Bem-vindos à normalidade

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Era nosso primeiro dia de normalidade depois do caos. Acordei Jade para a escola, tomamos café da manhã juntos, nós três: Eu, ela e Graça. Parecia ainda mentira que toda aquela bagunça tinha acabado, poderíamos agora ter uma vida comum. Rimos, comemos muito pão de queijo com doce de leite e seguimos nossa rotina. Naquele dia fui muito bem recepcionado no trabalho, quando eu e Graça chegamos, fomos recebidos com palmas e abraços calorosos. O capitão queria que eu ficasse mais uns dias em casa, mas eu sinto falta da minha rotina, não consigo ficar parado. O caso ficou muito famoso, por ser um escândalo de um grupo muito influente no país, então aquele dia foi de muitas entrevistas, conversas e declarações.

Na metade do expediente, chamei Graça para almoçar. Seria, de fato, um primeiro encontro oficial, sem medo, sem estarmos disfarçados, sem alguém estar doente ou em perigo.

- É, meu amor, conseguimos! Estamos livres da veludo azul, saudáveis, vivos... Nem consigo acreditar que finalmente eu posso dormir em paz...

- Nem me diga... Ainda parece mentira que não preciso me preocupar mais com isso, acho que vou levar um tempo ainda pra acostumar. Mas, vamos colocar um ponto nesse assunto, não aguento mais. Vamos falar de outras coisas, do que você quer falar?

- Hmmm... não sei, o dia está bem bonito hoje, se não fosse horário de trabalho, a gente poderia dar um passeio!

- Mas o seu desejo é uma ordem, vou resolver isso num minutinho!

Graça fez uma cara surpresa, mas continuou com o sorriso no rosto. Liguei para o Capitão e perguntei se não poderíamos folgar nessa tarde, que poderíamos repor em outro momento, quando eu comecei a explicar ele nem me deixou terminar.

-André, vocês nem eram pra ter voltado essa semana. Aproveitem e fiquem mais um dia em casa, pensem como um bônus pelo trabalho duro que vocês tiveram e por tudo que passaram por causa da veludo azul, vocês merecem. Mas, você nunca foi de pedir folga, tá apaixonado mesmo, hein rapaz? Aproveita, tô feliz por você.

Enquanto eu ouvia aquele "metade sermão-metade elogios" eu olhava pra Graça que estava sorrindo e fazendo aquela cara de curiosidade com os olhos que era de derreter qualquer coração. Sorri de um jeito sem jeito enquanto o capitão me falava aquilo tudo. Realmente, como essa mulher me mudou... E foi sem eu perceber, quando me dei conta eu seria capaz de morrer por ela.

Me despedi do Capitão e desliguei o telefone. Peguei as mãos de Graça, beijei e falei enquanto as segurava: - Hoje vai ser oficialmente nosso primeiro encontro. E daí que estamos namorando já? Vamos fazer tudo como deveria ter sido se a gente não estivesse no meio de uma investigação fatal.

Graça assentiu com a cabeça e com um sorriso e terminamos de comer.

Depois de pagarmos a conta, fomos para o carro, nosso destino seria o Jardim Botânico, depois o Parque Lage e aí combinamos de tomar um sorvete depois. Graça estava animada, fazia anos que ela não ia lá e eu também. Antes de sair, liguei para Alana para ver se ela não poderia, por hoje, ficar com a Jade até um pouco mais tarde, claro, pagando as horas extras.

- Seu André, por mim sem problemas... Inclusive, se você quiser eu posso ficar com ela hoje a noite também, quer dizer, se quiser, eu posso levar ela pra dormir comigo pra vocês ficarem mais... tranquilos.

Eu tinha entendido o que a Alana quis dizer e apreciava muito ela querer ajudar para que eu e Graça pudéssemos ter privacidade, mas sei que ela não tinha essa obrigação de cuidar da Jade durante 24h.

- Alana... Você tem certeza? Olha, eu vou calcular isso tudo certinho, viu? Mas, primeiro eu vou ligar pra Jade pra ver se tá tudo bem por ela, os últimos dias foram bem conturbados e...

- Pai, sou eu! - A Jade falou no telefone.

- Fui eu que dei a ideia pra Alana, seu bobinho. E nós vamos assistir um filme e comer pipoca com leite condensado, eu sei que você e Graça precisam de privacidade, não sou mais criança... Deixa eu dormir na casa dela, por favor!! E vê se cuida dela direitinho, viu?

Eu fiquei besta com a ousadia da criança. Não pude deixar de rir no telefone. Graça, do meu lado, perguntou o que estava acontecendo e por que eu estava rindo. Acenei pedindo pra ela esperar um minuto.

- Tá bom, filha. Mas depois vamos conversar sobre essa ousadia sua, danadinha.

Me despedi de Jade e respirei fundo.

- Então, a Alana vai ficar com a Jade hoje à noite. Pra gente, bom... - Parecia mais fácil verbalizar isso na minha cabeça - pra gente ter... hm... mais privacidade... hoje... à noite - disse enquanto evitava contato visual com a Graça, olhando pra frente. Eu de repente tinha 16 anos de novo?

- Ah... entendi...

- Olha, Graça... Eu não quero te pressionar a nada, isso não quer dizer que a gente necessariamente precise, bem... você pode dormir no quarto da Jade, a gente pode jantar e...

- André, calma... Eu... gostei da ideia... - Disse ela ao dar um sorriso tímido.

- Mas, vamos pro nosso passeio agora senão não vai dar tempo de a gente ir em tudo... - Disse eu pra tentar deixar o clima menos tenso.

- Sim, vamos! - Expirou Graça.

Combinamos de, depois do passeio, eu deixo ela em casa, vou pra casa, faço o jantar, me arrumo e depois ela vem pra gente jantar juntos. E o dia, apesar de já estar na parte da tarde, estava só começando. 

Entre a paixão e a razão - André e GraçaOnde histórias criam vida. Descubra agora