Vicio

1.4K 70 3
                                    

Não dormi pensando nos labios de Charlotte, eu queria aqueles labios em uma área diferente de meu corpo, mas um beijo havia sido um começo, um belo começo.

Nosso beijo foi a prova de que ela não estava tão brava e de que eu não era louco ou iludido.

Charlotte não apareceu para fumar, fiquei na Janela até as quatro da manhã pensando que ela em algum momento surgiria,  mas para meu desgosto as luzes de seu apartamento estavam apagadas.

Desistindo, deitei-me novamente em minha cama, quando ouvi o barulho na porta

—Pai?—O chamei ao sair do meu quarto—Pai?...Porra—Exclamei ao vê-lo deitado no sofá

—Que foi?

—Onde você esteve?

Meu pai colocou as mãos na cabeça—Onde eu...—Ele fechou os olhos e respirou fundo

—Bebeu? Você voltou a beber?

Meu pai levantou-se—Eu não bebo,você sabe disso,não mais!— Sua voz estava falha e arrastada.

Balancei a cabeça negativamente—Jura? Seu casaco está molhado, seu suor fede a álcool,seu hálito é amargo,você não está falando direito, seu andar é  vacilante e...

—Encarnou Sherlock Holmes?—Meu pai zombou ao abrir a geladeira

—Não é preciso ser um especialista para notar seu vício. Aprendi cedo que quando você chega depois de meia noite é porque a bebida te trouxe!

Meu pai estava desconfortável, mas bebado demais para discutir então  apenas gritou "Me respeite"

—Eu vou para meu quarto, tente não beber mais!

Voltei ao meu quarto e tranquei a porta.

—Nícholas...—Chamou-me ao bater na porta,o ignorei.

Já fui o filho que cuida do pai bêbado,mas ultimamente,tenho ignorado as recaídas dele e evitando estresses ou um soco, como da última vez.

(...)

Naquela tarde fui convidado a ir ao alcoólicos anônimos com meu pai, ele disse que conversaria com o psicologo que organizava o grupo de apoio.

Eu não entendia o porquê de ter sido solicitado por ele,mas resolvi não protestar, minha raiva não me levaria a lugar nenhum.

—Eu estou muito mal em ter te decepcionado,Nick

—Não me chame assim...

Meu pai entrou na igreja e eu o acompanhei—Era como ela te chamava.

Odiava quando ele falava de minha mãe como se não sofresse, seus olhos negavam sua tentativa de evitar o nome dela para parecer indiferente.

—Custa dizer Camila? Camila,pai é assim que "ela" se chamava

Meu pai ignorou-me e fomos a sala onde as reuniões do AA aconteciam.

Cumprimentei doutor Arthur e ele educadamente apertou minha mão

—Se trouxe um ente querido é porque teve uma recaída. Sentem-se

Meu pai suspirou e eu entendi o motivo,ele havia me levado ali porque finalmente admitiu ao doutor que tinha cedido ao vício.

—Eu disse ao meu filho que tinha um compromisso e realmente tinha, mas por não conseguir pegar o caso,não pude resistir...

—Quanto você bebeu?—perguntou o Doutor

—Quatro taças de vinho barato e algumas latinhas de cerveja.Foi o suficiente para chegar em casa alterado!

Fiquei quieto e o deixei falar,o psicólogo me encarou por um instante e notei que precisava dizer algo.

—Seu pai acabou de lhe pedir desculpas!

—Eu ouvi...—Menti—Espero que ele consiga manter-se sóbrio que, a queda de ontem não signifique nada.

Meu pai tocou meu braço e eu olhei para meu relógio,seis minutos naquela sala e eu já me sentia confinado.

—Jorge,você precisa saber controlar seu vício, assumi-lo e aprender a se desculpar quando isso acontece,por isso peço que tragam alguém especial quando vinherem após a recaída,para terem confiança. Nosso lema, dizer seu vicio é ter poder sobre ele,é dominá-lo—Repta comigo—"Eu sou alcoólatra e desse vício me livrarei,gozarei das Glorias de Deus quando apenas água benta me bastar"

Assim que meu pai começou a falar, prestei atenção no doutor. Conhecer seus vícios e dominá-los, eu não possuo vicios-disse a mim mesmo

Talvez ter esperado Charlotte por toda madrugada signifique que eu preciso de outras distrações, não que estou viciado nela, por mais que haja uma linha tênue, existe uma diferença entre vício e obsessão,logo eu me considerava obsecado por aquela maravilhosa e curvilínea mulher, e um pouco viciado ou tentado a me viciar em seus lábios.

—Nicholas,você tem um papel muito importante na vida de seu pai—Começou o doutor—Como filho dele,seu dever é apoiá-lo mesmo quando ele beber.

E se ele quiser me bater? -pensei em perguntar, mas me calei para que aquilo acabasse logo.

—Está disposto à ajudar seu pai?

—Com certeza, doutor! —Confirmei e meu pai abraçou-me de lado.

(...)

Caminhei com meu pai de volta ao condomínio e senti cada nervo do meu corpo pulsar ao vê-la após  nosso beijo, seus lábios  tingidos de vermelho, seus cabelos soltos, a calça apertada e a camiseta discreta,  mas colada.  Passei por ela e a vi sorrir,  eu estava prestes a seguir ao meu prédio quando vi meu pai parar para dialogar com ela.

Voltei a eles e o ouvi dizer meu nome.

—Ele é astuto, perspicaz e muito inteligente —Charlotte bateu a porta do carro

—Ele sempre foi astuto, assim como eu! —Meu pai disse

Encarei meu pai, um sorriso largo, falando de maneira correta e séria, o jeito que ele a media dos pés a cabeça... Merda ele está  flertando

—Veremos a nota dele na próxima prova! —Disse Charlotte— Estarei a sua espera amanhã Nicholas.

—Ele irá com certeza, a propósito,  dependendo da nota dele eu poderia te pagar um almoço

—Pai, você nem cozinha! —Falei e ele esbarrou em mim com o ombro

—Apenas para agradecer sua ajuda!

Charlotte passou a mão pelos cabelos jogando uma mecha no rosto—Não é  ajuda se estou cobrando setenta por mês, mas pensarei no caso,meninos!

Ela tocou meu rosto como se eu fosse uma criança e afastou-se, ao menos ela havia me encostado, vi meu pai acenar e respirei fundo

—Que merda é  essa?

—Ora a Lottie é uma bela mulher, solteira,  inteligente...

—Lottie?  Que porra é  essa?

—Olha a boca!

—Ela não é mulher para você! —Falei ao seguir na direção do meu predio

—Nicholas sua mãe morreu há anos

O ignorei e entrei no elevador. Meu pai podia achar oque quisesse, mas não teria aquelas mulher, ao menos não antes de mim.

As 10 Lições Para o Paraíso (Hot)  Onde histórias criam vida. Descubra agora