Prólogo

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1870.

— ANAHÍ! -o grito soou pelo vasto jardim, fazendo Anahí se assustar, passando as mãos sujas de terra pelo vestido, sabendo que aquilo com certeza lhe traria sérios problemas-

Ela então se levantou às pressas da grama onde estava, olhando para as rosas vermelhas com que mexia e sorriu, orgulhosa do trabalho feito. Em breve seu jardim seria o mais belo de toda a região. Porque mesmo que seu pai não gostasse que ela mexesse com as flores, ela não podia ir contra sua maior paixão.

Mas então, ela correu, sentindo o vento bater em seu rosto travesso, os cabelos de um tom castanho claro voavam brilhosos e soltos pelo ar e por seu rosto. Anahí, no auge dos seus dezessete anos, era a luz em pessoa. Era uma garota encantadora, gentil e de uma beleza deslumbrante. Morava em uma grande casa na bonita Tarrytown, localizada no estado de Nova York, com seu pai e sua irmã mais nova, Maite. Sua mãe morrera quando ainda era uma criança, após pegar um vírus cruel da época, que matou milhões de pessoas numa epidemia.

Contudo, ela era feliz. Gostava das coisas simples, gostava de conversar com a irmã por horas sobre banalidades, gostava de ler escondida os romances que restaram na biblioteca de seu pai, gostava de mexer secretamente no seu jardim, amava as flores, todas elas, gostava de ver o pôr do sol, e gostava de sonhar acordada junto com Maite, sobre o dia em que finalmente seu pai encontraria o marido ideal para elas, e então acontecer o tão sonhado matrimônio.

Eva: Onde você estava menina? -falou vendo Anahí entrar pela cozinha. Eva era a senhora que cuidava da casa e consequentemente das irmãs, desde que nasceram- Seu pai está chamando por você faz horas! -disse preocupada, passando a mão pelo longo vestido azul que Anahí usava, tentando limpa-lo- Deus, olhe só você, está toda suja!

Anahí: Papai nem vai reparar nisso, Evinha. -falou risonha- As rosas que plantei semana passada estão começando a florir, teremos o jardim mais lindo do estado de Nova York! -disse animada, o rosto corado do sol e pelo esforço da corrida que tomou. O vestido pesava demais às vezes-

Eva: Vamos, vá logo antes que ele venha atrás de você e descubra onde estava. -mandou- Maite já está descendo também.

Anahí correu até a sala de estar, onde seu pai a esperava. Quando chegou lá, Maite já a aguardava de pé próximo a poltrona do pai. Silenciosamente, Anahí se posicionou ao lado da irmã, às costas do pai, que se servia de uma bebida em seu pequeno bar particular. Maite arregalou os olhos ao ver a irmã, o rosto ainda corado, os cabelos desalinhados e o vestido sujo de terra, diferente dela que estava impecável.

Alexandre: Finalmente! -falou ao se virar pra elas, o copo de uísque na mão- Onde estavam? -falou se aproximando, observando-as-

Maite: Estávamos no quarto papai, lendo. -respondeu, a voz doce como sempre era, tentando salvar a irmã-

Alexandre: Você até poderia estar, mas essa aí... -ele então olhou pra Anahí dos pés a cabeça, vendo seu estado deplorável- Eu não já falei que não quero ver você como uma criada? Mexendo na terra...

Anahí: Papai, não há nada de mal nisso, eu gosto de mexer com as flores. -o interrompeu, tentando se defender-

Alexandre: Não me faça perder a cabeça e acabar com aquele jardim. -falou sentando-se na poltrona- Não sei pra quem você puxou, sua mãe jamais foi dessa forma. -disse dando mais uma olhada nela, vendo o pouco que aparecia das botas da filha sujas de lama, o vestido ainda com vestígios de terra-

Anahí suspirou abaixando o rosto e olhando para as mãos juntas na frente do corpo. Alexandre nunca fora um pai carinhoso, gostava que as filhas andassem sempre bem vestidas, comportadas e nunca mal faladas. Era por isso que seu relacionamento com Maite era sempre melhor do que com Anahí, que fazia exatamente tudo ao contrário do que o pai prezava. Gostava de correr por lindos campos verdejantes, sentir o sol e o vento no rosto, ir até o rio e molhar os pés, observar os diversos tipos de flores diferentes nos jardins dos vizinhos, gostava de se meter na cozinha e ver Eva cozinhando, provando cada delícia que a senhora fazia. Diferentemente da irmã, que gostava de ficar horas e horas lendo livros em seu quarto, Maite gostava do silêncio, do luar... E talvez, por serem tão diferentes, eram como unha e carne, o coração uma da outra.

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