Passei a mão em seu quadril, traçando os dedos entre o esbranquiçado das estrias, e se Deus escreve mesmo certo por linhas tortas, tudo o que quero é percorrer as linhas do seu corpo.
Você é cansaço e cafeína num único pulsar.Megan Summerlin
Acordei com o vento balançando a cortina preta trabalhada que adorna a janela acústica, desejando dormir mais e ao mesmo tempo agradecendo estar desperta para olhar Benjamin dormindo tranquilamente, sem parecer a mesma pessoa que transou comigo por horas.
Levantei com cuidado na tentativa de não acordá-lo, resgatando qualquer roupa do chão só para ter algo para cobrir o corpo.– Então é isso? – me viro bruscamente, sem esperar escutar sua voz atrás de mim. – Usa o meu corpo e depois sai de fininho?
Sorrio, caminhando até a cama para um bom dia mais apropriado sem citar o jeito que ele me acordou em um outro momento.
Aproveito minha proximidade da cama e pego meu celular em cima da mesinha de cabeceira. Benjamin espia o plano de fundo da tela de bloqueio enquanto me acomodo ao seu lado, voltando para o cobertor aconchegante.– Você nunca me disse porque escolheu um nome tão específico para um cachorro. – ele comenta, se referindo à foto de Miles na tela.
Seus dedos passeiam por minha pele debaixo da camiseta preta dele que eu estou vestindo.Ele faz com que eu volte para o dia que eu senti aquele pobre cachorro se esfregar em mim, de fazer com que eu o amasse imediatamente; me fazer lembrar de implorar para minha mãe deixar que eu ficasse com ele e de, juntamente com ela, escolher um nome que significasse alguma coisa.
– Hum, bom... na verdade, eu escolhi esse nome porque me lembra uma música que meu pai ouvia. – o sentimento quase me sufoca antes de eu procurar a música para mostrá-lo. – Miles Away. Do Winger.
Os dedos repousados em minha pele agora formam uma espécie de harmonia com o ritmo da música.
"Miles away,
No, you're never turnin' back,
I just can't wait anymore
Miles away,
Nothin' left of what we had,
Just when I needed you most
You were miles away..."– É boa. – diz, e posso sentir a sinceridade. Esfrega os olhos para afastar a sonolência. – Você sente muita falta dele?
Penso antes de responder.
– Não sei. – bocejo. – Digo, não sei se dá para sentir falta de algo que você não teve. Mas ao mesmo tempo, é justamente disso que eu sinto falta.
Seu olhar diz que eu não preciso dizer mais nada, porque ele entende o que quero dizer. Ele boceja também, e questiono o fato de um ato natural ser tão contagiante. Quando encaro seus olhos novamente, deixo que uma pergunta antiga se forme em meus lábios:
– Se você odeia tanto o seu pai, essa casa... por que você nunca foi embora daqui?
Não tenho certeza se ele vai responder, e a dúvida aumenta quando ele suspira, franzindo levemente a testa.
– Ah... sei lá. – o olhei profundamente, convencendo-o de que eu não me contentaria com uma resposta tão superficial. – É que... ele já fez tanto mal para minha mãe. Para mim. E eu temo que ele faça algo com a Emma, ou até mesmo com a Anna. Eu me sinto responsável pela proteção delas. Não sei, sempre que eu pensava em sair dessa casa, eu me lembrava delas.
Aproximo meu rosto do dele, o beijando.
Não sei por qual motivo, e nem sei se sequer existe um, mas gostei do jeito que ele falou aquilo.
Ele retribui carinhosamente, tentando acabar com os espaços que nos separavam.
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O Preço do Alvorecer
أدب المراهقينEssa história se inicia quando a vida de alguém termina. Com tantos acontecimentos trágicos, Megan se depara com mudanças dentro de si e em sua vida. Ela começa a lutar constantemente contra o seu transtorno de ansiedade, o mesmo no qual nunca a de...