Domingo

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Charlotte matou alguém e, por mais que eu dissesse que não me importava, fui dormir pensando nisso.

Ela tinha se metido com gente poderosa e isso me assustava um pouco, queria que ela estivesse segura, mas eu não conseguiria mantê-la assim.

Olhei para o lado ainda deitado na cama e vi meu pai, apagado e roncando, aquilo estava se tornando a cada dia mais difícil, dormir com ele ao meu lado não era a coisa favorita do meu dia.

Ouvi um barulho na porta e levantei correndo, sai do quarto e fui para sala, onde apenas ouvi a porta ser trancada, Charlotte estava saindo.  Eu não sabia para onde ela ia, mas senti medo por saber que alguém podia está a perseguindo.

Andei até a janela e esperei por alguns minutos, até ela finalmente aparecer no estacionamento. Esperei que ela saísse de meu campo de visão para fechar a janela

Sentei no sofá, e tentei não me perguntar ou supor para onde ela havia ido.

Olhei para o relógio e ainda eram sete e dez, eu realmente tinha acordado antes das dez em um final de semana

"Tente dormir com seu pai roncando! "

Levantei decidido a ir na cozinha, tomar um café e comer um biscoito, mas no instante em que abri o armário para pegar a cafeteira, ouvi o toque alto de um telefone. 

Com certeza não era meu celular, pois o mesmo vivia no silencioso.  Ignorei o barulho e coloquei a cafeteira na tomada, o telefone parou de tocar e pude colocar o pó e a água no local indicado.

Sentei-me a mesa e novamente o telefone tocou, o som estava alto e ao mesmo tempo abafado. Ainda com preguiça, levantei e procurei, olhei o sofá e por mais que o som parecesse vir dalí, demorei para perceber que o telefone estava entre as almofadas.

Peguei o aparelho e ele parou de tocar, não era um smartphone, um modelo daquele provavelmente não era muito fabricado.  O celular era preto, telinha pequena e quadrada, sem camera e com teclado de números de um à nove, tinha um botão redondo e do lado esquerdo um vermelho e do direito um verde,uma seta em branco e a marca sobre a tela.  Não via um daqueles há muito tempo. Deveria pertencer a Charlotte.

Voltei a cozinha com o celular na mão esperando o café passar enquanto olhava o conteúdo do aparelho, não tinha nada além de um número com ddd do Rio, salvo com "M"

O único número a qual ligava para aquele celular vinha desse tal de M. Mais um dos segredos de Charlotte.

O telefone voltou a tocar, o atendi e fiquei quieto, esperando alguma reação.

—Alô?  char?...

Continuei quieto, ouvindo a voz rouca  e grossa de um homem

—Char?...

A chamada foi encerrada e um arrepio me percorreu.  Charlotte estava  tendo um caso com alguém do Rio?

O telefone fez outro barulho, um toque simples de mensagem.  Cliquei no botão redondo no meio

Mensagem :

M -  Char, não venha hoje!

Respirei fundo e digitei,  com dificuldade já que cada número era acompanhado por três letras

Mensagem :

                                Resposta: Por que?

M - J está aqui!

Eu não sabia quem era esse J, ao meu ver Charlotte e M, tinham a mania esquisita de nomear as pessoas por iniciais ou letras aleatórias, eu ainda não sabia, porém o fato do homem ter parecido desesperado ligando várias vezes e mandando mensagens, entendi que era algo sério.

Fui ao quarto onde meu pai dormia e peguei meu telefone na cômoda,  tinha o número do celular mais moderno dela.

Sentei na cama e cliquei no contato nomeado como: Musa

Tocou quatro vezes e ela atendeu

—Estou dirigindo! —Disse ela

Eu não sabia como dizer, então decidi ser direto

—Você esqueceu um celular velho aqui, ele estava tocando

—Você atendeu? —Ela quase gritou

—Sim...

—Nicholas—Ela me interrompeu —não  deveria...

Não a deixei falar —Presta atenção, disseram para você não ir onde quer que esteja indo.

—Está falando com quem? —Perguntou meu pai tocando meu ombro, olhei para ele e sai do quarto para prestar atenção no que Charlotte dizia

—... Responde! —Disse ela, quase gritando, afastei o celular do meu ouvido pela maneira a qual ela falou

—Repete

—Qual o motivo? O... —pensou em como falar—Explicou?

—A mensagem dizia J está aqui!—Andei de um lado ao outro enquanto falava, eu não sabia o motivo de tanta preocupação, mas provavelmente, o fato de Charlotte está em perigo me matava

—Não...—Ela suspirou —Porra, ele está lá...

—Charlotte... —Respirei fundo—Pode me dizer onde é esse lá?

—Desliga o telefone que achou, não atenda e não responda mensagens

—Charlotte...

—Não seja intrometido! Estou voltando

Ela desligou e eu me sentei no sofá, só percebi que tinha saido do corredor naquele momento

—Pode me explicar que agitação é essa? Por que estava gritando com a Charlotte ao telefone?

Olhei para trás e vi meu pai, passando a mão na barba, com os cabelos bagunçados

—Ela disse que ia comprar uma coisa que não era necessária!

Meu pai riu—Para o meu aniversário?

Encarei meu pai por alguns instantes, tinha me esquecido que era aniversário dele

Levantei e estendi a mão para meu pai apertar

—Parabéns! —Disse a ele com um sorriso e ele me puxou para um abraço

—Quero ser mais próximo de você!

Fechei os olhos, era tarde de mais para isso, ele era meu pai mas ainda assim não éramos amigos. Se quando minha mãe estava viva, já não tinhamos tanta intimidade, depois da morte dela, nossa relação piorou.

Minha mente ainda o enxergava como o bêbado que bateu no meu irmão e gritava a toa comigo

Me soltei dele —Estou fazendo café, já deve estar pronto na verdade

Meu pai beijou minha bochecha

—Café de aniversário! —Falou ao seguir ao corredor —Vou tomar um banho.

Sorri envergonhado e corri a cozinha, eu tinha que fritar um ovo e colocar no pão de forma, ao menos para dá-lhe a ilusão de que estava preparando uma surpresa para ele.

Senti meu telefone vibrar e olhei uma mensagem de Charlotte

Mensagem

Musa - Obrigada!

                                   Resposta-  Compra um bolo se puder passar em algum mercado

Musa- Está cedo de mais, para quê isso?

                             Resposta - Aniversário do meu pai!

Musa- OK!

Joguei o ovo na frigideira e cocei a cabeça, o celular proibido de Charlotte ainda estava na mesa, o peguei, desliguei e coloquei dentro do armário atrás do açúcar, sorrindo como se tivesse ganho um presente.

"Charlotte me agradeceu, está começando a confiar em mim! "












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