Capítulo 04

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Ao notarem minha presença na sala junto a elas, engoli a seco e caminhei até a geladeira envergonhada. Estava esperando tia Dora me repreender.

– Oi, Meg... Não sabíamos que estava aí – mamãe disse, levando a xícara de cor branca a boca e tomando seu líquido.
Peguei um copo perto da pia e levei até a garrafa com água.

– Eu cheguei agora, só estou com sede – despejei o líquido transparente no copo desenhado com alguns personagens de desenhos animados que eu costumava assistir quando criança.

Não sei o porquê, mas por algum motivo, elas mudaram totalmente de assunto.

– Como anda o trabalho, Bethy? – titia perguntou, fazendo com que mamãe suspirasse fundo.

– Nada especial. É sempre a mesma coisa –  mamãe começou a brincar com os dedos, o que fez com que minha atenção fosse para o relógio em seu pulso.

– Que horas são? – perguntei, fazendo com que sua atenção fosse para o relógio.

– Duas e trinta e sete – ela continuava sentada no sofá, quando olhei para titia e percebi que ela estava pronta para comentar algo.

– Eu preciso contar algo a vocês –  imediatamente imaginei possíveis coisas que poderiam ter acontecido. Olhei assustada para ela e aguardei uma resposta.

– O que aconteceu, Dorothea? – mamãe, como eu, deveras já imaginava o pior.

– Eu preciso passar algum tempo morando com vocês – ela dava a entender que precisava muito de nossa ajuda. Eu respirei aliviada por não ser algo tão grave, quer dizer, se não for levar em conta de que ter a tia Dora por perto, porque tudo isso acaba se tornando algo bem perturbador.

– Isso não é bem um problema, você é parte da família, não a deixaríamos à deriva – A voz de mamãe soou calma e acolhedora, mesmo eu sabendo que no fundo ela não deve ter ficado tão contente.

– É, a minha mãe tem razão.

Titia encheu os olhos de lágrimas e logo as vi deslizar pelo seu rosto. Ela levantou-se do sofá e foi em direção de mamãe para abraça-la.
– Obrigada, Lissie – Tia Dora dizia entre os cabelos de mamãe.

Quando desfizeram o abraço, aparentemente acolhedor, as duas sentaram-se no sofá novamente, uma ao lado da outra.

Começaram a conversar sobre assuntos aleatórios e eu senti que estava sobrando ali, em pé, na sala.
Então levei o copo d'água a boca, e o terminei por completo em um só gole.

Comecei a caminhar até o quarto novamente e no caminho, mais precisamente no corredor, Miles se encontrava deitado perto da porta do meu quarto.
Fiz um barulho com a boca, fazendo com que ele entrasse junto a mim no quarto.

Quando entrei, reparei na bagunça que o cômodo se encontrava, e até me assustei comigo mesma em deixar meu aposento tão desorganizado, já que eu odeio desordem.
Mas não me incomodo de deixá-lo desta maneira, já que tenho outras prioridades.
Sentei-me em uma cadeira na escrivaninha e simplesmente deixei meus pensamentos guiarem o meu rumo.

Por um reflexo, observei Miles subindo em cima da minha cama, tudo bem que ele não pode ser o cão mais limpo do mundo, mas desde que não deixe meus cobertores encharcados de urina, ele pode ficar lá por um tempo.

Olho no relógio de parede bem a frente da minha cama.
Sinto que as horas não passam.

Reparei em uma gaveta, no inferior da mesinha. A abri e fiquei surpresa com o que me deparei, já que não me lembrava mais daquelas coisas.

O Preço do AlvorecerOnde histórias criam vida. Descubra agora