41 - Xeque-Mate

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MIA

Eu estava com Aser na sala dele, programando o evento de homenagem aos soldados na sacada do palácio. Fazia quatro dias desde que eu o vi torturando o Sanz pela primeira vez na cela. Ontem à noite, o vi indo para lá novamente e voltando para os seus aposentos uma hora depois. O rosto de Aser fazendo planos parecia lívido de culpa ou qualquer desconforto... E era isso que me preocupava.

–... Depois dos vinte e quatro tiros em homenagem as vinte e quatro Villas da Ilha do Sul, nós soltamos as pombas. – Ele explica. – Mas isso será o grande final. Antes disso faremos a homenagem aos mortos. Já pedi ao Issacar que preparasse a lista... Acho que será um longo discurso. – Diz ele com um sorriso amarelo. – O que acha?

– Está perfeito. – Digo com um leve sorriso.

– Então é isso. – Ele conclui o programa. – Enviarei isso para o Dylan, ele cuidará da preparação da cerimônia.

– Aser... – Chamo a atenção dele. – Precisamos conversar sobre um problema.

Ele se endireita na cadeira.

– O que houve? – Pergunta.

Começo a pensar em como eu poderia iniciar essa conversa.

– O quanto a nossa amizade significa para você agora? – Pergunto. – Quer dizer, temos trabalhados juntos desde o inicio, então para você, somos mais colegas de trabalho ou mais amigos?

Ele faz uma cara confusa.

– Mia, você é nesse momento a pessoa que eu mais confio no mundo. Então sim, não somos apenas colegas de trabalho. – Ele coça a cabeça, emaranhando sem querer os fios. – Mas porque esta me perguntando isso agora?

Eu entendia Aser. Perfeitamente. Eu conseguia imaginar o quão doloroso deveria ser estar na pele dele. Com certeza ele tinha todos os motivos do mundo para fazer isso, e eu não acho injusto. Mas a minha preocupação era que ele não conseguisse se sentir vingado, que ele nunca conseguisse suprir a necessidade de quitar a divida que o Sanz tinha com ele. Meu medo era que Aser se prendesse tanto a sua vingança que acabasse se perdendo no meio dela, e se tornando o que ele repudia.

– Eu sei o que está fazendo, com o Sanz. – Digo aproximando-me, apoiando os braços em cima da mesa luxuosa de madeira escura. – Eu sei das torturas, e que esteve indo até lá todas as noites antes de dormir. – Ele balança a cabeça. – Olha, eu entendo! Entendo perfeitamente, e acho que tem razão! Ele merece isso o que está fazendo e muito mais por todos os crimes que ele cometeu. Mas será que é seu trabalho executar a justiça? Não é melhor deixar que o tribunal o condene e que ele passe o resto da vida apodrecendo?

– Acha isso suficiente? – Aser rebate. – Matthew não se preocupou com a justiça quando mandou matar o Nate e assassinou a Sara, e tentou assassinar a minha filha antes mesmo dela nascer!

– Exato! Ele fez o que fez sem pensar na justiça, mas você não pode ser como ele, Aser. – Ele se levanta de sua cadeira e começa a andar de um lado para o outro na sala com um semblante perturbado. – O mundo precisa de um governador diferente, que faz o que é certo mesmo que o certo seja o contrario do que ele quer realmente. – Digo virando-me para ele. – Você vai fazê-lo pagar pelos crimes que cometeu com torturas, e depois? Vai matá-lo a sangue frio?

– A morte seria fácil demais.

– Então vai torturá-lo pra sempre? – Ele havia parado e cruzado os braços. – Não percebe aonde isso vai levar você? Se você consegue torturá-lo pouco a pouco todos os dias até a morte, então quando isso acabar, terá se tornado alguém não tão diferente dele.

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