O longo caminho de barco pareceu ainda mais longo com a minha cabeça cheia. Acabei não jantando, pois passei as longas horas desde o entardecer até a madrugada encostada na amurada pensando no que faria.
Nesse momento eu realmente precisava de muita ajuda, eu não tinha nada, e apenas as pessoas ao meu redor poderiam me ajudar e apoiar em tudo isso que eu precisava fazer. Coloquei a testa na borda da amurada e suspirei. Por que precisava ser tudo tão difícil? Eu só queria ser normal, só queria poder concluir minha vingança, acabar com o rei e livrar a mim e a toda Curcya. Mas agora tenho não só um reino, mas dois com os quais me preocupar.
Levantei a cabeça e olhei novamente para o mar, usando meus poderes podia sentir que não havia quase mais ninguém por perto, era tarde e a maioria dos tripulantes deveria estar dormindo. Senti novamente a estranha sensação que havia sentido antes de chegarmos a Fyora, olhei para baixo, na água, e vi uma figura feminina olhando para mim, ela inclinou a cabeça para o lado, como um animal curioso.
- Quem... O que você é? - Perguntei depois de um tempo, me inclinando na direção da água.
- Me chame de Celene - Ela respondeu com uma voz melodiosa, vi que apertou os olhos - Qual... Seu nome?
- Sou Rose... Quer dizer, Kallista - Apertei a amurada com a mão - Me chamo Kallista.
- Sabia que era você - Ela abriu um sorriso, franzi o cenho confusa - O seu cheiro - Ela explicou - Você tem o cheiro deles.
- Deles quem?
- Dos seus pais - Ela falou como se fosse obvio.
Parei um pouco para analisar a bela mulher, parecia ter minha idade, mas eu não podia ter certeza, tinha longos cabelos castanhos e a pele tinha cor de pérolas, algas estavam enroscadas sobre seus seios afim de tampá-los.
- Eles nunca te contaram? - Ela perguntou confusa - Achei que tinha ido ao outro continente para vê-los...
- Meus pais morreram - Contei com a voz baixa, ela soltou uma exclamação e pôs a mão sobre a boca, como se não pudesse acreditar.
- Sinto muito... Quando os ajudamos para atravessar os gêmeos pelo mar, achamos que ficaria tudo bem - Contou a mulher - Mas algum tempo depois eles sumiram, os gêmeos também, e então o reino humano do continente começou a nos envenenar...
- Bravaria? - Sugeri confusa.
- Esse mesmo, eles estão jogando coisas sujas na água do mar, e alguma substancia que nos machuca, e a longo prazo... - Ela levantou a mão da água, as pontas de seus dedos estavam pretos como se apodrecessem - Nos mata.
- Mas você é... São... Sereias?
- Isso mesmo, pelo que sabemos, apenas Bravaria sabe de nossa existência agora.
- Agora?
- Tínhamos um acordo com os últimos reis de Thyrse, os protegíamos no mar, e eles nos protegiam da terra.
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Rosellen - Crônicas de Magia e Vingança
FantasíaEm um reino onde a magia é proibida, uma garota luta para esconder seus poderes. Trabalhando em prol de sua vingança, Rosellen, uma das líderes do movimento rebelde contra o rei de Curcya, se infiltra no castelo como uma criada, afim de descobrir a...