Capítulo 6

1.2K 142 169
                                    

Quando o dia seguinte nasceu, Alfonso foi mais uma vez a estação e pegou o trem do mesmo horário, disposto a se apresentar devidamente àquela mulher que estava lhe tirando o sono. Olharia novamente para aqueles intensos olhos azuis e insistiria novamente para sentar-se ao lugar vazio a sua frente. Poderia não dar certo, mas faria isso todos os dias se necessário, mas desvendaria aquele mistério que lhe rodeava, e acabaria com aquela imensa vontade que sentia de estar com ela.

Mas, Alfonso não esperava não encontrá-la no trem naquela manhã. Sentiu-se terrivelmente desapontado quando percebeu que ela não estava lá naquele dia, e que não a veria. Quando chegou a agitada Nova York, andou pelas mesmas ruas que ela, foi até a loja em que a viu entrar nas duas vezes em que a seguiu, e não a encontrou. Voltou a Tarrytown no mesmo trem em que ela costumava voltar, e nada. Alfonso chegou a casa desanimado, confuso com a bagunça que estava sua cabeça naquele momento.

Josh: Você chegou finalmente. –disse ao entrar na sala de casa e o vendo- Como foi a viagem? Achou sua donzela?

Alfonso: Sem ironias, Josh. –disse meio irritado, indo até o bar e servindo-se-

Josh: E então? –insistiu, segurando o riso-

Alfonso: Não a encontrei, ela não foi. –disse pensativo, bebendo um gole de sua bebida-

Josh: Você não tinha garantia nenhuma que ela iria. –falou, sentando no sofá a frente dele-

Alfonso: Não faz sentido, o vendedor disse que ela ia lá todos os dias. Por que uma mulher pega um trem todos os dias para ir a outra cidade? Por que, Josh? –se questionou- Ela parece ser tão... –ele não soube completar a própria frase- O olhar dela, Josh, o olhar diz tanta coisa e nada ao mesmo tempo.

Josh: Deus, você está ficando louco. –disse com um riso- Calma, ela pode ter tido um problema e não pôde ir hoje. Pode ter acontecido algo.

Alfonso: Sim. –assentiu, bebendo o uísque em seu copo- Mas amanhã eu vou novamente, eu vou achá-la, pode anotar.

Josh: Essa mulher está deixando você neurótico. –ele ria do primo- Espero que a encontre, e quando finalmente a encontrar, acabe com essa obsessão e foque no que veio fazer aqui. Encontrar uma noiva.

Alfonso ficou calado, sozinho com seus pensamentos, sabendo bem no fundo, que aquela não era uma simples obsessão. Ele gostava sim de desafios, gostava de desvendar mistérios, mas algo dentro de si o dizia que aquele estava longe de ser apenas mais um desafio que ele ia atrás.

Ele cresceu com o título de conde pesando muito em seus ombros, tendo que fazer tudo o que as pessoas diziam, andar sempre na linha, e nunca se envolver em escândalos. Sempre seguiu os conselhos dos pais, em se tornar um homem digno, honrado, proteger sua família e seu povo acima de tudo.

Boa parte da família Herrera era da realeza. Albert, pai de Alfonso tinha o título de duque e conde da família real inglesa, quando Alfonso nasceu, herdou para si o titulo de conde do pai. Sendo então filho único, tinha sobre si o olhar de todos. Mas Alfonso sempre teve um coração livre, não gostava de se prender a títulos, gostava de sair com os amigos, viajar, conhecer lugares e pessoas diferentes. Gostava de estar com os pés na terra, e gostava de estudar. Foi o primeiro da família a ir para uma universidade fora do seu país, fugindo da pressão dos pais sobre casamento.

Ele queria se casar, ter filhos e uma família, mas achava que o tempo ainda não havia chegado quando Albert e Ruth o chamou para essa conversa. Foi então que decidiu ir estudar, e quando voltasse, realizaria o desejo dos pais. E agora lá estava ele, em busca de uma noiva pela América, pois seria vantajoso para os dois países, mas Alfonso não tinha a menor ideia de como encontraria essa esposa.

Além do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora