37 - O Depois

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MIA

O rosto da Elle parecia pálido demais por baixo da máscara de oxigênio. Nós corríamos contra o tempo com uma maca pelo corredor até leva-la à área hospitalar do palácio. Entramos às pressas abrindo a porta e colocando a maca perto da cápsula e do soro.

– Precisamos de ajuda rápido! – Grito com os enfermeiros de plantão. Eles começam a trabalhar entorno dela, e eu me fasto dando espaço para eles agirem. Na saída passo por uma sala de cirurgia, onde mais médicos trabalhavam lá dentro. Vou para o lado de fora, e sento no chão com a cabeça encostada na parede.

Vencemos.

Mas por que não me sinto aliviada? Agora precisávamos lidar com o caos das consequências da vitória. Eu pensei que assim que terminasse eu sentiria alivio, mas não me sinto nenhum pouco assim. Ainda tinha o discurso a ser feito. Essa provavelmente era a fase mais importante do plano. Mostrar a verdade.

Aser sai de dentro da sala e se senta ao meu lado, soltando um suspiro.

– Sara está na sala de cirurgia. – Ele diz melancólico. – Estão tentando salvar o bebê.

– Então o Sanz falou a verdade? – Pergunto.

– Estávamos tentando ter um filho já fazia um tempo. Os médicos disseram que já estava por volta de três meses e meio de gestação. – Ele balança a cabeça. – Fico me perguntando o porquê ela não me contou antes, mas acho que Matthew a ameaçava constantemente com aquela coisa. – A raiva ardia nos olhos dele.

– E a Sara, como está?

– Ele sabia bem o que estava fazendo quando usou os choques no coração dela. Foi uma morte súbita. – Bufa. – Eu até poderia mantê-la... Trazer a memória dela a tona num cérebro reconstruído, mas... Não seria ela. Não consigo passar o resto da vida me enganando com um robô disfarçado da minha esposa. – Ele explicava, mas ao mesmo tempo parecia perdido em pensamentos.

Ficamos um tempo em silencio. Minha mente ainda estava atordoada demais enquanto os flashes dos acontecimentos das últimas horas passavam pela minha cabeça como um filme acelerado. Para ser sincera eu não esperava estar aqui agora, eu não esperava estar viva depois de tudo.

– Onde ele está? – Aser pergunta depois de um tempo.

– Em uma das celas perto do salão.

Ele se levanta e acena.

– Vou mandar suspender a alimentação e água... É o mínimo de sofrimento que ele merece. – Diz, saindo em seguida.

...

Mais tarde, por volta das dez horas da manhã, Aser foi até a sacada do palácio. Por ser quem todos pensavam ser o filho legítimo do governador e herdeiro do trono, ele era o mais indicado a começar um discurso do porque estávamos atacando o palácio. As notícias sobre o ataque saíram cedo naquele dia e toda a população já estava comentando e querendo explicações. Assim que Aser sobe na sacada, ele aciona os aparelhos de transmissão através de um botão. Logo três drones aparecem a nossa frente para gravá-lo e repercutir a gravação ao vivo em rede mundial (o governador tem esse poder de interromper a transmissão dos canais se for preciso). À medida que as pessoas vão assistindo, hologramas nas cores azuis aparecem no pátio do palácio em direção à sacada, como se eles estivessem ali presencialmente. Pela tela onde podíamos nos ver, eu apareço ao lado direito de Aser junto com Issacar do lado esquerdo, e os cinco conselheiros sentados atrás de nós, que já estavam a par da situação.

– Prezados cidadãos da Imperial e do mundo. – Ele começa. Estávamos todos arrumados de acordo, nós os soldados com vestes pretas de missão e Aser com uma roupa mais formal. – Meu nome é Aser James Sanz, estive sumido há algum tempo. Mas venho através dessa transmissão, informá-los... Que o Governador os traiu esse tempo todo. – Em meio a barulhos de espantos e vaias, Aser se vira e pega os documentos ao seu lado. – O Governador Matthew Sanz assassinou e manteve cativos milhares de pessoas sem habilidades na Ilha do Sul. Suas famílias e entes queridos mandados para lá por segurança estavam sendo mortos e torturados pela fome, violência e doenças naquele lugar, ataques orquestrados pelo governador. Em minhas mãos tenho documentos com selos oficiais que comprovam seus crimes, como o tratado de silencio, assinado por todos os regentes de todos os países ao redor do mundo, para manter segredo sobre qualquer ataque à Ilha. Tenho ainda aqui um recibo no valor de cento e cinquenta mil bitcoins para o sequestro de Thomas Volant. – Aser mostrava os documentos nas câmeras enquanto os explicava. – E além desses recibos tem mais outros direcionados a pessoas que fizeram um trabalho sujo para ele. Trabalho sujo pago com dinheiro público.

O RegressoOnde histórias criam vida. Descubra agora