Capítulo 02

109 26 10
                                    


Depois de limparmos toda aquela bagunça que Miles fez, mamãe e eu resolvemos conversar um pouco sobre as coisas que nos afligiam, ou apenas conversar sem motivos algum, enquanto preparávamos algo para comer.

– Você está mais decidida? – ela despejava uma mistura de especiarias em cima de alguns gomos de carne bovina.

– Acho que eu vou para escola amanhã – eu batia as gemas de dois ovos e ao mesmo tempo pensava em como seria voltar para escola.

– Para Canhight?

– Bom, eu queria ir para a Cauirton.

– Qual é o problema com a Canhight?

– Eu nunca gostei de lá. Não nos ajuda com a auto-motivação, só nos faz pensar que as pessoas são cruéis – fui amassando as batatas e colocando gotas de um molho que minha mãe gosta.

– E não são? – ela deu uma mexida no que preparava e me olhou.

– Como já dizia Anne Frank: "Apesar de tudo, eu ainda creio na bondade humana".

– Bem, pessoas ainda são cruéis, por mais que algumas ainda sejam boas, o ser humano ainda é capaz de coisas horríveis – mexeu na panela novamente.

– Eu sei. Enfim, voltando ao assunto, a Kathy disse que a Cauirton é demais – coloquei as batatas amassadas em uma vasilha.

– A Kathy está na Cauirton? Ela não estava na Canhight, junto com você? – por fim, desligou o fogo e tampou a panela. O aroma estava delicioso.

– Ela estava, mas saiu por causa dos pais. Ela saiu no começo do ano.

– Por isso você quer ir para lá? Por causa da Kathy?

– Eu não tenho amigos aqui, mãe.

– Megan, a Cauirton é muito mais longe. Você demoraria meia hora a mais para chegar lá – ela me olhou.

– É, mas eu estou no último ano. E eu já perdi algumas semanas, por conta do que aconteceu. Eu preciso de um bom ensino, um ensino que a Canhight não me oferece – fui até a geladeira e peguei uma garrafa de água.

– Eu percebi que suas notas caíram... Amanhã iremos fazer sua matrícula, tudo bem? – ela pegou um copo perto da pia e eu despejei água nele.

– Ultimamente a senhora está tão... Quer dizer, talvez eu não mereça tudo isso – eu peguei um copo e despejei um tanto d'água.

– Eu só acho que te apedrejar não irá resolver de nada. Talvez você erre muitas vezes, mas eu espero que com os seus erros você saiba fazer o certo – ela dava alguns goles na água.

– Obrigada, mãe. Vou acordar cedo amanhã.

– Por sorte, amanhã estarei de folga, talvez possamos fazer algo juntas depois de irmos até a Cauirton.

Eu sorri.

É bom demonstrarmos ao menos um resquício de humanidade e empatia pelos os outros. É bom não se sentir sozinho. É bom saber que os humanos ainda podem ser bons.

Nos sentamos e nos servimos.

Miles aguardava eu lhe dar um pedaço de algo.
Procurei no meu prato, que logo ficara vazio, e cortei um pedaço de carne e lhe dei.

– Acho que não deveria dar essas coisas que comemos para ele – mamãe disse, se levantando e levando seu prato até a pia.

Terminei de comer e ajudei mamãe com a louça.

– Que horas são? – perguntei, secando minhas mãos.

Ela olhou para o relógio em seu pulso, que papai lhe deu certa vez.

O Preço do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora