23 - Autossuficientes

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MIA

Lavo o rosto na pia do banheiro e, quando encaro meu reflexo no espelho, estranho os cabelos loiros. Levanto uma das sobrancelhas e bufo, achando graça de como aquilo ficava artificial demais em mim.

Saio do banheiro e chego ao quarto, onde Aser ainda dormia. Após o almoço, o Rei nos convidou para que descansássemos da viagem antes de retornar a Dreva. O aposento tinha duas camas de solteiro e um banheiro de onde eu havia acabado de tomar um banho. Saio do quarto e começo a passear pelo palácio, usufruindo daqueles minutos raros onde eu me sentia protegida para vaguear por aí sem o risco de ser sequestrada ou vista por alguém. Quando estou de volta à sala de recepção, observo a vista extensa e verde pela janela. A lua já aparecia sutilmente no céu que já estava escurecendo, dando fim a mais um dia. Mais um dia em que ainda estamos correndo do governador.

– Vocês partirão hoje? – Pergunta uma voz que me faz olhar para trás subitamente e passar a mão na coxa onde geralmente eu carrego uma pistola. O frio no estômago de não localizá-la e me sentir vulnerável, passa logo assim que localizo o dono da voz.

– Creio que sim. – Respondo soando como um suspiro de alivio ao príncipe Nate.

– Lamento o meu pai não ter podido ajudar. – Ele diz aproximando-se da janela para olhar para fora também. – Essa é uma das partes ruins de ser um rei, ter que por varias vezes optar pelo país ao invés de optar pelo que é correto. Eu tenho certeza que ele queria fazer algo a respeito.

– Eu compreendo. – Digo com um leve sorriso.

Volto a olhar para fora e ficamos lado a lado. A proximidade me deixa um pouco desconfortável, mas ignoro isso em nome da cortesia e concentro-me no horizonte. Eu nunca estive em um palácio de um rei, então, apesar das circunstâncias não serem boas, permito-me sentir prazer ao apreciar a vista. Pode ser uma das poucas coisas belas que verei em toda a minha vida.

– Mas eu não sou o rei... – Nate diz, quebrando o silencio. – E sinceramente não vou muito com a cara do Sanz.

Olho para ele de relance e vejo-o dar um leve sorriso de lado.

– Eu tenho alguns assuntos pendentes com o presidente da Republica do Norte. Pendências que o fariam me fazer um grande favor se eu pedisse. – Ele olha para mim com um sorriso malicioso. – Ao invés de voltarem à Dreva com o rabo entre as pernas, podemos ir até Silther para quitarmos o favorzinho que eu tenho com o presidente Flynn. – Ele se afasta do batente da janela. – Conseguirei o exército que precisam. Sei que não é um dos melhores, mas é melhor do que só o que o formigueiro tem.

Sorrio, impressionada.

– Seria um grande avanço. – Digo.

– Ótimo. – Ele diz. – Partiremos em vinte e quatro horas. – Ele se vira para sair. – Eu sei que as camas dos aposentos do palácio são muito confortáveis, então jogue um balde de água no Aser se ele não acordar à tempo.

O RegressoOnde histórias criam vida. Descubra agora