Colocando em Prática

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Eu estava em prova. E como se não bastasse a pressão de fazer aquelas questões, minha mente passou a me conceder devaneios interessantes e menos estressantes que aquele pedaço de papel que definia minha situação atual.

Pensei em Beré e Hellen, e no quanto meu amigo se sentiria traído se visse oque eu vi, pensei em Charlotte e no que ela fazia durante as manhãs, imaginei se ela daria mais aulas particulares ou se trabalhava em alguma escola e, quando me dei conta cinco pessoas já haviam saido.

Se concentra! —Disse a mim mesmo e lembrei-me das lições de minha musa, iniciei pela questão sete e tentei ter atenção, que era um de seus passos.

Fiz cada questão pensando no quão orgulhosa ela se sentiria ao saber que suas aulas me serviam. Marquei a resposta de mais duas questões e olhei para Fernando, meu professor, sua calvície,  rugas e a barriga de shoop deixavam claros meu desinteresse, em cada palavra saida de sua boca pequena. Se Charlotte desse aula em outra escola, meu maior desejo seria tê-la naquela cadeira, olhando para mim enquanto aplicava oque me foi ensinado.

Fiz outra questão e prestei atenção no sinal "Sinais importam" ,lembrei da voz dela no dia em que transamos.  Ter esse pensamento me fez desistir da ideia de tê-la em minha escola. Haveria muito mais concorrência por aqueles corredores, caso ela fosse minha professora, eu não teria apenas meu pai como forte ameaça.

—Faltam vinte minutos! —Disse Fernando ao olhar o relógio, posto com a face para dentro do pulso.

Terminei a prova nos dez minutos seguintes, entreguei a folha ao professor e olhei para trás, me surpreendi pela quantidade de pessoas na sala, eu estaria junto deles se não fosse por Charlotte.

Mari acenou para mim e fez o número quatro com a mão, ela estava próxima da porta, então antes de sair disse sem fazer barulho B. Empurrei a porta e me senti liberto de toda tensão daquele lugar.

Segui pelo corredor e o silêncio em todas as salas era surpreendente, geralmente o andar do primeiro ano -a qual eu correspondia- era o mais barulhento de todos. Desci as escadas e dei de cara com a quadra no térreo completamente lotada. Pessoas em todos os cantos sentadas no chão e na pequena arquibancada ou na escada de dois degraus que dava uma elevação e levava ao refeitório

Sentei em um degrau ao lado de Beré e o ouvi bufar

—Que foi? —Perguntei

—Errei a merda da sete! —Falou ao morder o sanduíche —Eu sabia que era -12 e +24,mas marquei com os sinais ao contrário

Olhei para ele e fiquei surpreso por ter acertado tal questão —Finalmente, me sinto mais inteligente que você!

Beré engoliu o que estava mastigando e me olhou—Tirou um e já está se sentindo Pitágoras?

Rimos e balancei a cabeça —Cala a boca!

—Essa é a frase que mais escuto durante o dia! —Disse ao beber um gole do guaraná —Seu Barriga, vulgo Fernando, vai entregar os resultados hoje se todos concordarem, dessa vez vai querer saber a nota?

Estava tão confiante que falei Com certeza

(...)

Cheguei ao meu condomínio com Beré ao meu lado, haviamos conversado sobre a prova durante todo caminho e eu não acreditava, havia tirado 9,8,por ter errado apenas a escrita da fórmula e de alguma maneira ter acertado todo o processo de cálculo de uma das questões, já Beré parecia indignado com seu 8,6

—Essa foi minha nota mais baixa do bimestre.

—Ainda temos prova de outras matérias, a chance de se afundar ainda se encontra!

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