Capítulo 21

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Descobri que não tenho o menor jeito de ser uma delinquente quando fui obrigada pela minha própria consciência a ligar para minha mãe, dizendo que não precisava me buscar. Ela apenas disse "tudo bem", o que me levou a pensar que ela sequer havia saído de casa.
Naquele momento não me importei com isso, mas sabia que esse pensamento viria a tona em algum momento, porque, por mais que eu tente, não posso evitar ser essa pessoa.

– Sorte sua estar acompanhada da pessoa mais exemplar da cidade. Deveria ter dito isso. – Benjamin disse, assim que encerrei a chamada.

– Exemplo do quê? – brinquei. Ele me lançou seu olhar parado.

– Doeu. – disse, acariciando o peito, na tentativa de dramatizar a situação.

Me senti confiante para aumentar o som. Os acordes Seven Nation Army gradativamente invadiam meus ouvidos.

– Você tem um gosto musical preocupante. – eu disse, prestando atenção na letra da música, o tirando daquele lugar. Ele me olhou.

– E quem diz isso é a garota que, uma hora diz que humanos são inteligentes, e na outra diz que eles são lamentáveis. Qual o seu problema com, hum, sua própria espécie?

– Boa pergunta, na verdade.

– Estou esperando uma boa resposta. – voltou-se ao volante em sua frente, que segurava com as duas mãos. Era uma via perigosa, pelo movimento. Ele movimentava o freio de mão certas vezes, e eu me esforçava para captar tudo que podia, e que suas ações fizessem sentido na minha cabeça. Queria aprender, e por consequência, sinto que acabo parecendo um garoto que está assistindo pornô pela primeira vez; olhinhos atentos para aprender tudo.

– Só posso dizer que sou, ahn, rendida pelas minhas emoções. Gosto de ter várias visões sobre algum assunto. Eu digo muitas coisas, mas odeio formar opinião sobre elas. Me parece se limitar a um pensamento, se limitar a algo que não é seu.

Ele pensou. Agora estava tocando Do I Wanna Know, e deixei que meu corpo falasse por mim o quanto eu gostava dessa música, aproveitando o fato de nunca ser boa em falar de mim.

– Faz sentido.

– O quê? – provoquei. – Ai, meu Deus, é isso mesmo? Benjamin Parker está concordando comigo?

Ele riu, balançando a cabeça.

– Eu não disse isso. Disse que fazia sentido. Do mesmo jeito que faz sentido a terra ser plana. – não se atreveu a olhar para mim, talvez por razões óbvias de saber que está errado ou equívoco de pensar estar certo.

– OK. Talvez não seja hoje, mas sei que você ainda vai admitir que estou certa.

– Quem está sendo a convencida agora?

Eu ri.

Talvez pela distração que seu sorriso acaba me causando, ou por simplesmente eu não estar preocupada na estrada, porque isso significa ir embora, e eu não tenho certeza se quero isso, mas não percebi que aquela não era de longe a estrada para minha casa. E agora que percebi isso, me sinto patética, porque chega a ser ridículo de tão óbvio, já que eu estaria há um tempo em casa.

– Esse não é o caminho para minha casa. – disse, embora fosse inútil, porque ele com certeza já sabia disso e não se importava.

– Você é rápida. Parabéns. – ele riu.

Deixei que o banco me sugasse – não que eu tivesse tido muito sucesso, já que o cinto não me ajudou muito a relaxar – enquanto tentei esconder meu rosto quente e, com certeza, vermelho. Percebi que muitas coisas estão fora do meu controle hoje, e isso me preocupa. Fingi não ver que ele me olhava, rindo. Gostaria de ver o que você vê, Benjamin, seja lá qual seja a razão do seu riso tão encantador.

O Preço do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora