Eu definitivamente não gostava do mar.
Depois de um almoço mais ou menos bom, onde comemos uma sopa de carne com batatas, pão e rum, eu resolvi subir a proa e ficar observando o horizonte, foi quando as primeiras sensações ruins vieram.
Não era como tontura ou enjoo, eu apenas me sentia muito desconfortável ao notar que estava no meio do mar.
NO MEIO DO MAR.
Quando já estava no final da tarde, Arabella veio sentar do meu lado na proa, no convés principal haviam piratas indo de um lado para o outro, verificando cordas e mais cordas que eu não sabia para que serviam.
- Está enjoada? - Perguntou a loira ao meu lado.
- Não é enjoo... Só estou nervosa, com toda essa água, não sei explicar - Tentei respirar fundo, mas o barulho da água em meus ouvidos não me permitia.
- Será que... Pode ter algo a ver com seu poder? - Ela falou a última parte mais baixo, talvez não seria bom dizer aos demais que havia uma tocha humana temperamental e um barco de madeira.
- É possível - Falei apenas - Sinto como se a água me sugasse, me deixando fraca, pode ser por causa dos meus poderes sobre fogo mesmo.
A loira ao meu lado mordeu o lábio e olhou para frente novamente. Ainda deveríamos passar pela noite e a manhã para chegarmos ao continente, e cada segundo parecia pior que o anterior.
Certo, eu chegaria lá para pedir por ajuda de uma rainha que outrora fora aliada de meu reino, mas o que eu poderia dizer? Mal tínhamos um exército, mal tínhamos uma corte, onde estava meu povo? Eu não sabia onde metade deles estava, e digo metade por que uma boa parte deveria estar presa nos campos ou já sido mortos na praça.
Grande parte do meu povo, do povo de Thyrse, eram possuidores de magia, cada dom mais estranho e incrível que o anterior, se eu conseguisse encontrá-los e pedisse ajuda para recuperarmos o nosso reino, eles me ajudariam? Imaginei o quão fortes poderiam ficar, e também, alguém com poderes equivalia a cinco, se não dez homens comuns. Mesmo um pequeno exército poderia ser o suficiente.
Logo passou pela minha mente a imagem de mais pessoas do meu reino morrendo pelo que são, mais deles mortos em uma maldita guerra. É tão mais fácil só matar o rei. Ele é o monstro aqui. Ele que destruiu, perseguiu, torturou e matou milhares de pessoas, apenas por vingança.
"Você não pretende fazer o mesmo?" Minha mente debateu comigo. Era verdade, eu também queria isso, também queria derramar sangue inimigo por vingança pelo que havia sido feito com quase todos que eu amava, e com quase todas as pessoas que possuíam magia, simplesmente por terem nascido assim. Era como culpar alguém pela cor da pele, pela cor do cabelo ou dos olhos, ninguém tem culpa de como nasceu. Mas tudo bem, se fosse para eu também ser um monstro, se isso fosse para salvar quem eu amava, o meu povo e o meu reino, eu faria de bom grado. Eu seria esse monstro.
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Rosellen - Crônicas de Magia e Vingança
FantasíaEm um reino onde a magia é proibida, uma garota luta para esconder seus poderes. Trabalhando em prol de sua vingança, Rosellen, uma das líderes do movimento rebelde contra o rei de Curcya, se infiltra no castelo como uma criada, afim de descobrir a...