Capítulo 14

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Benjamin Parker

Observo as canetas serem movimentadas por mãos certamente de um ser nervoso por ter que escrever algo qualquer sobre a aula de filosofia. A maioria reprova senhora Conelly, e não se importa em esconder isso. E eu os reprovo por isso. Por detestarem algo que serve para os fazer pensar.
Todos estavam se fodendo para aquilo tudo.
Mas ela não.
Ela estava concentrada. Mal piscava.
Sua caneta esferográfica de tinta azul mexia freneticamente. Gostaria de ler o que ela escreve de um jeito tão impulsivo.
Seus lábios medianos estavam unidos em um quase imperceptível bico, mostrando sua abstração.
É interessante observar ela. Vem sendo meu passatempo.
Acredito que ela não saiba que meus olhos a fixam de tal maneira.
Ao som do silêncio da sala, enquanto ela fazia pequenas pausas para pensar talvez em um termo correto para usar, parece até que segundas-feiras não são tão ruins depois de certo tempo de crise.
Tem se intensificado.
Se tornado cada vez mais constante.
Só vem, seguido de dor e destruição. Mas há sua parte boa. Se eu ainda tiver 365 partes "intactas", ao final de um ano, no dia 366, não vai doer. Porque não vai ter o que destruir. Game over. Há quem diga que não sou positivo.

Me volto a olhá-la, novamente.
Eu deveria provocar um debate daqueles de novo.
Mas não.
Porque isso me faz lembrar de tê-la em meu quarto.
De bafejar contra seu ouvido e perceber um invasivo arrepio. De como ela parecia nervosa e calma ao meu lado, sim, ao mesmo tempo.
Talvez eu esteja sendo otimista demais em pensar que ela poderia se interessar por mim, mas não posso evitar, porque quando eu olho para as garotas dessa sala, me lembro o quão fácil foi as provar, e isso aumentou o minha autoestima. Me fez confiar demais. Chega ser chato o quanto é fácil.

Venho tentando decifrar essa garota.
Venho tendo delírios, imaginando seu sabor.
Ela parece ser mais que isso. Só sabor.
Só que eu sou exatamente o que pareço ser.
Degustação.
Uma estrela cadente.
Ela parece querer a constelação inteira.

– Benjamin? Não estou vendo você escrever. Eu quero isso para hoje. – chega ser engraçado como a voz de Conelly sempre soa estressada. Aposto que ela odeia esse emprego. Ter que ensinar a jovens zumbis a usar o cérebro.

– Sabe, professora, nunca ouviu falar que precisamos cortejar a insanidade? Estou tentando recuperar o equilíbrio das palavras. – apostei na dedução que ela entenderia a que eu estava me referindo, enquanto deixei mostrar um sorriso sutil.
Megan leva seu olhar para mim. A distância entre duas fileiras de carteiras não me impedem de apreciar seus olhos âmbar.

– Você deveria usar essa inteligência no que eu te pedi. – ela começa a analisar os papéis em sua mesa.

– Você deveria canalizar esse mal humor na ioga. – por um reflexo vejo Summerlin levantar. Em suas mãos estava o caderno que ela ocupava pelas palavras.
Não demorou para que ela chegasse na mesa de Conelly. Mostrou o caderno para a mulher que logo pôs seus óculos com armação vermelha de plástico. Começou a consumir da escrita da garota. Pareceu satisfeita, pelo sorriso que deu. Olhou para Megan e balançou a cabeça.

Diante dos meus olhos a garota agiu para eu me sentir patético.
Ela está tentando invadir.
Isto virou uma questão de guerra.
Ela não pode fazer isso.
Deve ser bom sentir o gostinho de sucesso em seu plano de mostrar que é melhor.
A vejo se dirigir à sua cadeira.
É até engraçado.
Ela deve pensar que é melhor que eu, por apenas ter feito algo simples.
Ela acha que sabe de algo.

O som azucrinante da peça batendo constantemente contra o artefato de alumínio soa por toda sala, quebrando totalmente o silêncio. Os zumbis estão de volta a vida. Eles correm para a saída como lobos atrás de suas caças.
É compreensível o desespero quando encontra dezenas de camisinhas jogadas por qualquer canto longe dos olhos da diretora. Deve ser difícil lutar para esse momento. Que mundo injusto, não?
Trouxas.

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