Capítulo 24

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Há dez minutos ele me deu uma aspirina sem eu ter pedido, mas que precisava mais do que qualquer coisa naquele momento, enquanto eu processava as informações – merdas – a meu respeito sobre a noite passada.

– Então, sua tarada, você costuma vomitar nos caras que você está afim? Isso funcionou alguma vez? – ele se mostrava orgulhoso da piada, mas confiante o suficiente para se manter sério.

– Me diz você. Funcionou? – provoquei, o olhando.

Senti o leve balançar da cama quando ele se aproximou de mim, como se pudesse tirar minha dor com mais eficiência que uma simples aspirina.

– Talvez. – deposita um beijo no canto da minha boca.

Senti falta disso. De perceber o fervor de meu sangue toda vez que ele se aproxima, colocando a mão quente por detrás do meu pescoço e o acariciando, me deixando a par de algo que eu não compreendia, mas que passei a gostar imediatamente.
Eu gostaria de ter dito algo marcante, mas quando seus lábios tocaram os meus, eu só consegui pensar em como os humanos não foram feitos para isso tudo, mas destinados a provar de seu próprio fogo. E eu aceito meu destino, especialmente se ele continuar me trazendo beijos tão gostosos e um corpo tão acolhedor.
Ele agarra minha coxa, tal calor ultrapassando a camada de tecido e me fazendo desejar a falta dela, mas sem força o suficiente para tirá-la. Porque eu queria aquilo, mas estava cansada. E ele sabia disso. Por isso, assim que tenho seus olhos verdes em mim, ele diz:

– A gente vai se atrasar se você continuar me beijando assim.

Eu sorrio, sem responder. Nada muito adequado me veio no momento, e admito que não fiz muito esforço.

– Tá, vai lá tomar um banho. – ele diz, se levantando da cama. – Vou me vestir e te levo.

O encarei, me ouvindo argumentar sobre não querer dar explicação às pessoas sobre o que está acontecendo entre nós caso nos vissem, principalmente se nessas pessoas, Anna estiver incluída.
Ele concordou, me deixando na dúvida se ele se importava com isso ou não. E um questionamento ecoava na minha cabeça, como um grito das profundezas: se o mundo estivesse acabando, você viria, não viria?

***

Tenho a terrível sensação de que todos podem ler meus pensamentos. Meus amigos me lançam olhares que me fazem refletir sobre minha real aparência, considerando minha passagem por uma ressaca que parecia ser mais forte do que eu. Eu podia sentir meu fígado pedir socorro, do mesmo modo que a minha cabeça pedia. Mas eu não podia fazer nada, e na verdade, eu estava agradecendo por não ser o meu coração.
Acompanho a conversa, sentada no mesmo banco de arquibancada, com as mesmas pessoas, sinto um conforto não sermos os mesmos; o tempo estava passando, e com ele, as dores também. É verdade que na maior parte do tempo eu não acreditava nisso, mas especialmente hoje sinto uma esperança sob o tempo assim como humanos acreditam que alcançarão a felicidade.

Ouço Tyler dizer sobre Ruby. Carrega aquele brilho nos olhos que todos conhecemos, e desejo que aquilo não venha a apagar seu sorriso toda vez que diz o nome dela. Suas palavras saem apressadas com assunto dos boatos que fizeram sobre ela nos últimos dias, e até nos compartilha sua teoria de que, por o pai de Ruby ser um policial, que consequentemente faz inimigos todos os dias, ela estar sendo o alvo. Concordei com ele quando disse isso, admitindo para mim mesma que fazia certo sentido, mas com medo de estar me levando junto com suas expectativas.

Anna também conta suas novidades e só agora percebo as suas olheiras fundas, achando graça do fato de enquanto faltava pouco para eu vomitar todos os meus órgãos, acontecerem tantas coisas além.
Meio abatida, ela conta sobre seu término com Charlie, noite passada. Olhei para Kathy nesse momento, e sim, ela na verdade parecia um pouco satisfeita. Anna começa a apresentar detalhes de uma traição descoberta por seus próprios olhos, para que não houvesse dúvidas, e me pego execrando aquele merdinha por ter a feito sofrer, mesmo que a verdade sempre estivesse em sua cara esse tempo todo.

O Preço do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora