O celular

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Fui ao quarto que me pertencia antes de Charlotte passar a morar conosco, peguei meu videogame e o levei para sala, conectei os cabos na televisão com a ajuda de Mari e orientações de Beré, para enfim, tirar a mesa de centro e nos jogar no tapete marrom.

—Liverpool e Manchester United ? Caralho que jogaço! —Disse Beré

Mari riu alto, escolhendo o uniforme que o Manchester United usaria.

—Olha a boca! —Falei—Sua mãe pode surgir do nada e te dar um pico!

Ele riu—Ta doido?  Quer me assustar?

Mari abriu a latinha de coca e sorriu para mim—Prefere perder de goleada ou quer que eu te deixe fazer um golzinho?

Revirei os olhos—Eu te odeio! —Falei rindo

Começamos a jogar e Beré imitava Tiago Leifert, na verdade, tentava imitá-lo ao narrar.

—Cala a boca, mano, está me desconcentrado! —Falei ao olhar para trás e vê-lo deitado no sofá

—Não me Culpe por seu fracasso! —Aquela frase foi perfeita pelo o que se sucedeu, um belíssimo gol impossível de defender

—Vai querer uma derrota escandalosa? —Perguntou Mari ao tomar um gole da Coca-Cola e piscar para mim

Eu a responderia se charlotte não tivesse chegado, assim que olhei para a porta, vi minha musa nos olhar e sorrir, retribui o sorriso e me assustei com uma palma alta de Beré

—Gooooooooooool! —Gritou ele

—Jogar com você não tem nem graça, demasiadamente fácil!

Charlotte riu—Está perdendo?

—Sim tia!—Disse Beré

Charlotte o olhou da mesma forma que eu após o tal "tia"

—Vai tomar outro se não prestar atenção!—Disse Mari

—Nico,pode vir aqui?—Perguntou Charlotte, seguindo em direção a cozinha

A olhei e assenti antes de dar o controle a Beré e levantar para segui-la

—Fala—Disse olhando para ela,de calça jeans e uma blusa preta,usava o mesmo colar da noite anterior,botas de salto e cabelos presos em um rabo,sem batom apenas com um brilho em volta da pálpebra,linda como sempre.

Olhando para ela,me veio a lembrança de meu pai e o motivo que me fez dormir na casa de Beré,sibilei com tal memória.

—Presta atenção! Onde está meu telefone?

Olhei para a mão dela —Bem aí!—Disse desatento quando Mari deu uma risada alta

Ela revirou os olhos impaciente—O meu outro telefone,o aparelho que você encontrou!

—Desculpe...—Falei notando o equívoco—Coloquei aqui! —Disse com confiança,ao me dirigir ao armário e puxar o pote de açúcar,mas para mim surpresa não tinha nada ali, além do pote branco com açúcar,o marrom de café e cinza com sal.

—Onde está?

—E-eu não sei!

—Nico—Gritou Beré—Fiz um!

—Ele continua perdendo! —Mari disse no mesmo tom

—Foi o de honra!—Disse Beré gargalhando

Não consegui rir com eles,o clima ali na cozinha não combinava com isso.

—Por que colocou aí?Eu confiei em você garoto!—Disse ela,tentando manter o controle para não gritar

—Eu achei que estava seguro

Ela bufou—Se o seu pai encontrou?

Cocei a cabeça—É uma possibilidade!—Falei

Charlotte puxou o rabo de cavalo, fazendo os cabelos subirem—Uma possibilidade? A minha vida está em jogo,aquele celular é a única forma que eu tenho de me comunicar com a única pessoa que me ajuda.

Me senti um lixo,estava desesperado por dentro e pacifico por fora,se algo acontecesse com minha musa eu me sentiria culpado para sempre

—Eu vou ligar para o meu pai e perguntar se ele achou!

Ela riu—Não pode fazer isso!—Me olhou diretamente,havia fúria em seus olhos—Eu irei ao Rio de Janeiro amanhã cedo. Se eu não voltar em três dias ou menos,diga ao Jorge que eu fui para os Estados Unidos!

Meu coração acelerou,ela estava assustada,percebi pelo tom de sua voz.

—Mande seus amiguinhos para a casa deles,tem um carro do outro lado da rua,um homem que está me seguindo,tranque tudo.

—Charlotte...

—Não se preocupe comigo,vou visitar uma amiga,volto a  noite!

—Promete voltar?—Falei em desespero

—Prometo. Acho que o homem é só um detetive,ao contrário já teria me matando. Mas,sem meu celular eu não tenho como saber até que ponto estamos seguros.

—Estamos?

—Você,seu pai e eu. —Me beijou no rosto—Mande eles embora,feche tudo e finja que não está em casa, não atenda ninguém, não atenda o interfone e não abra a porta sem olhar no olho mágico.

Assenti a olhando, tinha tanta coisa na minha mente

—Tchau crianças!—Disse ela com uma voz animadamente falsa,antes de sair acenando para Mari e Beré

—Nicholas,perdemos!—Gritou Beré

Voltei a mexer nos armários e ouvi Mari chamar meu nome

—Aconteceu alguma coisa?—Perguntou Mari ao entrar na cozinha

Virei-me para ela—Eu preciso que vocês saiam daqui,por favor!

—Está expulsando a gente?—Mari cruzou os braços

—Acabamos de voltar da escola,estamos de uniforme ainda...

Beré se aproximou da cozinha—Tá dizendo que temos que ir embora porque estamos fedendo? Filho da puta me chamando de fedorento—Disse Beré rindo

—Não...—Falei rapidamente—Eu só preciso que vocês saiam,por favor. São meus melhores amigos,mas não os quero aqui agora.

Mari respirou fundo —Me fala o que está acontecendo!

—Confia em mim!—Falei ao pegar a mão dela e olha-la nós olhos

—Vamo,Beré!—Disse Mari ao recolher a mão—Você me deve uma explicação!

Esperei eles recolherem os casacos, as mochilas e calçarem os tênis,para trancar as janelas

Mari e Beré me olharam sem entender nada. Abri a porta para que eles saíssem e assim que o fizeram a tranquei.

Obedeci o que Charlotte havia dito nos mínimos detalhes,para enfim voltar a procurar pelo telefone. Não aceitaria perder algo que mantinha quem eu mais queria bem em segurança.



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Feliz ano novooooo!!!!
Que venha 2020

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