f o r t y

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No capítulo anterior . . .

Com o peito a mil, eu não sabia que os momentos seguintes seriam os piores da minha vida. É engraçado como o momento que antecede uma tragédia parece um conto de fadas, algo surreal que você nunca imaginou que aconteceria. Sempre achei que a minha vida era uma grande tragédia, quando na verdade ela só era normal.

Agora . . .

— Li, vou ficar no escritório resolvendo alguns problemas de emergência, qualquer coisa é só chamar. — Jay avisou parando na porta do quarto principal e eu concordei.

Havia menos de meia hora que Jay desceu quando meu celular tocou. Ao ver o nome brilhar na tela indicando que Dan finalmente me ligava. 

"— Dan! Como as coisas estão? — perguntei sorrindo, mas ao ouvir um soluço de choro vindo do outro lado da linha, meu coração disparou. — Dan, o que está acontecendo?
— É a sua mãe, Li. — disse com a voz embargada. — ela não aguentou. — e o mundo foi silenciado."

Todos os sons sumiram, o da TV, o do cachorro do vizinho, o som do meu coração. Meu corpo pareceu uma pedra sobre a cama. Não haviam lágrimas e nem dor, como também não haviam sorrisos e nem alegrias. Eu precisava chegar até minha mãe mas como se eu não sentia nada?

Sem saber o que fazer, passei a caminhar sem saber exatamente para onde ir. Agora eu havia perdido o propósito da minha vida, tudo o que sempre fiz foi lutar para que minha mãe vivesse o máximo possível, mas ela teve de ir, meu esforço não foi suficiente. Finalmente senti algo, vidro caindo sobre meus pés.

Ao olhar para baixo, notei o pequeno vaso de vidro que ficava sobre o balcão da sala de jantar. A figura de Jay surgiu logo depois e se apressou quando notou os cortes em minha pele causados pelos resquícios do vidro. Seu chamado não foi ouvido, apenas pude ver sua expressão assustada e logo sua figura correndo até mim, depois disso eram apenas vultos seguidos de leves apagões.

Meu corpo foi erguido, isso sei porque vi quando Jay me pegou no colo, tudo se apagou e então eu estava deitada no sofá. As imagens em borrões mostravam a empregada chegando acelerada, mais escuridão e então Jay me sacudindo fazendo tudo borrar mais uma vez. Depois que tudo se apagou, não voltou mais.

— Ela não está bem emocionalmente, o que pode ter agravado o caso dela. — uma voz distante anunciou.

— Mas o que é, doutor? — a voz desesperada de Jay soou ainda mais distante.

— Precisamos que ela acorde antes de tudo. — a voz repetiu e eu tive de forçar os olhos.

Então tudo foi colocado de volta no lugar, a conversa com Jay, a ligação dele, a ligação para mim... A notícia, o vaso em cacos assim como eu, o desespero das únicas duas pessoas em casa comigo, nenhum som e nenhum sentimento. Meu coração ardeu.

— Jay. — chamei e logo seu corpo se aproximou de mim, minha visão era apenas borrões e dessa vez pelas lágrimas.

— Li-ah, o que foi? — Jay perguntou sem saber o que fazer e eu levei as mãos ao rosto enquanto tampava os olhos.

O que aconteceu a seguir foi como se eu pudesse assistir meu corpo, minhas mãos apertando meus olhos, meu coração batendo sofregamente, as lágrimas saindo rápidas como um rio revolto e por fim eu me sentando. Jay se sentou de modo que ficasse de frente para mim e me abraçou, por instinto o agarrei como se precisasse me prender a ele para não me afogar naquela sensação horrível.

— Vai ficar tudo bem. — Jay dizia repetidamente, mas o som das batidas de seu coração sob minha cabeça diziam o contrário.

Depois de sentir que meus cílios cairiam, meus olhos se fecharam, sendo derrotados pelo cansaço repentino. Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas quando abri os olhos novamente, quis me levantar mas meu corpo não me obedeceu, tentei chamar alguém, mas a voz não saiu, minha bateria estava descarregada e não tinha carregador por perto.

Contract :: Jay ParkOnde histórias criam vida. Descubra agora