Encontro à três

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Entrei na escola praticamente correndo, guardei meu guarda-chuva  em um saco plástico e subi as escadas indo em direção a minha sala.

Estava um pouco transtornado e envergonhado, pois sabia que devia um pedido de desculpas a Lisa. Na verdade havia passado o dia anterior tentando ligar para ela e resolver nossa situação.

Assim que entrei na sala e a vi sentada sobre a mesa conversando com Agatha,  fui até ela

—Lisa eu tentei te ligar,para pedir desculpas e...

Lisa supirou, olhou-me nos olhos e deu um forte tapa em meu rosto

—Lisa! —Disse Agatha com os olhos arregalados

Todos que estavam na sala olharam para ela e logo após para mim,corri para os fundos da sala e me sentei na última carteira,encostada na parede, da fileira do canto.  Queria sumir.

Merda de ano

—Que merda foi essa?—Mari perguntou—Conheço essa mina desde o sexto ano e nunca a vi bater em ninguém!

Abaixei a cabeça,estava envergonhado

—Que chuva da porra...—Ouvi a voz de Beré e sabia que ele estava se aproximando—O que houve? Por que to sentindo um climão aqui?

Levantei a cabeça e o vi com um guarda-chuva preto em mãos e os cabelos molhados

—O galã ai tomou um tapa na cara!—Disse Mari ao cruzar os braços

—Quem bateu?—Perguntou Beré

—Lisa—Disse Mari e pelo jeito que falou senti que ela queria rir,  ou estava rindo

—Lisa Santos?—Tirou os óculos com as lentes cheias de pingos e limpou na blusa, seus olhos pareciam menores sem a armação quadrada—Aquela Lisa? A certinha?  Amiga da Agatha? Tem certeza? Você viu certo?

—Essa mesmo!—Disse Mari com um sorriso bobo—Um tapa de mão cheia

Balancei a cabeça incrédulo—Que bom que minha vida entretém vocês!

—O que você arrumou ?—Perguntou Beré,analisando se as lentes estavam limpas— Ela não é agressiva!

Eu não sabia se devia dizer alguma coisa, então abaixei a cabeça novamente, tinha plena certeza de que todos naquela sala estavam falando de mim. Talvez eu merecesse aquele tapa, Lisa estava magoada, mas o fato de virar assunto me incomodava

Que saco...

—Nico não precisa ficar revoltado, as garotas são assim! —Disse Mari

Levantei a cabeça e tirei o celular do bolso sem dizer uma palavra

Buenos Dias...—Disse Mara a professora de espanhol ao entrar na sala —Ustedes hicieron el trabajo?

—Tinha trabalho?—Perguntei a Beré

—Nicholas você é um caso perdido!—Disse Mari

—Diga algo que eu não sei!

(...)

Assim que abri a porta de meu apartamento,vi meu pai varrendo a casa, algo completamente atípico.

—Nicholas, vá tomar um banho e me ajude a arrumar a casa

Suspirei—O que deu em você? Está  bêbado?

Ele me encarou como se não tivesse gostado de minha pergunta

—Não encosto uma gota de álcool na boca há dias! —Disse rude ao largar a vassoura—Por que não me respeita?

Senti um forte cheiro de queimado e antes que eu dissesse algo, meu pai correu para a cozinha e tirou uma das panelas vermelhas do fogão, não usávamos aquelas panelas com frequência, meu pai não era de cozinhar.O único lugar que me oferecia comida caseira era a casa de Beré, onde eu almoçava de vez em quando.

—Quem vem nos visitar? —Perguntei e ao ver que ele estava mais interessado na panela do que em mim, comecei a deduzir. —Vó Dulce? —Perguntei —Tia Bruna?

—Minha mãe não viria aqui, ela só nos visita no Natal e sua tia mora na Noruega!—Falou sem me olhar

Cansado de tentar advinhar fui até meu quarto, joguei minha mochila no chão e corri a janela, a casa de Charlotte ainda estava vazia e seu carro continuava fora da vaga. Onde ela estaria?

—Nico? —Gritou meu pai—Você sabe onde estão os pratos azuis de louça?

Revirei os olhos—Estão no mesmo lugar de sempre—Gritei de volta

Sentei em minha cama e respirei fundo,havia tido um dia medíocre e ainda assim não podia relaxar, já que meu pai, que nunca recebia ninguém, estava aguardando alguém.

(...)

Já passava das 18:30 quando a campainha tocou e eu, obrigado por meu pai, que estava no banho, fui abrir a porta.

Puxei a maçaneta e quando olhei para a mulher de vestido simples e vermelho me surpreendi.

Meu pai esperava por Charlotte,  pela minha Charlotte...

—Posso entrar? —Ela perguntou e eu apenas me afastei, ainda estava afetado pela presença dela. —Onde está o Jorge?

Ela afastou-se  um pouco de mim,  três  ou quatro passos para ser mais exato, fechei a porta e a encarei.

—No banho... O que faz aqui?  Vestida desse jeito? —Perguntei a olhando dos pés a cabeça

Charlotte sorriu de lado—Vestida desse jeito?  É uma maneira de dizer que eu estou bonita?

Continuei a olhando, o vestido vermelho lhe realçava, a alça caída nos ombros, mostrando o color, a barra não era curta, mas mostrava suas coxas e a cor... Aquele escarlate lhe banhava a pele. Ela está maravilhosa!

—Por que veio? —Perguntei afastando os pensamentos e desejos insanos que me roubavam a atenção

—Seu pai me convidou!—Deu de ombros

Me afastei da porta e naquele instantes estávamos há dois passos de distância.  Olhei para seus labios tingidos também de vermelho, mais dois passos e eu a beijaria se pudesse.

—Onde esteve nos últimos dias?

Ela deu uma breve gargalhada—Vim para um jantar ou para um interrogatório?

Eu teria me desculpado, mas queria que ela me dissesse tudo.

—Eu trouxe um vinho! —Disse ela ao mostrar uma sacola branca que estava em sua mão, não me surpreendi por não ter notado a existência da sacola

—Meu pai não pode beber, ele é alco...

—Boa noite,Lottie! —Disse meu pai, me interrompendo

Ela aproximou-se dele e o deu um beijo na bochecha esquerda.

Fechei os olhos e cerrei os pulsos, se eu pudesse expulsaria Charlotte de minha casa e esmurraria meu pai, mas isso não seria possível, logo eu teria que aturar aquela noite.

—Eu fiz Lasanha! —Disse meu pai—Minha especialidade!

Revirei os olhos, ele estava tentando impressioná-la.

Que nojo!

—Acertou em cheio, adoro massa!

—Eu também! —Falei a parar no meio dos dois—Vamos comer?

Meu pai me olhou e coçou a nuca.  Não  me importei com a frustração dele, se aquilo fosse um encontro, seria um encontro a três.

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