40 - Descanso aos Heróis

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40

ELLE

Acordo como se eu tivesse apenas fechado os olhos e os aberto dez segundos depois. A minha visão tinha melhorado e eu podia ver Tony ali sentado ao meu lado. Seu rosto relaxado através do vidro, cochilando. Aperto o botão ao lado que abria a capsula, me sentindo uma espécie de robô recém-criado, e sento-me segurando a manta que me cobria.

Pego sua mão, e num súbito movimento ele acorda assustado agarrando o meu pulso.

– Calma... – Digo suavemente. – Sou eu.

– Ah. – Ele esfrega o olho parecendo sonolento. – Como se sente?

– Melhor do que nunca. – Digo com um sorriso. Aos poucos as lembranças dos acontecimentos vão voltando à minha mente. – Eu o vi...

– Viu quem?

– Meu pai... Ele estava lá. No jardim adentro da floresta na Ilha. – Conto, com a mente vagando nas imagens distantes que passavam na minha cabeça, tentando ajuntá-las como se fossem quebra-cabeças espalhados.

– Então é isso que tem depois? Um jardim com as pessoas que amamos? – Ele pergunta confuso.

– Não sei se isso era exatamente "o depois". – Digo. – Só havia ele lá. Ele me disse algo sobre fazer uma escolha...

– Então conversou com ele? – Pergunta Tony, interessado.

– Sim. Era tão tranquilo. E, eu finalmente pude contar a ele, contar o que eu fiz...

– Elle...

– Não. – Interrompo-o antes que ele começasse a falar que eu não tinha do que me culpar. – Eu precisava ouvir dele, ouvir que me perdoou. – Sorrio com a lembrança. – A gente conversou e depois ficamos na ponte, eu o abracei e... – Sinto que meus olhos lacrimejando. As lembranças eram doces, mas dolorosas ao mesmo tempo. – Eu podia tocá-lo de verdade, sentir o seu cheiro de verdade. – Tony se senta na cama ao meu lado e me abraça. Ele passa o dedo limpando uma lágrima que caía do meu rosto.

– Ei... Tá tudo bem. – Ele beija minha testa. – Estou com você, ok?

– Eu sei. – Fungo o nariz e viro-me para ele. – Foi por isso que eu escolhi não ir.

Ele me olha confuso. Eu pego a sua mão e coloco por cima da minha, sentindo-a da mesma forma que havia sentido quando estava no jardim. Ele olha para as nossas mãos e depois olha para mim, parecendo ter entendido.

– Não cheguei até aqui pra no fim te deixar sozinho. – Digo a ele.

Ele estava boquiaberto.

– Eu não sei se é meio egoísta dizer isso, mas estou feliz que tenha ficado. – Ele diz com um meio sorriso.

– Eu também. – Acaricio o seu rosto e puxo-o para um beijo delicado. Tony vai escorregando as mãos até que chega a minha cintura me puxando para perto dele.

Depois de um tempo, que durou menos do que eu esperava, ele me afasta devagar.

– Humm, Mia pediu pra avisá-la quando você acordasse. – Ele se levanta da cama e digita no relógio.

– Se importa de pedir a ela pra trazer umas roupas também? Usar mantas já esta meio fora de moda. – Digo sarcasticamente.

...

Mia chegou com as minhas roupas e fui até o quarto dela tomar um banho, mas ela ainda não havia me contado o que queria me dizer. O que me deixava meio apreensiva. Coloco uma calça legging preta e uma blusa de mangas compridas branca. Saio do banheiro enxugando meus cabelos com uma toalha. Encontro Mia sentada na cama me esperando.

O RegressoOnde histórias criam vida. Descubra agora