As 10 Lições Para o Paraíso (Hot)

No carro

No começo, Charlotte pediu que eu ficasse quieto, pois segundo ela, dirigir deveria trazer paz, mas eu não conseguia me conter, principalmente depois de passar a noite pensando nas poucas informações que eu tinha a respeito do passado dela.

Queria que aquela mulher se revelasse para mim, que me dissesse tudo que estava em sua mente,queria conehcer mais do que as linhas que compunham aquele seu corpo perfeito. O mistério que era Charlotte me preocupava,mas como um seguidor fanático, eu tentava me contentar com suas meias palavras.

E até aquele instante eu sabia que iamos ao Rio de Janeiro, que ela tinha um amigo lá e que precisava tomar cuidado

-Quanto tempo pretende ficar no Rio?

-Não posso precisar até resolver o que preciso, mas geralmente não demora, volto em um ou dois dias!

Anuiu, era a quinta pergunta que eu fazia e ela aparentemente estava insatisfeita com tantos questionamentos ou apenas olhava para mim tentando convencer a si mesma que eu estar ali no banco carona não era um surto psicótico. Por outro lado, eu apenas olhava para ela como se sua mão no volante fosse a paisagem mais bonita do mundo.

"Faria quaisquer coisa por você!"

Ficamos em silencio e quando ousei olhar oara fora e as árvores tomavam os arredores da estrada, minha atenção foi tomada novamente por Charlotte cantava uma música internacional do tempo de meu pai enquanto batia os dedos de leve no volante, eu não conehcia a letra muito bem,mas ela aparentemente sabia cada verso

-Posso te fazer uma pergunta?

-Outra? Monta um questionário que eu respondo depois!- Ela me olhou, ainda acompanhando a batida da música -Não conhece essa música? -Disse desinteressada ao olhar para fora

-Não é isso! É sobre outra coisa! Bem, você me disse que matou um...

Charlotte revirou os olhos e aumentou o volume do rádio e cantou o refrão bem alto

-Cala a boca!-Ela disse e tocou meu rosto antes de voltar sua atenção a estrada e a música

-Era para eu ser o infantil aqui! -Falei quase gritando ao abaixar o som

-Eu já não te queria aqui, então não tem direto a fala!

Aquela frase doeu, eu sábia que ela não tinha a intenção de me ter naquele carro, mas não precisava ser tão direta. Suas palavras as vezes me faziam parecer vulnerável, mas ela não se importava e muito menos se arrependia do que me dizia.

-Não responda se não quiser, mas, desde que você me disse que matou um homem e que está sendo perseguida, eu não consigo pensar em outra coisa.

Charlotte aumentou a música, coloquei a mão no botão e o girei, diminuindo o volume

-Faça isso mais uma vez e eu te dou um tapa!

Sorri para ela

-Pervertido!

Rimos e eu decidi insistir-Só responde... Por favor!

Charlotte suspirou-Que porra você quer saber? Eu não estou na merda de uma entrevista,não te devo explicações!-Me olhou ao passar a marcha

Sabia que ser direto sobre os motivos que a fizeram cometer um crime, aumentaria seu descontentamento, então decidi questionar outra coisa e para não ficar obvio que eu recuei seria sobre o mesmo assunto -Como foi a sensação de tirar uma vida?

Charlotte suspirou, obviamente não esperava aquela pergunta e eu meio que esperei pelo tapa-É sério?... Está mesmo me perguntando isso como quem quer saber qual minha cor favorita ou que calcinha eu usei na minha primeira comunhão?

-Eu não iria tão longe...calcinha e igrejas são demais para mim!

Charlotte riu alto e eu me perdi naquela gargalhada fanhosa

-Quer mesmo saber?-Me olhou por cima do ombro

-Sim! -Disse, mesmo notando que ela parecia impactada não parei de encará-la

Ela suspirou-Sinceramente? Foi terrível e assustador, pensei que ia superar, que matar ia resolver meus problemas... Tola! Eu não dormi por dois anos, ainda tenho pesadelos,mas no dia eu entrei em pânico, vomitei todas as noites daqueles mês e não comia nada... Meu cabelo e minhas unhas estavam fracos e fiquei com medo só de me olhar mo espelho, fechava os olhos e via o rosto dele!

-Isso é terrível!

Charlotte fez um esforço tremendo para se recompor,notei isso quando ela soprou o ar dos pulmões e arrumou a postura apertando o volante como se fosse cair para fora do carro -Eu espero que você nunca precise fazer nada parecido! Não é como nos filmes, ninguém supera tamanha violência!-Ela olhou para o retrovisor e deu seta para direita -Mas agora é mais fácil, eu me convenci que ele mereceu e eu... Consigo viver com isso, eu tento viver com as escolhas que eu fiz e com minhas consequências!

-Nunca me dirá o motivo dessa morte, não é? O que ele fez a você?

Charlotte respirou fundo -Estava demorando! Nossa conversa não vai chegar a esse ponto nunca,contente-se com o que eu tenho a dizer

Suspirei e ouvi o radialista com sua voz animada trazer informações sobre o trânsito,me encolhi no banco e olhei para fora e meus pensamentos estavam no que poderia ser feito caso alguém tentasse nos perseguir como na vez que estavamos no carro, ter a vida em perigo era assustador,mas eu não temia por minha vida,mas pela dela.

-Nico?

Olhei para Charlotte e ela ainda estava com os olhos focados na estrada

-Você acha que sou uma pessoa ruim?

Não precisei pensar para responder -Não, acho que fez o que tinha que fazer!

Afirmei com certeza demais para quem não sabia os motivos que a levaram a assassinar alguém

Charlotte apertou meu joelho-Obrigada por isso bebê!