Capítulo 12

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Anahí estava distante, não tão distante como queria, mas estava em um lugar em que ninguém poderia lhe achar. Gostaria de poder fugir realmente, ir para um lugar onde ninguém a conhecesse, libertar-se de seu passado, da herança e do fardo deixado por seu falecido marido, do seu luto eterno e de todas as responsabilidades que ele lhe deixara.

Deitada embaixo de uma arvore em um campo distante da mansão onde ninguém passava por ali, ela queria poder se libertar de tudo, usar um vestido azul e ter seus cabelos soltos novamente. Gostaria de ser uma adolescente outra vez que sonhava com um romance, com um amor igual aos tantos livros que já lera. Ou pelo menos ter a ilusão de que apaixonar-se era uma coisa boa, como nos livros e totalmente diferente do que ela viveu. Queria poder ir a um lugar onde ninguém a conhecia e poder ser uma mulher qualquer, sem ninguém a julgando, sem ninguém olhando-a de forma grosseira, queria apenas ser alguém.

Lera a carta que Maite lhe enviou várias vezes, focando na frase que dizia "... Papai morreu esta noite...", sentindo um misto de sensações que ela nem conseguia identificar. Não chorara, não conseguiu. Afastou-se de todos para ficar sozinha, achando que choraria e não queria que ninguém lhe visse tão fragilizada. Mas ao invés de chorar, deitou-se na grama e sonhou com uma vida impossível.

Lembrou-se do pai, e do que ele lhe causou.

A mágoa que sentia por tudo que havia lhe acontecido estava sempre em seu peito. Thomas foi o maior responsável por suas dores, mas ela não conseguia aceitar o fato de que seu próprio pai havia lhe vendido àquele homem, que ela lhe pediu ajuda, lhe pediu socorro quando achou que não aguantaria mais, e ele não a ajudou.

No entanto, ela aguentou, criou dentro de si uma força que nem sabia que tinha e aguentou firme todas as ofensas, todos os machucados, e todo o sangue que lhe foi derramado. Mas com isso, esqueceu-se de que um dia teve um pai, esqueceu-se do pai que nunca lhe deu carinho, de um pai que sempre lhe criticou, que de certa forma lhe tirou a vida, pois aquilo que vivia hoje, não sabia o que era.

Tudo veio à tona ali, deitada naquele enorme gramado, sentindo o peito rugir, ofegar, lembrando-se de tudo. Sequer sentia a morte do pai, pois para ela, ele já havia morrido há muito tempo. Sentia por Maite, que ainda nutria carinho por Alexandre, mas como poderia ser diferente? Se Maite conheceu um pai totalmente diferente do que ela conheceu, Maite foi entregue a um homem bom, honrado, enquanto ela foi dada a um monstro.

Ali ela sentiu o primeiro pingo de chuva cair sobre seu rosto, e pensou que talvez fosse Deus mostrando a ela que deveria chorar pela morte de seu pai. Mas como poderia? Tudo o que sentia naquele momento era uma enorme angustia, lembrando-se de seu pai e automaticamente, de Thomas e de todos os anos sofridos, em que quase morreu nas mãos do marido.

A morte de Alexandre marcava algo para ela, marcava que não haveria mais ninguém naquela terra que lhe faria mal, ela não permitiria mais. O ultimo homem que lhe fez sofrer, se foi para sempre. 

Alfonso ofegava sobre seu cavalo enquanto já havia percorrido por quase toda a propriedade, sem encontrá-la. Já estava prestes a voltar para a mansão, quando a avistou ainda de longe, seu longo vestido negro sobre a grama, embaixo de uma árvore.

Primeiro ele achou que ela estava desacordada, que talvez tivesse desmaiado, e isso o apavorou, mas ao se aproximar, ele pôde ver pequenos movimentos, mostrando que ela estava bem. O som do galope fez Anahí assustada sair de seus pensamentos, e ela se levantou imediatamente, reconhecendo em seguida quem era.

Se recompôs em breves segundos, enquanto ele ainda se aproximava, saltando do cavalo ainda um pouco distante e caminhando até ela.

Anahí: O que está fazendo aqui? –disse de pronto, assim que ele estava perto o suficiente para ouvi-la-

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