Capítulo 10 Ano 2010

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E eu não quero que o mundo me veja
Porque eu não acho que eles entenderiam
Quando tudo é feito para ser quebrado
Eu só quero que você saiba quem eu sou
Iris
Go Go Dolls

Murilo parecia satisfeito com o local que havia me levado, enquanto eu não conseguia esconder a minha insatisfação. Francamente, correr o risco de levar uma surra da minha mãe não iria valer a pena.

Ele foi para a parte traseira do carro e retirou de lá um pequeno isopor branco e uma cesta de palha coberta por um pano vermelho.

— O que é tudo isso Murilo? — Ele pretendia fazer uma espécie de piquenique bizarro no meio da noite em um lugar abandonado por Deus?

— É isso mesmo que você deve estar pensando. Esse lugar é perfeito e você vai entender o por quê. — Ele piscou para mim.

Aquilo o deixava mais bonito ainda, se é que era possível. Aquele simples gesto descontraído fez com que meu coração batesse de forma acelerada e enxuguei a palma de minhas mãos em meu velho jeans de maneira desajeitada.

Eu estava nervosa de muitas maneiras que não conseguia inumerá-las. Havia muito tempo que estive a sós com um garoto e da última vez a experiência não havia sido boa. Só esperava que Murilo não tivesse motivos escusos e cumprisse com a palavra de que queria ser apenas meu amigo.

— Vamos subir. — Ele deixou a parte traseira do carro aberta e a cesta havia ficado para trás, contradizendo a proposta inical dele.

— Subir aonde? Está louco? — Ele fingiu não me escutar e foi andando para a parte detrás do grande farol.

O segui por instinto, minha curiosidade aflorada naquele momento. Quando ele parou, vi que havia uma escada de ferro na parte detrás daquela coisa, e não parecia nem um pouco capaz de aguentar um mínimo peso possível.

— Nem fodendo. — Falei exasperada.

A altura do farol era enorme, mais ou menos uns dez metros. Mal se podia ver o final da escada de tão alto que era. O meu medo falava mais alto e eu me recusava a subir naquilo.

— Não me diga que está com medo Isadora? — Ele deu uma risada sarcástica e tive vontade de quebrar seus dentes.

— Claro que estou babaca. Tenho medo de altura, não vou subir nessa escada velha.

— Cadê seu espírito aventureiro?

— Escondido atrás do meu medo de altura. — Ele se aproximou e pegou em minha mão fazendo com que uma corrente elétrica passasse da ponta de seus dedos para os meus.

— Confia em mim. Você vai primeiro, não vou deixar você cair.

— É uma espécie de superman? Porque acho difícil você fazer algo se eu me desequilibrar. — Ele riu e me vi espelhando aquilo.

Estava sendo mais fácil do que eu imaginava. Murilo conseguia, de alguma forma estranha, quebrar as barreiras que construí com tanto custo. Todas as minhas crenças e desconfianças se dissipavam diante dele e uma sensação de paz se apoderava de mim.

— Está bem. — Falei contrariada. — Não acredito que estou fazendo essa loucura. — Murilo estava com um sorriso divertido estampado em seus lábios e fez um gesto com o braço, indicando o caminho.

Coloquei o pé na escada vacilante, que balançava conforme eu ia subindo. O vento frio contribuía para que meu corpo oscilasse, minhas mãos suadas de nervoso faziam com que escorregasse, volta e meio, e meu estômago se retorcia em nós, um frio na barriga incessante.

Meu erro ( Em Revisão  ) Onde histórias criam vida. Descubra agora