Capítulo 17

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Tive vontade de apertar aqueles braços que me envolvia simplesmente pelo fato de evidenciara que, ainda que desse muita atenção para o quesito físico, ele não era louco por anabolizantes e treinos acadêmicos, como, confesso, cheguei a pensar que era.
Antes que perdesse o controle por sentir seus músculos tão perto, decidi me afastar de seu corpo levemente suado.
Enquanto me esforçava para focar em suas feições, (ato dificultoso pela proximidade extrema de nossos rostos) não pude deixar de sentir seu hálito quente, deixando claro que havia bebido muito nas últimas horas - talvez isso explique os cacos de vidro no chão, que ora brilhavam feitos diamantes ao entrar em contato com a luz do abajur.
Benjamin manteve seus olhos nos meus, e pude ver que algo nele esperava que eu desviasse, mas não o fiz. Não sei dizer por quanto tempo, mas sustentei meu olhar, ainda que minha visão oscilasse entre nitidez e desfoco, enquanto notava ele voltar de seu lugar inacessível; talvez em sua própria mente, em seu próprio mundo.
Senti o meu corpo mais vulnerável a cada batida de meu coração, que fazia meus ouvidos zumbirem. Ele ali, assistindo minha respiração se descontrolar, assim como cada parte do meu corpo, enquanto seu rosto não mostrava sinal nenhum de emoção.
Então, em uma súbita tentativa de afastar o nervosismo, mordi o lábio, e notei nossa inversão de papéis quando seu rosto demonstrou um sinal estremecido; sua respiração mais pesada, como se a tivesse prendendo há algum tempo. Seu maxilar ganhou tanta tensão que me fez, por um breve momento, desviar a atenção de minha luta interna. Apenas me encarou de tal maneira que se assemelhava com hipnotismo, até que balançou a cabeça, e me perguntei qual pensamento ele havia afastado.
– O que perguntaria se pudesse fazer apenas uma pergunta?
Por que não me beija logo? – pensei.

– Ah, não sei se deveria perguntar isso... mas, o que faz você se sentir... assim?

Assim? Você sabe como eu me sinto? – ganhou um tom cético. Tinha certeza que eu não sabia e ele realmente estava certo.

– Hum... não. eu só... imagino. Já vi coisa parecida. – enfim desviei o olhar. A única diferença entre nós é que ele sempre parece saber o que acontece comigo quando estou perto dele, da mesma maneira que ele pareceu saber por que eu fugi de seus olhos.

Parecida? – franziu o cenho de propósito, me desafiando. Cravei as unhas na minha pele, sem saber como responder. – Sabe, Megan, nunca te disseram que a curiosidade matou o gato?
Pensei em dizer "mas foi você que perguntou, não venha com grosserias", mas decidi brincar um pouco.

– Mas não a gata. – mesmo que eu não tivesse certeza de que ele estava brincando, senti uma pontada de arrependimento por ter dito isso. Ainda assim, ri, e admirei como ele continha até a maior das expressões.

– Você pode sair, por favor? – sua voz ganhara um tom ríspido, transformando aquela mesma pontada em algo bem maior, mais sufocante.

– Eu... eu não queria... desculpe se disse algo que...

– Nada com você. – interrompeu, sem o mínimo de sensibilidade. – E não quis parecer grosso... Eu só acho que preciso de um tempo agora. E... – deu uma pausa, ainda decidindo qual palavra usaria, ou até mesmo se ia dizer. – Obrigado. Mesmo.
Ainda estava tentando acreditar que ele tinha dito aquilo. Obrigado?

– Tudo bem, então. Caso precisar de mim...

– Boa noite, Megan. – disse, por fim, então soube que deveria mesmo sair. Sorri, tentando parecer compreensiva, ainda que me sentisse um pouco magoada por ser descartada com tanta insensibilidade.
Anuí, hesitante, sem saber ao certo se deveria insistir, mas desisti da ideia, já que não gostaria que fizessem isso comigo.

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