Além do Tempo

Capítulo 37

Os dois não podiam saber o que se passavam na cabeça um do outro, sem sequer imaginar que seria a mesma coisa. Aquela confusão toda que estavam sentindo com um beijo, os olhos que não conseguiam se deixar, e a necessidade de estarem perto um do outro. Qualquer coisa que fosse falada em voz alta, seria tratada como completa loucura.

Quando recuperaram o fôlego, os dois avançaram novamente para mais um beijo, intrigados, mas completamente viciados naquela sensação. Era como suas almas fossem ao céu e voltassem em alguns breves segundos, enquanto seus corpos se deliciavam no sabor dos lábios um do outro. Até que se soltaram, ouvindo novamente o som que tocava ao redor deles que pareceu sumir enquanto se beijavam, podendo agora ouvir as vozes das pessoas conversando alto pelo bar.

Anahí o encarou uma última vez e sorriu, levou as mãos sedutoramente por seu peito e passando pela camisa cinza que ele usava - Alfonso deixara o terno na mesa e estava apenas com a camisa de dentro e a gravata -, desceu as mãos novamente, se deliciando por sentir seus músculos através da camisa e chegou até a calça, colocando algo dentro do bolso dele, afastando-se em seguida e indo de volta para a sua mesa, deixando Alfonso ali, perturbado e sem ação.

Maite: Anahí onde você estava? –perguntou assim que viu a amiga voltar a mesa-

Anahí: Estava resolvendo um assunto. –respondeu com um sorriso nos lábios, recebendo o olhar desconfiado de Ginnifer e Josh ao mesmo tempo-

Josh: Esse assunto borrou seu batom. –provocou, fazendo-a passar a mão nos lábios, que não estavam borrados, fazendo o outro gargalhar-

Anahí: Idiota. –xingou, vendo que Ginnifer não parava de olhá-la e por isso tratou de desviar o olhar da irmã, porque só ela e Maite conseguiam lê-la do avesso-

Anahí voltou a beber sua cerveja, fingindo que estava tudo bem, mas estava um verdadeiro furacão em sua cabeça. Ainda podia sentir em seus lábios o toque do beijo, a revolta de seu corpo quando o deixou, mas teve que deixá-lo. Ela era dona de si, quis beijá-lo, porque estranhamente não deixara de pensar nele desde que o vira pela primeira vez, fizera tudo o que podia naquele momento, e agora tinha que deixar com que ele agisse.

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Alfonso crescera sua vida toda em Vancouver, no Canadá, onde nascera. Cresceu como filho e irmão mais velho de suas duas irmãs, Amanda e Laura. Seus pais sempre foram amorosos e presentes e ele foi criado em um ambiente familiar unido e saudável. Suas irmãs, para seu desgosto total casaram-se cedo, dando a ele sobrinhos adoráveis. Alfonso se formou, e ainda na faculdade conhecera Diana, pelo qual se apaixonou. Entusiasmados demais após a faculdade, se casaram, achando que seriam o amor da vida um do outro. Mas o que sentiam não foi forte o suficiente para suportar a tragédia que os abateu após três anos de casados. E após isso, Alfonso resolveu seguir seu coração e arriscar tudo para fazer o que sempre quis, se mudar para Nova York.

Após o divorcio, ele deixou tudo para trás. Se despediu dos pais, das irmãs, dos seus cunhados e de seus sobrinhos. Fechou seu escritório que com muita luta conseguiu abrir, deixou seus amigos, sua família, seu apartamento, sua vida e suas lembranças. Deixou tudo para arriscar uma vida em uma das cidades mais populosas de um país diferente do seu. Ele não sabia o que o esperava lá, ele apenas sabia que tinha que ir.

Quando chegou a Nova York, as coisas não foram exatamente como ele imaginou. Alfonso sonhava conseguir um emprego em um bom escritório, trabalhar até montar o seu próprio, mas não fora o que conseguiu. O dinheiro que juntara com a venda do seu escritório em Vancouver, seu carro e seu apartamento mal deu para que ele se estabilizasse. Conseguira um bom lugar para morar no Brooklyn, tentara arduamente um emprego antes que o dinheiro começasse a diminuir, mas não conseguira. A opção de voltar para o Canadá não passava por sua cabeça depois de tudo o que ele teve que fazer para deixar sua casa. Seu pai era seu maior apoiador em tudo desde sempre, tinham uma relação de amigos, e sabia que o apoiaria para que voltasse se soubesse que não conseguira nada depois de dois meses instalado nos Estados Unidos.