eu me recuso a morrer dentro de um helicóptero por causa de uma porcaria de nevasca. – Diz Tony ao meu lado. – Até eu explicar pra minha mãe tudo o que aconteceu...

– Não faça piadas com morte enquanto estiver numa situação onde corremos o risco de morrer! – Interrompo-o.

– Ué, se estivéssemos numa situação normal a piada não teria sentido. – Ele diz. Entreolhamo-nos por alguns segundos e depois demos uma risada silenciosa. A graça acabou quando uma turbulência chacoalhou o helicóptero de novo.

Algum tempo depois mergulhamos na escuridão e finalmente aterrissamos em uma beirada em frente à entrada da caverna. Ao sair, sinto o frio chocar-se contra o meu corpo e estremeço, cruzando os braços para tentar me aquecer. Viro-me para olhar o horizonte, mas estava tudo escuro demais.

– Não ande mais, a beirada é logo à frente. – Mia diz pra mim. – Vem, vamos acabar logo com isso. – Eu a sigo.

Na caverna, um dos soldados do formigueiro instala o comunicador com microfone e o aparelho de som, ligados a uma tela para que pudéssemos ver o governador e para que ele tivesse certeza de que somos nós. Depois de todos os equipamentos estarem instalados, o momento havia chegado.

– É agora. – Mia anuncia.

Um frio sobe pela minha espinha e sinto meu coração acelerar. O silêncio de tensão na sala era tão grande que o som dos ventos lá fora chegava a ser sombrio e assustador.

– Isso é como cutucar uma colmeia de abelhas com as próprias mãos e sem luvas. – Diz Megan roendo as unhas ao meu lado. – Nunca se sabe se vai ter a sorte de sair impune ou se vai ser picado, mas a segunda opção é a mais provável. A propósito, nunca faça isso de verdade! – Ela olha para mim dando uma advertência.

Mia aperta o botão que inicia a chamada.

Primeiro bipe, segundo... Terceiro...

"Quem é?"

– Temos assuntos a tratar com o governador Sanz. – Ela diz ainda sem ligar a câmera. – Diga a ele que quem esta falando é a Mia Hayash.

Ouvem-se murmúrios do outro lado da chamada. Vejo Mia respirar fundo, seus olhos vagam pelas paredes da caverna até chegarem a mim.

Mais murmúrios... E depois de alguns segundos, ele finalmente aparece acompanhado de três agentes e usando o sobretudo padrão do governador.

– Senhorita Hayash, não sabe a honra que é para mim, estar falando agora com a mulher que conseguiu esconder um exército na Ilha e tem dado tanto trabalho aos meus agentes. – A voz esnobe de Matthew era inconfundível. Eu sentia repulsa toda vez que eu a ouvia. – Fazer meu exército de idiotas me ofende profundamente. Não gosto de me sentir impotente.

– Com a sua idade, pensei que já fosse algo com que já tivesse se acostumado. – Rebate, com um sorriso malicioso.

Tony, Megan e eu nos entreolhamos escondendo uma risadinha.

– Tenho setenta e três anos. Não sou tão velho. – Matthew deixa o falso tom de voz receptivo e responde de forma séria. – Tenho força suficiente para o que se referiu e também para caçar o seu exército até me certificar de que estejam todos mortos.

O RegressoOnde histórias criam vida. Descubra agora