Epílogo - Murilo 2025

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Como é que ? De você faz tempo que não ouço nada, fala um pouco sua voz tá  tão calada. Sei que agora deve estar impressionando os anjos com sua risada.
Impressionando os anjos
Gustavo Mioto

Cheguei em casa após mais um dia cansativo no trabalho.
Olhei para meu relógio no pulso e constatei que estava uma hora atrasado pra o jantar com minha filha Melanie, ela não iria gostar e estaria com toda a razão.
Exatamente naquele dia formava o terceiro dia consecutivo que eu atrasava para jantar com ela por conta da carga pesada de trabalho que estava pegando por conta da um processo que renderia bastante dinheiro para mim e um futuro em uma boa faculdade para Melanie.

Tudo era por ela, todos aqueles cinco anos eu me dediquei exclusivamente a ela esquecendo de mim mesmo completamente.
Cuidar de Melanie era uma forma que vi de amenizar um pouco a falta gigantesca que Isadora fazia em minha vida. A cada momento que pensei em fraquejar eu olhava para Melanie ou tentava me entreter com algo sobre ela para focar no que importava.
Gritei pelo nome da minha baixinha ao entrar em casa e escutei passos nas escadas como um som de trovão.
Não demorei muito para avistar um pequeno vulto e longos cabelos castanhos vindo em minha direção.
Trajada com um pijama longo de urso, Melanie ficava a cada dia mais parecida com Isadora, uma mini cópia dela, o meu pequeno pedaço da mulher que amava.

— Papai, você chegou. — Ela se jogou em meus braços e me abraçou apertado.

— Como passou o dia de hoje? — Perguntei após beijar suas bochechas rechonchudas.

— Muito bem, tia Nicole faz macarrão com queijo.

— Que bom. Você se comportou, obedeceu a tia Nicole? — Ela me olhou com os olhos idênticos aos de Isadora e sua expressão se manteve séria.

— Óbvio, senão ela não fazia o macarrão. — Dei uma risada e a coloquei no chão.

— Já jantou?

— Já. Ela disse para esperarmos você, mas já estava ficando tarde. — Nicole saiu da cozinha secando as mãos em um pano de prato.

Eu tinha muito o que agradecer para ela.
Todos me ajudaram muito, principalmente a mãe de Isadora, mas Julie não havia ficado nada bem com a morte da irmã e desenvolveu uma doença terrível chamada depressão.
Aquilo foi outra desgraça para fechar todo o combo e a mãe dela teve que ficar cuidado da jovem e foi Nicole e Ellie que ajudou muito.
Mais Nicole pois Ellie estava construindo sua própria vida com Matteo, não tinha toda a disponibilidade que Nicole dispunha.
Eu me sentia muito mal por ela estar perdendo o tempo com minha filha, deixando de viver a vida dela, mas Nicole dizia não se importar.

— Muito obrigado. — Falei olhando dentro dos olhos dela. Aquelas eram as únicas palavras que consegui expressar, mas nem mesmo elas faziam jus ao que Nicole fazia pela gente.

— Não tem de que. Vou me deitar agora essa pequena me deu uma canseira. — Ela disse beijando a cabeça de Melanie.

Aquilo também foi algo que não consegui impedir nem mesmo se eu quisesse, Nicole morava ali havia três  anos, na mesma casa que eu.
Ela não queria, mas eu insisti desde que Melanie ficou doente e eu não sabia o que fazer.
Também era uma forma de gradeecer por ela estar sempre e ali, seria muito cansativo ela ficar disponível para Melanie sempre e eu sabia que aquilo um dia ia acabar.

— Posso ficar mais um pouco com você tia? — Melanie pediu com aquela expressão de cachorrinho pidão e Nicole sorriu assentindo. Pegou na mão da pequena e foi pra o quarto.

Iria aproveitar para tomar um banho, jantar e descansar um pouco.
Depois ficaria com Melanie e conversar com ela sobre o dia de amanhã apesar de que eu tinha uma leve impressão que ela já sabia, afinal fazíamos aquilo desde que ela tinha três anos.
No dia seguinte completaria mais um ano em que Isadora nos deixou e todos os anos eu ia até o cemitério e levava flores para ela. Aquele ano não seria diferente.
Passei pelo corredor e vi um porta retrato com uma foto da mulher da minha vida.
Dei um sorriso amargo e beijei a foto.

— Mais um dia amor. Como tá aí em cima? — Perguntei com a voz embargada. — Aqui tá tudo bem, Melanie tá cada dia mais inteligente. Você ia sentir orgulho.

Coloquei a foto dela de novo no lugar e fechei os olhos e fui tomar um banho.

                             ♡♡♡

Depois de algum tempo de viagem havíamos finalmente chegado ao cemitério onde Isa estava.
Melanie tinha sua mãozinha presa a minha e Nicole vinha logo atrás mantendo uma certa distância.
Quando chegamos na lápide me ajoelhar e sorri ao ver que minha filha fez o mesmo.
Dei as flores pra ela e fiz sinal para que ela as colocasse ali.

— Mamãe, trouxe pra você.  — Ela disse com sua vizinha doce.

— Aposto que a mamãe tá super feliz. — Falei em seu ouvido como se estivesse contando um segredo.

— Eu sei papai, ela me disse. — A olhei atônito.

— Como assim Mel?

— Ela me visita em meus sonhos papai. Me diz para cuidar de você assim como você faz comigo e que nos quer felizes. — Limpei as lágrimas e abracei Melanie para esconder meu rosto vermelho.

Como eu suspeitava, mesmo após tantos anos Isadora ainda estava cuidado da gente.
Nos olhando lá de cima.
Impressionando os anjos com sua risada.

Meu erro ( Em Revisão  ) Onde histórias criam vida. Descubra agora