20 - Arapuca

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ELLE

Depois que o helicóptero do formigueiro aterrissa. Eu chamo um carro para me levar até o palácio do governador. Durante o caminho, eu olhava ás arvores e o céu, as pessoas passando na rua, e sentia como se eu estivesse vivendo um momento repetido. Mas da ultima vez, Tony estava em perigo e meu pai iria morrer posteriormente. Agora eu estou aqui e estou determinada a não deixar que ninguém morra dessa vez.

Desço do carro, e os guardas impedem que eu prossiga. Um dos agentes que estava perto do portão de entrada me vê e murmura alguma coisa no microfone.

– Podem deixá-la passar! – Ele diz ao guarda, que após me fuzilar com o olhar, permite a minha passagem.

Ao adentrar o palácio, o mordomo de Matthew imediatamente vem ao meu encontro.

– É bom revê-la. – Ele diz acompanhando-me pelos corredores.

Permaneço em silencio durante o tempo que em andamos pelos corredores até chegar à sala principal, onde Matthew estava diante de uma mesa farta.

– Que visita agradável! – Exclama ele. – E bem na hora do almoço! Sente-se, Ellena! – Ele diz apontando o lugar ao lado dele, enquanto um dos agentes pega a minha bolsa. Eu sentia meu estomago revirar ao vê-lo. Cada traço da sua personalidade doentia me trazia profundo ódio e náusea.

"Se concentre" Eu digo a mim mesma em pensamento. Eu precisava ficar ali e manter os membros do formigueiro e os moradores da liga a salvo... Ao menos por enquanto. Eu respiro fundo e faço uso de todas as minhas forças para estampar um sorriso.

– Surpreso em me ver? – Pergunto sentando-me.

– De forma alguma. – Ele balança a cabeça, franzindo a testa. – Na verdade, esperava que viesse antes.

Olho para o prato onde um tipo de comida exótica com um molho branco e algumas lascas de banana o preenchiam. Dou uma garfada e experimento. O gosto era bom. Eu não tinha percebido o quanto estava com fome até engolir a comida.

Depois de alguns minutos de paz, Matthew decide abrir a boca.

– Deve estar com muita fome, nunca ficou tão quieta perto de mim.

– Acho que quando se trata de você. – Engulo a comida que eu estava mastigando. – Falar não adianta muita coisa.

– Humm. – Diz ele se endireitando na cadeira. – Pensar assim é um bom começo. – Ele dá uma garfada no prato. – Podemos tentar começar direito dessa vez.

Olho para o espaço vazio do resto da mesa e o rosto machucado de Tony me vem à mente. A angústia e o desespero começam a me assombrar como lembranças de um pesadelo recente. Balanço a cabeça tentando expulsar aquelas imagens que só me causariam dor. O amargo do passado não combinava com o gosto da comida. Mas é claro que esse tipo de coisa não se esquece apenas afastando os maus pensamentos. Matthew deixou marcas visíveis no Tony, no meu pai... No mínimo, ele também merecia uma. A ideia me soa extremamente convidativa.

Mas eu não posso fazer nada impensado, prometi ao Tony que voltaria viva e eu estava a fim de cumprir essa promessa. Mesmo que eu não me importe de morrer se com isso eu levasse o governador junto comigo.

Não digo nada e apenas continuo a comer, tentando não pensar no assassino que estava sentado a menos de dois metros de distancia de mim.

...

Depois do almoço, Matthew e alguns agentes me escoltaram pelos corredores levando-me em direção ao lugar onde eu provavelmente passaria um bom tempo. Mas nós não estávamos nos mesmos corredores das celas, esses eram diferentes, luxuosos e com janelas. Caminhamos até chegar a uma porta de madeira que abriram para mim.

– Um quarto? – Pergunto confusa.

O pequeno cômodo possuía uma cama, um guarda roupas e uma janela com cortinas por onde a luz do sol passava e o iluminava.

– Não há agora nenhuma utilidade em tê-la como minha prisioneira, senhorita Volant. – Diz Matthew de forma diplomática. – Concluí que um quarto seria o mais adequado aos seus novos fins. – O tom sugestivo de sua voz revelava ideias novas e qualquer coisa que venha da mente dele me causava perturbação.

Entro devagar no quarto, observando de dentro. Não havia muitos detalhes, apenas uma parede comum pintada de uma cor bege clara e cama de madeira escura. Vou até a janela e olho para a vista que dava para os fundos do palácio, onde havia alguns soldados armados e uma grande área verde.

Viro-me para Matthew que continuava parado olhando para mim.

– Por que...?

– Não entendi. – Ele finge um olhar confuso.

– Por que eu estou aqui? – Pergunto. – Por que esta fazendo tudo isso?

Ele dá uma risadinha.

– Essas não são as principais perguntas da vida? As perguntas que todos nós nos fazemos em algum momento de nossos dias perecíveis? – Ele fala como se estivesse ponderando sobre o assunto. – Por que estou aqui, por que estou fazendo isso... É engraçado como muitos de nós passam a vida inteira sem ter uma resposta.

– Não está respondendo a minha pergunta. – Interrompo-o.

– Exatamente. – Diz. – Enquanto muitos se vão sem ter uma resposta certa os jovens se apressam para recebê-la.

Continuo encarando-o, esperando que ele me diga mais do que códigos e reflexões sobre a vida.

– Espero que se sinta confortável na sua estadia. – Diz ele já sem olhar para mim, saindo pela porta. – No momento certo... Terá a sua resposta. 

O RegressoOnde histórias criam vida. Descubra agora