Capítulo 13

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Meus olhos remelentos se abrem com dificuldade. Demoro a reconhecer o meu quarto, tão bagunçado quanto meus pensamentos.
Me vem um bocejo repentino.
Quando meus lábios se encontram novamente, tento me lembrar que dia é hoje, e rezo para não estar atrasada para a escola.
Observei Miles, ao lado de minha cama, abrir seus olhos enquanto suas orelhas ficam eretas, indicando que ele teria percebido meu despertar.
Imediatamente o vejo escalar a cama e me dar uma lambida generosa nas bochechas, certamente inchadas.

– Bom dia, Miles. – um sorriso inconsciente se forma em meus lábios ressecados.
Incrível como seus olhinhos castanhos brilhavam ao me encarar, como se quisessem me dizer que eu estava sobre sua proteção, um devotado de corpo e alma, e possivelmente permaneceria até a morte.
Passei a mão em sua cabeça e senti seu pelo diminuto e macio. Ele pareceu entender que eu estava ali, que não precisava toda aquela euforia, que estava tudo bem.
É admirável como apenas com simples ações, dar comida, carinho, lar, ele ficara contente. Vi sua felicidade apenas por eu ter acordado e não consigo dosar sua genuinidade.

Um outro bocejo me faz esticar a mandíbula, acompanhado de um peso repentino na cabeça.
Enquanto esperei a determinação para levantar chegar, tentei me lembrar de informações.
O que aconteceu?
Que dia é hoje?
Estou atrasada?

Quem eu esperava não deu as caras, então resolvi levantar mesmo assim.
Deixei soar um leve gemido por ter a sensação de que o peso do meu corpo fosse maior que minha força, e começo a questionar.
Meus olhos correm lentamente para a mesinha de cabeceira, onde tive noção da fonte do meu desânimo, quando olhei o calendário.
Pensar é um ato de existência, e justamente por isso que aos domingos sinto uma espécie de morte.
Não que seja um dia que minha mente fica vazia, impensável, pelo contrário, eles surgem como flashes de câmeras aos olhos dos desacostumados; seus olhos insistem em cerrar-se, embora se esforce em se manter abertos. Se torna difícil se concentrar em sorrir para os holofotes e ao mesmo tempo garantir que eles pensem que você está ali. Mas não. E essa linha se torna fina para alternar entre onde estou e onde minha alma está.

Levei a mão direta em encontro com o celular quase alinhado na mesinha ao lado da cama. Sua tela indicava oito e vinte e quatro da manhã.

Miles acompanha meus passos lentos durante todo o trajeto até a cozinha.
Ao final do corredor, avistei minha mãe tomando seu café, que já posso começar a sentir o aroma delicioso. Tia Dora, ao seu lado, estava a ler um jornal local. Acho que essa é a única cidade que ainda escreve jornal, embora sempre com matérias relacionadas a grandes cidades vizinhas.
Mamãe é a primeira a notar minha presença.

– Olha só quem levantou... – levou a xicara em encontro com os lábios – Bom dia, Meg.

– Bom dia. – tentei dizer em um tom meigo, mas a voz ainda rouca me impediu.

Tia Dora mal me olhou, e já se voltou ao seu jornal. Não me incomodei.
Em manhãs como essa eu gostaria de não ter que falar com ninguém, se eu tivesse essa opção.
Uma pena que todo aquele ser encantador que eu almejava ser há dois minutos, pareceu se instalar instantaneamente em titia, o que fez ela esticar seus lábios, indicando que logo iria dizer algo.

– Bom dia, Megan.

Fico surpresa por ela ter dito apenas isso. Estava esperando que ela criticasse meu cabelo, falasse mal de meus trajes da tarde anterior, e com esse fato, naturalmente diria algo sobre meu desleixo.

– Bom dia.

Agradeço aos doze músculos de minha boca por ter ao menos se esforçado em se esticar e me dar um semblante mais decente.

Finalmente me sento ao lado de mamãe e a mesma se encarrega de pegar a xícara ao seu lado para mim.
Com apenas um gesto, mamãe me despertou milhões de pensamentos.
Notei as letras caligrafadas na caneca de porcelana.
"Feita especialmente para você" – meu pai disse ao me presentear com ela, em meu aniversário de treze anos. Com aquela escrita perfeita, quase pude acreditar, mas no fundo ele sabia que passava pela minha cabeça que ele havia comprado no Bairro Nobre, loja regional que vendia qualquer coisa. Mas ele também sabia que eu não me importava em ter algo especialmente feito para mim, que eu sempre valorizei bem mais as coisas vindas do coração.

O Preço do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora