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Wanessa 🦋

Wanessa: Consegue respirar devagar? - Falei vendo ele apertando minha mão.- Com calma, sem se afobar.

Ele me olhou com o olhos bem arreganhados e eu encarei ele, vendo ele aos poucos puxando a respiração.

Wanessa: Você tem que vomitar o máximo que puder.- Falei baixo, ajudando ele a se sentar.- Não deita.

Me levantei, peguei um ventilador colocando ali enquanto ele vomitava no chão ao seu lado. Peguei um pano e limpei o de antes morrendo de nojo sim, mas quando ele terminou ele tava tremendo o corpo todo, deixei as coisas de lado e me levantei puxando ele junto. Mandei ele fazer esforço e fui até o banheiro com ele, sentei ele lá e liguei a água, vendo ele se acalmar mais.

Wanessa: De verdade você não é criança.- Comecei a falar, eu estava tão cansada só de estar aqui.- Você sabe que existe alguém na qual precisa de você, se encher de droga pra ser o brabo não vai te levar a nada. Aposto que metade daqueles meninos ali tavam comemorando pela tua morte e antes tu se amostrava pra eles. A vida tem muitas escolhas sabe, Carlos? Uma que eu poderia ter feito era te deixar lá sozinho, como eu sei que você me deixaria, mas as vezes nem nós mesmo entendemos nossas ações.

Qualquer oportunidade de passar as coisas na cara dele eu passaria sempre, nunca tô errada nisso, eu amo.

Ele ficou me encarando por um bom tempo até conseguir falar, ele falou que queria deitar e eu desliguei a água, ajudei ele a sair dali, enxuguei, coloquei roupa e ajeitei os travesseiros e ele sentou, segurou minha mão e me encarou.

Wanessa: Vou chamar a Brenda, ela passa a noite com você.- Falei afastando minha mão.

Carlos: Desculpa por tudo que eu já fiz pra tu, de coração! - Falou baixo me olhando e eu olhei pra ele, vendo algumas lágrimas descerem e eu fiquei olhando pra ele.

Era engraçado até ver o Carlos chorar, fiquei olhando pra ele com vontade imensa de rir e ele passou a mão no rosto.

Carlos: Tu poderia ter virado as costas pra mim, tu percebeu que se demorasse uns minutos a mais eu ia engasgar e ia terminar morrendo, eu sei.- Falou baixo, a voz dele ainda tava falha.- Eu sei que já fiz altos bagulhos contigo, tudo imperdoável, mas eu errei pra caralho e admito, só que agora eu já fiz merda pra caralho, não tem como voltar atrás. Então o único bagulho que eu te peço é pra tu me perdoar!

Eu fiquei calada por um tempo, eu sabia que nada, absolutamente nada iria mudar o passado, porém muita coisa poderia mudar o futuro.

Wanessa: Eu desculpo você por tudo que você já me fez.- Falei seria olhando pra ele e o Carlos abraçou minha cintura, deitou a cabeça na minha barriga e começou a chorar igual uma criança.

Ali eu via o Carlos que sofreu muito na vida pra estar aqui hoje, uma criança abandonada pela pessoa que ela mais amava, uma criança que foi deixava pra morrer num hospital, que perdeu a presença dos pais no momento que mais precisou.

Via alguém que não conseguia ficar sozinho pois tinha medo, alguém que apesar de tudo só precisava receber afeto, conhecer o amor e talvez, seria uma pessoa melhor.

E é até muito engraçado eu estar aqui, pensando no porque, criando motivos pra justificar algo depois de tanto tempo, de tanto bater o pé, de xingar, de odiar e de querer matar vinte quatro horas.

Mas eu não entendia, eu juro que não me entendia. Talvez se eu fosse a mesma de dois meses atrás esse homem já estaria morto e eu estaria rindo muito, comemorando! Mas hoje eu não consegui e acredito muito que tudo tenha um propósito, que nada do que eu fiz foi em vão e que precisava ser assim.

Ele estava ali com o coração aberto, a única vezes eu senti ele assim foi quando o Hugo nasceu. Carlos não parava de chorar agarrado a mim e aquilo não era só um choro de teatro ou de perdão falso, era de alguém que implorava por algo, por um pouco mais de amor e talvez até mesmo, pelo perdão. 

Não estou colocando ele como príncipe em perigo, como menino inocente que pode usar o seu passado como desculpa pelo o que fez comigo. Não, o Carlos me bateu, me humilhou, me prendeu e se todo mundo que teve um passado horrível como ele começasse a fazer o mesmo, caralho... O mundo iria ser um inferno, mais do que já é.

Mas olha, entre deixar uma pessoa se afundar e tentar ajudar, eu escolho ajudar alguém a ser melhor, pois não é só por mim, pois na minha casa tem uma criança que depende muito do pai, que ama o homem que ele é, talvez por não saber ou entender de tudo ainda, mas existe alguém que precisa do pai por perto e por esse alguém, eu passaria por céus e infernos, e tudo isso pra ver um sorriso alegre no rosto desse alguém...

Acredito que a gente sempre tem uma chance de mudar, de fazer diferente, de ser melhor. É tão fácil falar, bater o pé pelas coisas quando não é a gente que passa, mas eu digo com tranquilidade, só quem passou por tudo vai conseguir entender, vai saber o que fazer e talvez ninguém de fora entenda ou ache boa a minha atitude, só me ache mais uma idiota, porém eu que vivi tudo, então a única pessoa que pode dizer se é certo ou errado minhas escolhas, sou eu mesma!

Até o céuOnde histórias criam vida. Descubra agora