Entre a paixão e a razão - André e Graça

Sacrifícios.

Por: André

Fui chamado na sala pra conversar com nosso chefe, já ciente de que eu estava encrencado. Sentei na cadeira, e ele começou:
- André, eu preciso conversar um assunto muito sério com você, em que vou precisar do seu total comprometimento.
- Cla-claro, senhor. Eu tô aqui pra dar o meu melhor.
- Eu tenho visto o seu esforço pra essa investigação da veludo azul, mas tenho visto também que a gente tem andado em círculos... Você tem alguma ideia do que pode estar acontecendo, André?
- Olha, senhor, eu não sei. Toda vez que achamos alguma coisa, perdemos. Quando encontramos um suspeito, um rosto, quase perdemos a Graça...
- Sim, sim. E é por isso que eu tenho desconfiado de que temos um infiltrado aqui na delegacia.
-Como assim, senhor? O senhor tá querendo dizer que...?
- Sim, André. E eu acredito que seja alguém da sua equipe. Eu tenho visto o Pedro muito sumido ultimamente, você sabe por onde ele anda?
-Bom. O Pedro tá infiltrado na peixaria no Vidigal pra tentar descobrir algo, pelo menos é o que ele diz.
- Entendi. E o que ele já descobriu até agora?
- Sinceramente? Nada... - falei num tom desconfiado.
- Entendi... bom, eu primeiro estava suspeitando de você ou da Graça. Mas me pareceu muito real o encontro de vocês depois do sequestro e a sua atitude, que poderia colocar sua carreira em risco...
- Olha, senhor, eu queria pedir desculpas por isso, eu sei que eu e Graça somos colegas de trabalho e não seria legal a gente ter nada, mas minha decisão não foi pessoal, eu faria isso por qualquer colega e...
- André, de início eu pensei em te punir sim, por toda essa situação. Mas daí eu fui ler os Arquivos da investigação, juntando com o sequestro da Graça, isso me levou até o Pedro. André, eu tenho quase certeza de que o Pedro faz parte dessa quadrilha. Eu preciso descobrir isso, e preciso de você. - ele disse apontando para mim com as sobrancelhas arqueadas.
Suspeitar de alguém, eu entendo. Mas ele parece estar confiante que é o Pedro. Lembrei de todas as vezes que ele sumiu, que ele dava pra trás em estratégias, dele minimizando o meu afastamento. Então afirmei:
-  O senhor pode contar comigo. Como faremos?
- Eu já comecei a agir. Espalhei o boato de que vou te afastar. E vou. Mas não oficialmente. Eu quero que todos da delegacia, sem exceção, pensem que você está afastado, isso inclui a Graça, não sei o tipo de relação que vocês têm, mas é por um tempo. Não podemos dar margem pro Pedro desconfiar.
- Entendi... mas como assim, eu vou ser afastado, não vou? Como as coisas vão se desenrolar?
- Quero você investigando exclusivamente o Pedro de casa. A Graça vai tomar conta da investigação oficial da veludo azul, mas ainda falta uma coisa.
- o que, senhor? Pode falar.
- Eu preciso que você se afaste da Graça. Eu vou estar cuidando dela, não se preocupe. Mas eu preciso dela o mais longe de você. Temo pela segurança dela.
- Caramba... me afastar tipo totalmente? Tipo nem termos amizade nem nada?
- De preferência briguem, isso a manterá longe. Mas se não der, só se afaste. André, mulher é coisa de doido... eu sei do que eu to falando. Ela é uma policial. Se ela ficar te visitando, não sei, tendo muito contato com você, ela vai acabar descobrindo. E não esqueça, ela quase foi morta por esse pessoal. Se a Graça descobre que suspeitamos do Pedro, eu não sei como ela pode reagir e o que isso pode gerar pra ela... Preciso que você se afaste dela pela própria segurança dela.
- Entendi, senhor. Eu vou fazer isso. Pode contar comigo. - Eu disse sem entender muito bem como faria aquilo, e triste porque tudo o que eu queria era estar com essa mulher.
Saímos da sala e ali mesmo já começamos o disfarce. Encontrei Graça ao sair e a nossa conversa foi extremamente difícil pra mim. Mas eu nem imaginava como seria pior nos próximos dias, ter que afastá-la de mim quando tudo o que eu estou fazendo é tentar protegê-la.